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O espaço das mulheres no mercado de trabalho está cada vez maior e mais consolidado no Brasil e no mundo, mesmo com a persistência de problemas como o assédio e a falta de igualdade salarial. A edição mais recente da pesquisa Women in Business, da multinacional britânica de consultoria Grant Thornton, aponta que o ano de 2021 teve crescimento na paridade de gênero no mercado.
Dos 29 países que participaram da pesquisa, 83% superaram a média global de cargos de liderança e gestão ocupados por mulheres em empresas e organizações, a qual alcançou 31% – aumento em relação ao relatório de 2020, quando a média global era de 29% e foi superada por 55% dos países. O Brasil está entre os que mais evoluíram nesse quesito: as brasileiras conquistaram mais 5% dos cargos de liderança nas empresas e agora são 39% do empresariado nacional, levando nosso país do oitavo para o terceiro lugar no ranking global da Women in Business.
Ainda sobre o Brasil, a mesma pesquisa mostrou que os cargos de liderança mais ocupados por mulheres são as diretorias Financeiras (CFO) e de Recursos Humanos, com índices de 43% cada. Eles são seguidos pelas diretorias de marketing (40%), CEO e direção geral ou executiva (36%), diretoria de Operações (COO, 28%) e diretoria de Vendas (25%). Os dados mostram que o espaço das mulheres está cada vez maior e mais firme no mercado de trabalho, que por sua parte não tem se furtado a acompanhar as evoluções da sociedade.
Para a administradora Janaína Machado Tavares, gerente do núcleo de empregabilidade Tiradentes Carreiras, do Grupo Tiradentes, isso acontece porque as mulheres vêm se destacando pelas suas qualidades socioemocionais, que vão muito além da simples capacidade técnica. “É impressionante como as mulheres são mais moldadas a prestarem mais atenção num ambiente, a entenderem um pouco mais os conflitos, a saber lidar melhor com situações difíceis, porque elas acabam sendo treinadas mais para o feminino. É a famosa intuição, que seria a leitura de um cenário, o entendimento das variáveis. E os homens ainda estão numa educação extremamente machista, muito mais cartesiana do que as mulheres”, afirmou.
Janaína acrescenta que essas habilidades colocam as mulheres em melhor vantagem para a escolha de líderes e gestores. “Essas mulheres são muito mais treinadas nas habilidades e competências socioemocionais. Para ser um bom líder, é necessário ter autoconhecimento, controle emocional e empatia. As mulheres estão estudando mais e se preparando para ocupar esses cargos e espaços dentro das empresas. Então, nós veremos cada vez mais as mulheres no poder ocupando espaços, não só nas empresas, mas também na política”, exortou ela.
A paridade entre gêneros também vem se fortalecendo nos bancos universitários, com uma presença maior de alunas e professoras nos campi em geral, bem como um tempo maior de estudo e escolaridade das mulheres em relação aos homens. A edição 2019 do Índice de Desenvolvimento de Gênero (IDG), divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), mostrou que as mulheres têm 15,8 anos esperados de escolaridade e a média de 8,1 anos de estudo, enquanto os homens possuem respectivamente 15 e 7,6 anos.
Salários
Este crescimento no mercado não se reflete nos salários. Um estudo da consultoria IDados sob a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que as mulheres ganharam em média 20,50% menos do que os homens no 4º trimestre de 2021, contra 19,70% a menos no final de 2020. Os salários médios de funcionários homens fechou o ano em R$ 2.601,25, enquanto o das mulheres foi de R$ 2.068,72. Os dados foram divulgados na última terça-feira pelo site de notícias G1. E outra pesquisa, a Global Gender Gap Report 2021, do Fórum Econômico Mundial, atesta que as mulheres ainda demorarão 267,6 anos para conseguir uma equiparação igualitária com o salário dos homens.
A gerente do Tiradentes Carreiras aponta a igualdade salarial de gênero como a grande reivindicação das mulheres nos dias de hoje. “O que a gente pede hoje no mercado de trabalho é uma igualdade salarial. Mas nós vamos cada vez mais tomar o mercado de trabalho e lutar por esses direitos. Se nós trabalhamos e produzimos igual a um parceiro, a um homem, por que não ganhar a mesma coisa? Também acho que essa é a grande questão ainda, mas que as mulheres vão tomar cada vez mais espaço, eu não tenho dúvida”, afirmou ela.
Sobrecarga
Tanto as líderes como as trabalhadoras precisam ainda superar o desafio de conciliar a carreira profissional com a vida pessoal e familiar, o que de acordo com a especialista, não se conseguiu devido à sobrecarga de responsabilidades que as mulheres enfrentam no trabalho, na organização da casa e na criação dos filhos. “A sobrecarga da mulher ainda é muito maior do que a do homem, e esse é um grande desafio. A mulher precisa de ajuda. Não adianta ela chegar apenas no cargo de liderança, ocupar os espaços nas empresas e estar esgotada, e chegar a um momento em que ela tem que optar, ou se sentir culpada por não dar tanta atenção ao lar, à casa, à família, etc.”, pontuou.
Janaína considera que o grande desafio é dividir igualmente as atividades caseiras com os companheiros, para que toda a família absorva as cargas hoje impostas à mulher. “Existe uma situação familiar da criação dos filhos ainda muito dedicada à mãe, ao feminino, e ela na verdade deveria ser aos dois”, afirma a gerente, sugerindo que todas as empresas adotem o período de licença-paternidade, similar à licença concedida às gestantes, ou permitam que os homens trabalhem em home office ou de forma híbrida quando os filhos ou as parceiras estão adoentadas. “O homem, o pai, precisa estar presente nesse desenvolvimento da criança e não ficar apenas essa sobrecarga para a mulher. Acho que a licença paternidade é necessária, importante para que os pais também assumam esse papel”, concluiu.
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