Novas descobertas sobre o Autismo pode aumentar a qualidade de vida de pacientes
Uma doença silenciosa que afeta o convívio social pode ter caminhos mais amenos segundo novas descobertas e a neuropediatra Fernanda Pena dá dicas de como os pais que desconfiam que seus filhos possam ter autismo de como proceder para melhorar a qualidade de vida e a socialização
atualizado
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Com quase 2 milhões de pessoas no Brasil com algum grau de autismo, segundo a Universidade de São Paulo (USP), o assunto tem ganhado repercussão graças a novas descobertas da neurociência.
O autismo é um distúrbio neurológico que afeta as regiões do córtex pré-frontal que é conhecido como a “área da socialização” e pode ser diagnosticado logo nos primeiros meses de vida.
De acordo com dados norte-americanos o autismo afeta 1 a cada 54 crianças que nascem e no Brasil, cerca 2 milhões de pessoas de acordo com dados da a Universidade de São Paulo (USP) e do CDC (Center of Deseases Control and Prevention) dos EUA.
O assunto tem ganhado repercussão graças a novas descobertas da neurociência e a mudança nos critérios diagnósticos.
Conhecido como Transtorno do Espectro Autista (TEA), o popularmente conhecido autismo trata-se de um transtorno do neurodesenvolvimento que envolve três características comuns e que devem estar presentes durante o diagnóstico, as quais demonstram grande variabilidade entre os indivíduos: prejuízo na interação social, na comunicação verbal e não verbal, e interesses restritos e comportamentos estereotipados com apresentação de precoce no desenvolvimento infantil.
“Ainda não se tem uma visão global da neuropatologia do autismo mas sabemos que ele afeta diversas regiões do cérebro. Entre as regiões afetadas temos lobo pré-frontal, responsável pelo comportamento social e as funções executivas.” – relata a Dra. Franciane Pena, Neuropediatra, Neurofisiologista Clinica e especialista no diagnóstico precoce do autismo em Conselheiro Lafaiete, Minas Gerais.
O lobo pré-frontal é o responsável pela regulação comportamental, diferenciando o ser humano dos outros animais, conhecido também como o “órgão da civilização”. Um dos casos mais fascinantes que marcou a descoberta dessa função cerebral foi de Phineas Gage (1848). Um jovem de 25 anos que teve parte do córtex pré-frontal removida por uma barra de ferro após a explosão de uma linha férrea nos Estados Unidos.
As mudanças comportamentais foram tão evidentes que as pessoas diziam que “Phineas não era mais Phineas”, pois de um excelente trabalhador de carreira promissora, após o acidente tornou-se um homem grosseiro, desrespeitoso, provocatico, desinibido e extremamente impulsivo. Após sua morte seu cérebro foi doado para estudo e o caso repercutiu e tem sido referencial de estudo por neurologistas, psicólogos e neurocientistas para justificar as partes “sociáveis” do cérebro.
Com as novas descobertas da neurociência para pacientes neurológicos, inclusive autismo, conhecida como neuroplasticidade, o cérebro humano após alguma lesão ou morte de tecido neuronal possui a capacidade de se reorganizar, de modificar sua estrutura em resposta aos estímulos que recebe do meio ambiente externo, o mesmo ocorre com áreas que não tiveram seu desenvolvimento pleno como no autismo.
É por essa razão que pacientes que sofreram um AVC conseguem se reabilitar e adquirir grande parte das funções perdidas, porque as áreas ao redor da lesão se reorganizam e assumem aquela função de acordo com os estímulos recebidos. É importante lembrar que quanto mais cedo a reabilitação ocorrer, melhores serão os resultados, relatou a especialista.
Apesar do termo ter sido utilizado pela primeira vez por William James em 1890, os neurocientistas apontam que quanto antes o diagnóstico, mais chances de mitigar os efeitos do TEA poderão ser percebidos, pois na fase infantil, é possível que o cérebro de uma criança que biologicamente detém cerca de 5 vezes mais neurônios que um adulto e o maior número de sinapses neurais (interligação entre neurônios), pode mitigar os efeitos de pacientes com Autismo, relata a especialista.
“É um novo horizonte para famílias que tem pessoas com autismo em seus lares”, diz entusiasmada a médica.
Apesar de já se obter resultados extremamente satisfatórios, a Dra. Franciane Pena reforça que o cérebro atinge a maturidade aos 25 anos, mas que descobertas recentes no campo da neurociência apontam que o cérebro nunca para de aprender, ajudando inclusive o tratamento de doenças que acometem principalmente os idosos.
“O estímulo do cérebro nunca pára. Antigamente uma ideia defasada era defendida no meio científico de que as pessoas tinham apenas uma quantidade de neurônios e que com o passar do tempo, ia se perdendo, mas a ciência evoluiu já é possível ver novas sinapses e criação de novas células neurológicas (neurônios), mesmo em pacientes de idade avançada. Um marco histórico para entendermos a nossa existência!” – Dra. Franciane Pena.