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Professores de áreas rurais do DF precisam se reinventar na pandemia

Falta de acesso à internet é um dos principais obstáculos para os alunos que vivem em comunidades afastadas dos centros

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aulas online crianças
1 de 1 aulas online crianças - Foto: Getty Image

atualizado

Reportagem elaborada pelos estudantes de Jornalismo do IDP Alanna Nascimento, Iago Mac e Mariana Albuquerque, sob a supervisão da professora Isa Stacciarini


Em meio à pandemia, professores e alunos de escolas em zonas rurais do Distrito Federal enfrentam uma série de dificuldades impostas pelo coronavírus para conseguir levar boa educação para quem precisa. Sem ensino presencial há pouco mais de um ano, alunos da rede pública enfrentam diversas dificuldades todos os dias, como falta de acesso a internet de qualidade. 

Para driblar esse tipo de problema, professores de áreas rurais do DF têm que se reinventar para transmitir conteúdos aos alunos. Um exemplo é a professora Nelma Rabelo, de 43 anos, que compartilha os desafios da sala de aula remota. Ela é educadora do 1º ano do ensino fundamental I em uma escola da zona rural de Sobradinho e conta as dificuldades com a tecnologia e o novo “normal”. 

A educadora relata que na região da Fercal (DF), onde leciona, existe um grave problema de condições sociais e acesso à internet. Devido a esse problema, que afeta principalmente crianças, a alfabetizadora teve de se reinventar e descobrir novas metodologias que cativassem, de forma genuína, os estudantes.

Nelma aponta diversos aspectos quanto à metodologia de ensino adotada por ela, além de compartilhar algumas soluções que tentaram ser impostas, mas acabaram falhando por causa da situação da internet na região. Confira a entrevista. 

Professora Nelma Rabelo, de 43 anos, dá aulas pelo celular

Como as aulas remotas para as crianças da zona rural têm sido realizadas?

Entregamos kits escolares contendo apostila com aulas sequenciadas e material pedagógico individual para auxiliar em cada aula. Marcamos lugares, pontos de apoio com os pais e vamos ao encontro deles, pois a retirada na escola se torna inviável para a maioria, devido à dificuldade de acesso e a poucas linhas de ônibus. Também fazemos uso de grupos de WhatsApp para informações, tirar dúvidas e auxiliar os responsáveis. Semanalmente, há postagem de um pequeno vídeo norteando o tema e as aulas semanais, gravado pela professora. A escola faz a oferta do mesmo material impresso também na plataforma Google Classroom (Escola em Casa). Plataforma essa que, infelizmente, não tem êxito para nossa comunidade.

Qual a maior dificuldade que você enfrentou neste período de aulas remotas?

Lidar com as emoções das crianças, por conta da falta que a escola faz. Todas, sem exceção, sentiram muita saudade do ambiente escolar. Chegar ao novo “normal” foi um caminho árduo. Vivenciei apatia, desânimo e até depressão em três alunos.

De que forma você acha que esse período vai interferir na vida dessas crianças?

A sensação triste que tenho é como se estivesse sendo retirado um pedacinho de suas infâncias. A falta de socialização, sem dúvida, é uma grande perda.

O que as crianças pensam sobre as aulas?

Gostam muito, mesmo. Estão aprendendo a conviver com esse novo “normal”.

Os familiares desses alunos tentam ajudar, de alguma forma, na educação deles?

Sim. As famílias têm tentado ajudar, acompanham as atividades on-line com as crianças, buscam e entregam as atividades desenvolvidas por elas nos dias e nos horários estipulados pela escola.

Como tem sido o suporte governamental em relação ao colégio? Esse suporte existe?

O governo disponibilizou as plataformas na internet, mas grande parte das crianças da região não têm acesso à tal. Também ofereceu pacotes de dados móveis gratuitos pelas operadoras Vivo, Oi e Claro, mas a maioria de nossas crianças não têm acesso aos sinais de telefonia e de internet.

Quais têm sido as orientações da coordenação, tanto para os professores quanto para os alunos, para que haja uma melhora na qualidade da aula?

Propor material e aulas diversificadas, desafiadoras e atrativas, mesmo o material sendo impresso.

Antes da pandemia, os estudantes também tinham essa dificuldade de acesso a conteúdos e de ir até a instituição?

Não. Eles tinham ônibus fretado pela Secretaria de Educação para locomoção. As aulas eram planejadas para o coletivo, sem dificuldades de assimilação, uma vez que as brincadeiras e ofertas lúdicas desses conteúdos eram facilitadores e multiplicadores dessas aprendizagens. Brincando aprendiam diariamente.

Em quais sentidos você, como professora, acha que a pandemia mais te afetou? Dá para tirar algum proveito dessa situação toda como profissional?

Inicialmente, me abalei ao ver as crianças sofrendo e os familiares apresentando dificuldades em mediar todo o processo de alfabetização. Se sentiam despreparados e, alguns, até incapazes. Depois, aos poucos e com muitas chamadas de vídeo ou áudios deixados aos responsáveis para ouvirem quando conseguissem, as coisas foram se encaixando. Todo ser, sem exceção, é mais forte e capaz do que imagina. Me tornei mais resiliente, mais forte. Avançar era preciso, independentemente do cenário.

O que você acha que pode ser feito e/ ou desfeito para que as aulas, num âmbito público e rural, tornem-se de melhor qualidade? Seja iniciativa da própria equipe pedagógica ou, também, do governo distrital.

Hoje, sem dúvida, seria a oferta de internet para todos. 

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