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Políticos escritores não são muitos, mas são poderosos

Política e literatura são atividades que caminham muito próximas

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Waldemir Barreto/Divulgação
José Sarney Michel Temer
1 de 1 José Sarney Michel Temer - Foto: Waldemir Barreto/Divulgação

Política e literatura são atividades que caminham muito próximas. Seja porque o panorama político costuma ser um dos elementos mais importantes de grandes obras da literatura, seja porque, em geral escritores são, também, pessoas articuladas e, por isso, que tem posições políticas estruturadas e, muitas vezes, públicas.

Assim, em geral, escritores são atores políticos ativos. Na semana passada, por exemplo, o grande Raduan Nassar, ganhador do Prêmio Camões 2016, publicou texto na Folha, com sua posição sobre a atual crise política. E, como ele, são muitos os escritores que expressam sua opinião e buscam influenciar a política.

Mais raro, entretanto, são os escritores que também são, eles mesmos, políticos, que disputam eleições e assumem cargos. Não temos, no Brasil, uma figura como Mário Vargas-Llosa, ganhador do Nobel, em 2010, e candidato a Presidente do Peru, em 1990.

Os grandes ícones da literatura no Brasil não disputaram eleições – por aqui, o funcionalismo público é mais comum como atividade paralela dos grandes. Mas alguns políticos de peso se aventuraram na literatura.

Estadão Conteúdo/ESTADÃO CONTEÚDO/AE

Estão nessa lista, coincidentemente, dois vice-presidentes que se tornaram presidentes.
O caso mais famoso é o do ex-presidente José Sarney. Como Sarney publicou seu primeiro livro de poemas, “A Canção Inicial”, poucos meses antes de disputar sua primeira eleição, ainda em 1954, aos 24 anos, podemos dizer que Sarney primeiro foi escritor, para depois se tornar político.

Apesar de estudar Direito, desde os 20 já trabalhava como jornalista, portanto escrevendo. Mesmo antes, porém, do primeiro livro, editando a Revista “A Ilha”, já tinha sido eleito para a Academia Maranhense de Letras, em 1952.

Sarney não venceu as eleições de 1954, mas, como suplente, assumiu uma cadeira no Congresso em 1955. Demorou ainda quinze anos para publicar seu segundo livro, o volume de contos “Norte das Águas”, de 1969, já como Governador do Maranhão.

Até se tornar presidente, em 1985, foram mais três livros (excetuando os de discursos ou políticos), sendo um de poesia e dois de contos. A esta altura, já era imortal da Academia Brasileira de Letras, tendo sido eleito em 1980.

Sarney ainda publicou mais dez livros de literatura, percorrendo todos os gêneros: poesia, conto, crônica e romance. Apesar de entrar para a ABL supostamente por sua produção poética, é a prosa que chama atenção em sua obra.

Seu livro mais famoso certamente é “O Dono do Mar”, de 1995, que virou filme em 2006. O livro narra a história de um pescador do litoral maranhense que perde o filho numa briga numa festa. O talento está lá. A certa altura, você esquece que a obra é do ex-presidente.

DANIEL FERREIRA/METRÓPOLES

Mas o atual presidente Michel Temer também dá suas cacetadas. Tem um volume de poemas, lançado em 2012, já como vice-presidente: “Anônima Intimidade”. Os críticos não perdoaram. A maioria das análises é negativa. Algumas exageradas, outras menos apaixonadas, mas não menos críticas. Todos apontam o estilo parnasiano, sem muita ousadia. O que posso dizer é que, lendo o livro, você não consegue esquecer que se trata do presidente.

Nesse campo, o ex-governador da Paraíba, Ronaldo Cunha Lima, falecido em 2012, conhecia o riscado com mais profundidade. Publicou mais de 15 livros de poesia, tendo sido o primeiro em 1955, apenas um ano depois de Sarney, ainda aos 19 anos.

Curiosamente, assim como Sarney, só voltou a publicar muito tempo depois do primeiro livro, em 1977, uma biografia. O terceiro, depois de outro longo intervalo, somente em 1986, quando já era novamente Prefeito de Campina Grande. Seguiu publicando até o final da vida.

Marcelo Botelho/ObritoNewsDiferentemente de Sarney, Ronaldo Cunha Lima não teve um período muito fácil durante o regime militar. Foi cassado em 1969, nos primeiros meses de seu primeiro mandato como prefeito de Campina Grande, e só voltou à política depois da Anistia de 1982, tendo vencido as eleições desse mesmo ano, para o mesmo cargo do qual tinha sido destituído.

“Breves e Leves – tercetos e outros poemas”, de 2005, é uma compilação de experimentações curtas, ao estilo japonês hai-kai, e é o livro mais conhecido de Cunha Lima.

Uma história digna de registro literário, é sua tentativa, em 1993, quando ainda era governador, de matar a tiros seu rival político Tarcísio Burity, a quem sucedia no Governo. Burity teria acusado seu filho, Cássio Cunha Lima, de corrupção. Burity sobreviveu e Cássio Cunha Lima virou governador e, depois, senador, cargo que ocupa até hoje.

Há políticos que publicaram livros conhecidos, mas a maior parte é de não-ficção, como reportagens, biografias ou de militância. Nesse quesito, Fernando Gabeira, com “O que é isso, companheiro?”, de 1979, talvez seja o mais conhecido. Ele tem pelo menos mais meia dúzia de publicações. Mas aí a lista é enorme e foge um pouco do que gostaria de apresentar aqui.

Hoje não tem poema, porque há muitos eventos para divulgar. Marquem na agenda:

  • Começou na sexta-feira, 26/08, e vai até domingo, 04/09, a Bienal do Livro de São Paulo, com vários lançamentos, incluindo autores brasilienses tratados aqui, aqui e aqui.
  • Começou na sexta-feira e vai até dia 25/11, sempre às sextas, das 9h às 12h, o curso de extensão “Feminismos: literatura, arte e educação”, na Sala Papirus, na Faculdade de Educação, com as professoras Adriana de Fátima Barbosa Araújo (IL), Simone Lisniowski (FE) e Cristina Azra (IDA). Dá para fazer a inscrição na hora. A primeira aula foi apresentação do curso e discussão dos livros e filmes a serem debatidos.
  • 29, 30 e 31/08 e 02/09 – às 15h – Espetáculo “Poesia para Brasília”, com os poetas Anderson Braga Horta e Alexandre Pilati, dentro do Projeto Poesia em Voz Alta: arte, reflexão e emoção, na Associação Nacional dos Escritores (707/907 Sul, Bloco F)
  • 03/09, sábado – às 21h – Lançamento do livro “Desaconteças”, contos do realismo fantástico, de Aloísio Brandão, no Clube do Choro. O lançamento é acompanhado de um show do autor e da cantora Clara Telles.
  • 06/09, terça-feira – 20h – Lançamento da Antologia “Poesia Nua”, no Senhoritas Café, 408 Norte – o coletivo de 15 poetas que posaram nus para um calendário, lança a coletânea no Sarau erótico, marcado para o Dia do Sexo. O projeto é coordenado pela poetisa Marina Mara. No Sarau, haverá também a venda de produtos sensuais.
  • 09/09, sexta-feira – às 20h – Estreia do espetáculo “Poesia, Cordel e Cantoria”, com os repentistas João Santana e Valdenor de Almeida. dentro do Projeto Poesia em Voz Alta: arte, reflexão e emoção, na Associação Nacional de Escritores (707/907 Sul, Bloco F). Haverá sessões também nos dias 12, 13, 14 e 16/09, às 15h
  • 23/09, sexta-feira – às 20h – Estreia do espetáculo “Poesia, memória e resistência”, com a escritora e atriz Cristiane Sobral, dentro do Projeto Poesia em Voz Alta: arte, reflexão e emoção, na Associação Nacional de Escritores (707/907 Sul, Bloco F). Haverá sessões também nos dias 26, 27, 28, e 30/09, às 15h

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