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Casos de estrabismo aumentam na pandemia

A pandemia de COVID-19 tem trazido algumas preocupações aos oftalmologistas, principalmente em relação às consequências do uso excessivo de telas, que além de piorar a progressão de casos de miopia, pode também causar estrabismo.

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Com o isolamento social devido à pandemia do coronavírus, todos estão cada vez mais expostos aos eletrônicos. E, sim, essa exposição excessiva a telas pode afetar a saúde visual, principalmente quando se trata de crianças e adolescentes.

 

Por que a exposição aos eletrônicos pode piorar a miopia?

Segundo a Dra. Dayane Issaho, oftalmopediatra e especialista em estrabismo pela UNIFESP e UT Southwestern, com doutorado e pós-doutorado em Oftalmologia, e membro da diretoria do Centro Brasileiro de Estrabismo, miopia, que é o erro refrativo que causa dificuldade de ver de longe, tem principalmente causa genética, mas sabe-se que há vários fatores ambientais e comportamentais que podem levar ao seu desenvolvimento.

Estudos mostram que o uso excessivo de eletrônicos e o esforço visual para perto é um dos principais fatores que leva a uma manifestação precoce e à progressão da miopia. Com as atividades externas restritas em função do isolamento social, a tecnologia se tornou uma das poucas alternativas de lazer dos pequenos. Além das aulas online, a comunicação com amigos e familiares e as brincadeiras ficaram restritas ao uso das telas.

O uso ilimitado de eletrônicos e a redução de atividades em ambientes externos são prejudiciais à visão. Quanto menor o tempo de exposição a eletrônicos e maior o tempo gasto em atividades ao ar livre, menor o risco de desenvolver e progredir a miopia. E as condições da quarentena não favorecem a saúde visual, principalmente de crianças, explica Issaho.

 

Quais as outras consequências do excesso de uso de eletrônicos?

O uso excessivo de telas pode repercutir na qualidade do sono, comprometer o desenvolvimento cognitivo das crianças, a habilidade de interação social, etc.

Do ponto de vista oftalmológico, além da piora dos casos de miopia, pode causar sintomas de cansaço visual, olho seco e até mesmo estrabismo.

 

Afinal, o que é estrabismo?

Cerca de 3 a 5% da população apresenta estrabismo, que é o desalinhamento causado por um desequilíbrio nas forças dos músculos oculares. Este desequilíbrio pode fazer com que os olhos desviem para dentro (convergente), para fora (divergente), um para cima e outro para baixo (vertical). 

 

Por que ocorreu um aumento de casos de estrabismo na pandemia?

Isso se deve a um maior tempo usando aparelhos eletrônicos. Pessoas que já tinham predisposição de desenvolver o estrabismo acabam descompensando o desvio devido ao hábito de olhar por muito tempo para perto, explica Dra. Dayane.

 

Como identificar o estrabismo?

Os principais sintomas são:

  • Desalinhamento dos olhos
  • Visão dupla (diplopia)
  • Fechar um dos olhos na claridade
  • Torcicolo

Diante desses sinais, um oftalmologista especialista em estrabismo deve ser procurado.

 

Quais os riscos do estrabismo na infância?

Quando surge na infância e não é tratado precocemente, existe o risco de a criança desenvolver o que chamamos de ambliopia ou visão preguiçosa. O fato de um dos olhinhos ficar desviando constantemente faz com que o cérebro das crianças abaixo de 8 anos entenda que há algo errado. Como um mecanismo de proteção para que a criança não tenha visão dupla, o cérebro que está em desenvolvimento começa a “borrar” a visão do olhinho torto, e a visão começa a ficar preguiçosa.

Por isso, assim que o desvio ocular aparece, o tratamento deve ser precoce para garantir um bom desenvolvimento visual, reforça a oftalmopediatra.

 

Como tratar o estrabismo?

Dra. Dayane Issaho explica que existem diversas opções de tratamento e que o desvio dos olhos pode ser corrigido em qualquer idade, mesmo em adultos. 

  • Tampão: ocluir um dos olhos não é para forçar a musculatura e sim para estimular a visão. Crianças com estrabismo apresentam um risco grande de desenvolver ambliopia. O tampão no olho bom por algumas horas todos os dias estimula a visão do olho que desvia.
  • Óculos: alguns tipos de desvio ocular podem ser tratados com o uso de óculos, são os chamados estrabismos acomodativos. O esforço por causa da hipermetropia pode ser a tal ponto que algumas pessoas começam a desviar os olhos para dentro (estrabismo convergente). O tratamento do estrabismo acomodativo se dá pelo uso contínuo de óculos, lentes de contato ou cirurgia refrativa, que é o procedimento a laser que vai corrigir o grau.
  • Cirurgia de estrabismo: a maioria dos desvios vai necessitar de correção com cirurgia. Na cirurgia de estrabismo, a musculatura extraocular é reposicionada, fortalecendo ou enfraquecendo o músculo, dependendo do tipo do desvio.

Essa cirurgia é considerada um procedimento bastante seguro. Em crianças, é feita sob anestesia geral e em adultos com anestesia local e sedação. Pode durar de 30 a 60 minutos e o paciente recebe alta no mesmo dia.

Atualmente existe uma técnica cirúrgica conhecida como técnica fórnice ou cirurgia de estrabismo minimamente invasiva, através da qual a cirurgia é realizada com mínimas incisões que ficam escondidas sob as pálpebras. Essa técnica é disponibilizada em alguns poucos centros de oftalmologia no Brasil, sendo Curitiba, um deles. Além de as incisões serem menores e mais discretas, essa técnica é muito mais confortável nas primeiras semanas de pós-operatório, reduz a reação inflamatória e causa menos desconforto com os pontos. Ela pode ser realizada em pessoas de até 40 anos de idade.

 

Essas são as 3 principais modalidades de tratamento do estrabismo. Alguns tipos de desvio podem necessitar de outras abordagens, como uso de óculos com prisma, exercícios ortópticos ou injeção de toxina botulínica.

A decisão pelo melhor tratamento será definida pelo oftalmologista especialista em estrabismo.

 

E como podemos evitar que os eletrônicos prejudiquem a visão?

Contra os fatores genéticos, por enquanto ainda não se consegue lutar. Mas, existem sim medidas que, ao menos, reduzem as chances dos danos. Crianças devem ser limitadas quanto ao uso de eletrônicos e leitura em detrimento de atividades em ambientes externos.

Dra. Dayane ainda reforça: “quando se trata da população infantil, é fundamental trabalhar nos meios comportamentais. Jogar bola e andar de bicicleta é com certeza melhor do que os jogos no iPad. Deve-se estabelecer intervalos a cada 20-30 minutos do uso de telas e ter o cuidado de dar menos atenção ao mundo virtual”.

 

Website: http://www.dayaneissaho.com.br

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