Quanto mais naturalizamos o diferente, ele deixa de ser diferente
Não deveria existir alguém velha demais para estampar as páginas de uma catálogo, nem gorda demais. Nem negra demais. Nem feia demais
atualizado
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Minha sobrinha Olívia, quando nasceu, teve o nervo que liga o ombro ao braço rompido e perdeu temporariamente o movimento do braço esquerdo. Foram meses de fisioterapia e outros tratamentos para que nossa pequena samurai, hoje aos quatro anos, se recuperasse a ponto de poucas pessoas notarem que ela tem mobilidade reduzida.
Da última vez que fui a Brasília, sentada no chão da sala, rodeada de brinquedinhos, fui apresentada a uma Pepa sem uma das pernas:
— E essa é a Pepa Paralímpica.
— É mesmo?
— Sim, tia Nina, ela foi pras “Paralimpeudas”.
E continuamos a brincadeira sem mais delongas, sem muita atenção para a deficiência da porquinha, que era um personagem como todos os outros na nossa trama.
Mostrar diversidade, fugir da padronização, revelar as minorias para os olhos da maioria gera aceitação. E tolerância. E democratização. Não deveria existir alguém velha demais para estampar as páginas de uma catálogo, nem gorda demais. Nem negra demais. Nem feia demais.
Quanto mais naturalizamos o diferente, mais ele deixa de ser diferente e mais o preconceito se dilui. O medo ao estranho não pode mais ser incentivado pela publicidade, pela indústria da moda e da beleza, que só enxergam um tipo de belo. Somos todas as idades, sexos e formas. Somos preto, branco e todas as cores.