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Consumir roupa em excesso contribui para uso de mão de obra escrava

O profissionais do meio têm a obrigação, antes de qualquer pessoa, de problematizar e criar o debate sobre o assunto

atualizado

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Divulgação/Becky Bloom
Becky bloom
1 de 1 Becky bloom - Foto: Divulgação/Becky Bloom

Essa semana mais uma grande marca foi pega utilizando mão de obra escrava em sua linha de produção, a Brooksfield Donna. Muita gente me pega discursando sobre os malefícios da indústria da moda e acha estranho – até hipócrita – ouvir isso da boca de alguém inserida nesse mercado. Mas eu digo exatamente o contrário: nós, os profissionais do meio, temos a obrigação, antes de qualquer pessoa, de problematizar e criar o debate sobre o assunto.

Para quem quer saber mais sobre o assunto, indico o documentário “The True Cost”. Ele fala sobre o real custo humanitário e ecológico do consumo descontrolado.

Nele, o diretor Andrew Morgan, revela: “As empresas de vestuário são as mais dependentes do trabalho humano no mundo, empregando milhões de trabalhadores que são os mais pobres de todo o sistema. Muitos deles recebem menos do que o salário mínimo de seus países, trabalham em condições inseguras, e são privados de direitos humanos básicos. Além do impacto humano, a moda se tornou a segunda indústria mais poluente do mundo – perdendo apenas para a do petróleo”. É uma avalanche de coisa errada!

O filme ainda aponta que, apesar das condições quase escravas dos trabalhadores (ou por causa delas), os gigantes da moda não param de enriquecer, tendo batido seu próprio recorde histórico de lucratividade no ano de 2012. Ou seja, as grandes corporações do fast fashion e até da alta-costura (quem assistiu o filme Gomorra?) ganham cada vez mais, às custas de seus funcionários, de fornecedores de matéria-prima sendo explorados e de produtos de baixa qualidade, que adquirimos felizes da vida pelo “precinho camarada”.

A maneira mais eficiente de contribuir para que esse cenário melhore é repensando nossa relação com a moda. Reduzir o supérfluo, o desperdício, resistir às promoções quando não há necessidade de nada novo, evitar a roupa “descartável”. Não é que precisa deixar de comprar, mas é fundamental refletir sobre o impacto que o exagero tem no planeta e na nossa própria vida.

É difícil fugir da marca que você tanto gosta, mas que foi denunciada por prática de trabalho escravo? Começa pelo menos procurando outras alternativas para ela. Vai abandonando aos poucos. Também dá pra buscar quais são as empresas com políticas ecofriendly e de valorização de pessoal e passar a dar uma atenção especial, olhar com mais carinho para elas. Tem um monte de produtor fazendo direito.

A gente precisa considerar uma infinidade de coisas na hora de decidir onde e como fazer nosso shopping. Isso, literalmente, é consumir com consciência. É analisar, sair do automático e gastar com mais esperteza.

Deixo vocês com a citação final de The True Cost: “Continuaremos procurando a felicidade consumindo coisas? Ficaremos satisfeitos com um sistema que nos faz sentir ricos, enquanto empobrece dramaticamente nosso mundo? (…) No seio de todos os desafios que enfrentamos hoje, (…) que parecem maiores que nós e além do nosso controle, talvez possamos começar aqui, com as roupas.”

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