Podcast Crime da 113 Sul: choro, debate e condenação no julgamento mais longo da história do DF
Durante o longo embate entre advogados e promotores, foram ouvidas 24 testemunhas – 8 de acusação e 16 de defesa
atualizado
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Choro, tensão, dedo em riste e debate entre defesa e acusação mais longo da história da Justiça do Distrito Federal. No último episódio do podcast Revisão Criminal, o Metrópoles mergulhou nas 103 horas de julgamento de Adriana Villela, que, ao final de 10 dias de júri, acabou condenada a 67 anos de prisão. No entendimento dos jurados, ela foi a mandante do assassinato dos pais, José Guilherme e Maria Villela, e da governanta da família, Francisca Nascimento.
Durante o longo embate, foram ouvidas 24 testemunhas – 8 de acusação e 16 de defesa. Defensores e promotores do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) tentavam, basicamente, apresentar uma tese: onde estava Adriana na noite do dia 28 de agosto de 2009.
Os advogados da arquiteta montaram uma linha do tempo mostrando que seria impossível ela estar no apartamento dos pais na hora do triplo assassinato. Para isso, apresentaram compras feitas pela ré em padarias, lista de presença assinada em um seminário de arquitetura, ligações dela para colegas e oitiva de uma amiga que confirmou que as duas passaram parte daquela noite lanchando e conversando na Vila Planalto.
Já acusação entendeu que tais informações não deveriam ser consideradas e insistiram na tese de que Adriana não só esteve na cena do crime, como ordenou as execuções.
Outro ponto de intensa discussão foi em relação a um laudo de impressão digital, que acabou questionado por uma corrente dentro da própria Polícia Civil do DF (PCDF).
Ouça este episódio:
O temido Neylor
No sexto episódio do Revisão Criminal, o Metrópoles contou a história de um controverso personagem citado no volumoso processo do Crime da 113 Sul: Neilor Teixeira da Mota. Temido morador de Montalvânia, em Minas Gerais, ainda hoje é conhecido na pequena cidade como o homem que fala aos quatro ventos que “matou um ministro em Brasília e ficou livre”.
Apesar de, inclusive, já ter revelado em depoimento que sabia dos planos do porteiro Leonardo Campos Alves de assaltar o apartamento da família Vilella, no Bloco C da 113 Sul, Neilor nunca chegou a ser tratado como suspeito pela Coordenação de Crimes Contra a Vida (Corvida), unidade da PCDF que comandou a última etapa da investigação do triplo assassinato.
A equipe do Metrópoles conseguiu localizar Neilor em Montalvânia. Durante a entrevista, o controverso personagem disse que a delegada Mabel de Faria, da Corvida, ofereceu-lhe, inclusive, um imóvel para que ele contribuísse com as investigações. “A doutora Mabel ofereceu proteção pra gente. A gente que não aceitou. Ofereceu um lugar pra gente ficar, um lugar mais tranquilo, uma casa com mais reforço. Ela perguntava se a gente queria”, afirmou.
É estranho notar que, nos primeiros dois depoimentos para a 8ª Delegacia de Polícia (SIA), responsável pela prisão de Leonardo e Paulo, Neilor em nenhum momento citou Adriana Villela. Depois, para a Corvida, começou a dizer que Leonardo teria lhe contado que Adriana seria a mandante da barbárie.
Neste episódio, também apresentamos o estranho surgimento de Francisco Mairlon no caso. Apontado como um dos executores do Crime da 113 Sul, ele acabou condenado a 55 anos de detenção. O que chama a atenção é o fato de sua participação ser pouco detalhada, ao contrário do que ocorre com Leonardo e Paulo Cardoso.
Meses após o crime, o próprio Paulo Cardoso Santana revelou que Francisco Mairlon nunca esteve envolvido no triplo assassinato e que só o havia acusado após insistência de Leonardo. Durante seu julgamento, Paulo chegou a sugerir que, na verdade, o terceiro elemento do crime seria Neilor, mas disse que foi convencido por Leonardo a mentir que teria sido Mairlon.
“A família dele [Neilor] é violenta. Eu acho que foi por medo que ele não falou do Neilor.” Ainda durante esse mesmo julgamento, Paulo Cardoso relatou que soube do arrependimento do tio por ter feito um inocente ser condenado. “Ele fica pedindo perdão, dizendo que se arrependeu de ter feito isso com o Mairlon.”
Prisão dos assassinos
O Revisão Criminal mostrou, ainda, como o surgimento repentino da 8ª Delegacia de Polícia (SIA) nas investigações do Crime da 113 Sul provocou uma crise profunda na PCDF. Por outro lado, apesar de ter sido considerada uma interferência polêmica, foi a unidade policial responsável por prender os verdadeiros assassinos.
Trazido a Brasília, Leonardo respondeu algumas perguntas na delegacia. Aos repórteres, descartou veementemente a participação de mais pessoas na barbárie cometida no apartamento do Bloco C. “Não foi nada planejado. Não foi nada arranjado. Não foi nada encomendado nem mandado por ninguém”, disse Leonardo, ao ser questionado por uma repórter se Adriana Villela seria a mandante do assassinato dos próprios pais.
Paulo Cardoso, nos seus primeiros depoimentos à polícia, também era enfático ao descartar qualquer participação de Adriana no crime. Nas oitivas iniciais prestadas à delegada Mabel de Faria, que dirigiu a última fase das investigações do caso, o acusado ressaltou que a intenção era roubar e que não agiram a mando de ninguém. “Foram só nós dois [Paulo e Leonardo]. Fomos para roubar.”
Mesmo estando presos em locais diferentes e, portanto, impossibilitados de combinar depoimentos, Leonardo e Paulo apresentaram essa versão nos primeiros três interrogatórios. A partir do quarto, começaram a apontar Adriana Villela como mandante do crime.
Para a defesa de Adriana, tal mudança tem explicação: a pena para quem mata a mando de alguém é menor. Advogados de defesa de Paulo Cardoso Santana também contaram ao Metrópoles terem estranhado a insistência da delegada Mabel para que Paulinho dissesse que assassinou o trio porque recebeu para isso.
“Ela [Mabel] chegou e me pediu para conversar com o preso, o Paulinho, e explicar para ele que, no crime de mando, a pena seria menor do que a de latrocínio. Eu falei com o Paulinho sobre isso, e ele foi taxativo em dizer que não tinha mandante, que quem matou teriam sido só ele e o Leonardo. Não citou nome de outra pessoa”, afirmou o advogado Geraldo Flávio, que representava Paulinho à época.
72 facadas
No quarto episódio, o podcast Revisão Criminal – Crime da 113 Sul contou a dinâmica do triplo homicídio.
Nos primeiros depoimentos logo após sua prisão, Leonardo narrou como assassinou o ex-ministro, a advogada e a funcionária da família. Pontuou ainda que Francisca só morreu porque chegou poucos minutos antes de eles deixarem o imóvel.
Em um dos relatos mais chocantes, Paulo Cardoso disse aos policiais que José Villela já aparentava estar morto, mas, ainda assim, ele resolveu desferir outros golpes para ter certeza de que o ex-ministro estava mesmo sem vida.
Os assassinos confessos também relataram que Maria Vilella tentou correr, mas foi alcançada e esfaqueada na costela. Já ferida, teve de juntar todo o dinheiro e as joias da casa e entregar aos bandidos. Depois, os criminosos golpearam a advogada mais vezes.
Já no terceiro episódio, foram apontadas as contradições de Leonardo em diferentes oitivas.
Reviravoltas
Uma tragédia marcada por reviravoltas, erros, vaidades e mentiras. O Crime da 113 Sul, um dos mais complexos e bárbaros ocorridos na capital do país, ainda desperta mais dúvidas do que certezas, mesmo após 11 anos do caso e quatro pessoas terem sido condenadas pelo triplo assassinato do ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) José Guilherme Villela, da esposa dele, a advogada Maria Villela, e da governanta do casal, Francisca Nascimento.
A reportagem do Metrópoles, durante um ano, ouviu as 103 horas de áudios do julgamento de Adriana no Tribunal do Júri e conversou com importantes testemunhas que, até então, pouco foram exploradas na cobertura da mídia. O material coletado virou o podcast Revisão Criminal – Crime da 113 Sul.
Ouça o primeiro episódio aqui.
Ouça o segundo episódio aqui.
Ouça o terceiro episódio aqui.
Ouça ao quarto episódio aqui.
Ouça o quinto episódio aqui.
Ouça o sexto episódio aqui.