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Biografia do Muro de Berlim é boa oportunidade para entender a Europa

O livro mostra a construção e a queda de um dos símbolos da Guerra Fria

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Nesta semana, vou apresentar mais uma sugestão de biografia inusitada. A obra: “Muro de Berlim — Um Mundo Dividido 1961-1989”, do historiador Frederick Taylor, lançada em 2006 e traduzida em 2009, conta a história do maior símbolo da Guerra Fria.

Não posso negar que o tema tem um interesse especial para mim: minha esposa passou parte da infância morando em Berlim e conta muitas histórias sobre as vezes que atravessava a fronteira — o Muro — para estudar português no lado ocidental. Além disso, sua tia namorou o neto do criador da construção, o Presidente Erich Honecker. Elas estavam na cidade no momento da queda, em 1989.

O livro começa com um rápido, mas interessante apanhado sobre a história de Berlim, desde o século 14, quando ainda era apenas o conglomerado de duas vilas, com, no máximo 8 mil pessoas. O nome é procedente de uma palavra eslava, brl, que significa “pântano”.

Na virada do século 19 para o 20, Berlim se tornou a segunda maior cidade da Europa, tão vibrante quanto as maiores cidades dos EUA. O tamanho e o poder da cidade era uma expressão do poder da Alemanha, recém-unificada e sedenta por expansão.

A história do Muro, entretanto, começa mesmo a partir do final da Segunda Guerra. O livro conta detalhes aterradores, como a onda de violência sexual contra as mulheres pelo Exército Vermelho — a mesma tropa vendida como “libertadora” pelas autoridades que assumiram o comando do país, em sua porção oriental.

Uma passagem impressionante, ainda no período pré-Muro, foi o bloqueio rodoviário de cerca de um ano imposto à cidade pela União Soviética, que controlava o lado Oriental — Berlim Ocidental ficava encrustada no meio do território da Alemanha Oriental. Para evitar a fome e a privação da população da parte ocidental, França, Reino Unido e EUA realizaram uma operação complexa de suprimento por avião e, em alguns dias, chegavam a pousar um avião com comida a cada 62 segundos na cidade.

Já em 1961, quando o Muro efetivamente foi erguido, é descrita a pressão, de um lado para manter o sistema totalitário e descapitalizado e, de outro, de maciça imigração para a porção ocidental, com maior oferta de produtos. O fechamento abrupto da fronteira foi uma estratégia de manutenção — com grande ajuda do exército soviético — de algo que já estava se desmantelando — uma espécie de adiamento do que ocorreria em 1989.

O Muro, na verdade, era um complexo de oito estruturas, numa faixa que variava de 40 a 80 metros. A parte visível na maioria das fotos é apenas a última das barreiras, precedida de duas cercas, uma área de “dentes de dragão”, torre de observação, uma “faixa da morte” e uma barreira antiveículos. Além de um pesado efetivo militar na faixa de fronteira. São apresentadas várias histórias de tentativas de furar o bloqueio – a grande maioria frustradas, com a morte do aventureiro.

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Muro de Berlim: símbolo maior da Guerra Fria

A coleção de fotos contida na obra não chega a ser um primor, mas dá uma boa ideia do que era a situação em diversas épocas.

Vale a pena a descrição dos últimos momentos do Muro, especialmente no mês anterior à derrubada. Com a retirada de apoio da União Soviética de Gorbatchev, Honecker não conseguiu se manter no poder. Caiu um mês antes da construção. Não houve como segurar a pressão. A unificação definitiva do país viria alguns meses depois. São pouco mais de 500 páginas, e vale a pena! Divirta-se.

Sobre o dia 9 de novembro, da queda em si, duas histórias interessantes não estão no livro: uma pessoal e outra pública. A pessoal é que, no dia seguinte à queda do Muro, a professora de minha esposa, então com nove anos, pediu desculpas aos alunos por lhes fazer acreditar naquele sistema, “um sistema em que o Presidente tinha acesso a laranjas e outras frutas enquanto o resto da população, não”.

A curiosidade pública é que a atual chanceler alemã, Angela Merkel, vivia no lado oriental da cidade e, no momento exato da queda da barreira, estava em sua sauna semanal. Como milhares de cidadãos, atravessou a fronteira naquela noite, mas voltou logo para sua casa porque tinha aulas para dar na manhã seguinte. Menos de dois anos depois, assumiria um cargo ministerial no país unificado.

Agenda literária:
– 26 a 30/7 – 15ª Festa Literária de Paraty (FLIP)
– 29/7 (Sábado) – 19h – Sarau #FicaUbuntu – apoio ao Espaço Cultural Ubuntu, Quadra 101, Recanto das Emas
– 29/7 (Sábado), 13h, e 30/7 (Domingo), 14h – Recital poético na Feira da Longevidade, Praça Central, Brasília Shopping

“IP dedicado”
não quero mais estar presente
na sua ausência
pois:
se na minha ausência
a sua presença
me causa saudade
a sua ausência
na minha presença
me causa desespero

Sóter (Agrestina, Brasília, 2016)

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