Robô de R$ 14 milhões permite cirurgias complexas pouco invasivas
Primeira paciente operada com o Da Vinci XI no Hospital Santa Lúcia Norte conta sobre a experiência e o processo de recuperação
atualizado
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Dor, medicamentos, internações e inúmeras consultas. A rotina hospitalar e cirúrgica não é novidade para Cleonice Paiva Cirqueira, de 66 anos. Há 11 anos ela luta contra o câncer. Em 2008, submeteu-se a uma mastectomia e enfrentou sessões de quimioterapia para tratar um tumor na mama esquerda. No início deste ano, outro susto. A dona de casa descobriu dois novos focos: nos tecidos cerebrais e no pulmão.
“Minha médica desconfiou depois de ver os meus exames de rotina. Pediu um PET Scan e confirmou o diagnóstico. Decidimos tratar um de cada vez. O meningioma foi o primeiro, porque era mais urgente”, lembra.
Em junho, já preparada para enfrentar mais uma cirurgia, a aposentada teve uma grata surpresa. Ela foi selecionada pelo corpo clínico do Hospital Santa Lúcia Norte para ser a primeira paciente operada com o Robô Da Vinci XI, que permite retirar o tumor do pulmão por meio de uma cirurgia robótica minimamente invasiva.
O novo sistema cirúrgico robótico é considerado o mais moderno do mundo dentro do segmento. O equipamento revela imagens 3D em alta resolução, permitindo que o cirurgião tenha uma visão cristalina ao longo da operação. O robô, avaliado em R$ 14 milhões, conta com quatro braços finos que são inseridos no paciente por meio de incisões milimétricas, além de uma articulação de instrumentos que simulam as mãos e o punho humano.
A articulação dos instrumentos faz movimentos de rotação e angulação até melhores do que a própria mão humana. E com um diferencial: tecnologias de filtro de tremores e movimentos intuitivos.
Apesar de receber o nome de robô, o Da Vinci não é um sistema com inteligência artificial. Apenas cirurgiões qualificados podem operar o equipamento, como o médico Flávio Brito, especialista em cirurgias oncológicas torácicas minimamente invasivas. Responsável pela lobectomia pulmonar em Cleonice, ele obteve habilitação depois de revalidar o diploma nos Estados Unidos e fazer o curso de um ano na Universidade de Harvard.
O médico esclarece que intervenções como a realizada na paciente já são feitas há alguns anos por meio de videotoracoscopia, com uso de câmera de vídeo, e que a cirurgia aberta está caindo em desuso justamente pelos benefícios dos procedimentos menos invasivos.
Porém, o doutor explica que o avanço tecnológico entre a cirurgia por vídeo em relação à robótica é surpreendente. “Com o vídeo, para atingir o local necessário, o cirurgião precisa movimentar muito a pinça, pois a mobilidade que ela oferece é limitada. Às vezes, isso acaba traumatizando determinadas áreas. Já na robótica, consigo acessar locais mais difíceis , pois tenho pinças que simulam a articulação do punho do cirurgião. Por ser mais preciso, acaba reduzindo o trauma no paciente, gerando menos dor e sangramentos. Dessa forma, a recuperação ocorre muito mais rápida”.
Cleonice teve alta no terceiro dia após a lobectomia feita com o auxílio do robô Da Vinci. Em um procedimento com videotoracoscopia, a internação mediana é de cinco dias. “Foi muito diferente do que eu já vivi antes, bem mais tranquila. Senti pouquíssima dor e foram só quatro furinhos. Já posso até cuidar dos meus netos”, conta, animada, a dona de casa. Uma semana após a cirurgia, ela já estava pronta para retomar a rotina.
A primeira geração de plataformas robóticas começou a ser utilizada comercialmente no Brasil nos anos 2000. No Distrito Federal, outros três hospitais contam com a geração anterior do equipamento. No entanto, apenas o Hospital Santa Lúcia Norte conta com última geração do equipamento recém-adquirido pela unidade e “estreado” por dona Cleonice.
Segundo o dr. Flávio Brito, esta versão recebeu alguns incrementos, como por exemplo, uma qualidade superior de energia de cauterização das incisões, que é o fechamento e contenção do sangramento durante os procedimentos.
Na avaliação do profissional, o robô deverá ampliar a quantidade de cirurgias complexas e atrair profissionais altamente capacitados para a capital federal. “Ao fazer um investimento desse porte, o Grupo Santa Lúcia demonstra para a sociedade que tem um compromisso de qualidade. Até porque esse investimento não é só no equipamento em si, mas na estrutura e nas equipes de enfermagem, de anestesia e de pós-operatório”, acrescenta.
Segundo o CEO do Grupo Santa Lúcia, Dr. Raul Sturari, o Hospital Santa Lúcia realiza cerca de 2,5 mil procedimentos cirúrgicos por mês. Com a aquisição, a instituição pretende ampliar a quantidade de cirurgias minimamente invasivas e de alta complexidade de diversas especialidades, como urologia, cirurgia geral, ginecologia, cabeça e pescoço, torácica, cardíaca e outros.
“O Hospital Santa Lúcia sempre esteve atento às novas tendências da medicina e vem recebendo importantes investimentos tecnológicos e científicos para melhorar o conforto, a segurança e a privacidade dos nossos pacientes. Com o Da Vinci XI esperamos complementar esta experiência e qualidade”, afirma.