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O palco é onde o vocalista do Capital Inicial, Dinho Ouro Preto, se sente realizado e será onde celebrará o próprio aniversário e os 42 anos da banda. O cenário da comemoração será a Arena BRB Nilson Nelson, em um evento que marca a reedição do show Música Urbana e antecipa os 64 anos da capital federal, ou melhor, da “Capital do Rock”. Por isso, a lineup do espetáculo também contará com a participação de outros músicos do cenário local e amigos do artista, como Marcelo Bonfá.
Bonfá, inclusive, esteve presente na primeira edição do Música Urbana, show que uniu Capital Inicial, Legião Urbana e Plebe Rude no teatro do Colégio Alvorada há 40 anos.
“Com a reedição do show [Música Urbana], o aniversário de Brasília e meu aniversário, é um inevitável retrospecto do que se foi feito na capital federal, que é onde tudo começou.”
Dinho Ouro Preto, vocalista do Capital Inicial
Em entrevista ao Metrópoles, o vocalista do Capital Inicial revelou que não costuma comemorar o aniversário, mas sente que a junção dessas datas especiais não pode ser deixada em branco. A reedição do Música Urbana também é uma marca desta nova fase na carreira do artista, que se considera mais confiante e saudável do que nunca.
Ao longo de mais de quatro décadas de carreira, o cantor passou por várias fases até se sentir completamente confortável no palco e com a carreira. “Eu tinha muito medo do palco e, por ironia, é a coisa que eu mais gosto de fazer hoje”, afirma o artista ao refletir sobre a carreira, que começou aos 19 anos.
A dualidade com o palco
Em 1983, Dinho cantou pela primeira vez com o Capital Inicial na Universidade de Brasília, no mesmo dia em que fez vestibular. Aos 16 anos, ele, que pensava que seguiria a carreira dos pais como diplomata, se apaixonou pela música ao conhecer o Aborto Elétrico e o cantor Renato Russo.
Na época, no começo dos anos 1980, o punk rock borbulhava no Distrito Federal, movimentação que originou as bandas que tocaram na primeira edição do Música Urbana. Após uma audição na casa de Fê Lemos – baterista e fundador do Capital Inicial -, Dinho entrou para a banda.
O talento de Dinho chamou a atenção de outros artistas. O músico Renato Russo, vocalista da banda Legião Urbana, chegou a dizer ao baterista que Dinho “nasceu para o palco”. E, no ano seguinte, os artistas se apresentaram no mesmo palco, no Música Urbana, em 1984.
No dia do show, Dinho participou da montagem de luzes do palco e de toda a divulgação. Mas, a ansiedade o dominou na hora de se apresentar. Ele estava há apenas um ano com o Capital Inicial, sendo um novato em comparação aos colegas.
“Outros músicos já dominavam uma técnica de composição e já sabiam lidar com essa situação toda, o que não era o meu caso. Eu começo a cantar com o Capital [Inicial] em 1983, e eles [Fê e Flávio Lemos e Loro Jones] já vinham tocando há cerca de quatro anos. Eu era o mais jovem, o caçula. E eu me vi no meio daquela situação, e me sentia um pouco despreparado”, conta.
Por conta desse sentimento, o artista cita que, na primeira edição do Música Urbana, não olhou nos olhos da plateia. “Às vezes, eu olho as fotos e parece que eu estou quase de olhos fechados”, comenta.
“Eu achava que eu tinha sido jogado em uma piscina sem saber nadar. Mas aquilo [o show Música Urbana] era importante para a nossa geração e para a cultura brasileira. Qualquer desconforto eventual que eu sentisse ali, eu engoli porque tinha uma missão.”
Dinho Ouro Preto, vocalista do Capital Inicial
Dinho conta que se sentia “aterrorizado” e, ao mesmo tempo, “seduzido” pelo palco. “Duas coisas antagônicas, a minha cabeça atormentava. Hoje, elas caminham juntas no meu corpo e me estimulam”, afirma.
“No começo, eu morria de vergonha e eu bebia para tocar. Eu tinha prazer em escrever as músicas e, na hora de tocar, eu ficava profundamente intimidado por aquilo”, ressalta. “Hoje é diferente, e eu canalizo isso de uma forma positiva. Eu não bebo e não fumo. Só o fato de você estar na frente de uma multidão é brilhante e terapêutico.”
Legado do Capital Inicial
O cantor afirma que, ao longo dos primeiros anos, ele pensava que a banda seria passageira. “A nossa adolescência foi muito legal, mas em algum momento voltaria à vida normal. No entanto, a coisa foi tomando vida própria. As coisas foram acontecendo naturalmente.”
“Demorou muitos anos até eu chegar ao ponto onde eu pude dizer que era algo que eu queria fazer para o resto da minha vida. Se levar em conta que são 40 anos [de carreira do Capital], isso só veio nos últimos 20 anos”, revela. “Ou seja, eu passei 20 anos pensando que [o Capital Inicial] era uma fase, algo que pudesse evaporar.”
Ao longo de mais de 40 anos, o Capital Inicial emplacou vários sucessos, como Primeiros Erros, À Sua Maneira, Fátima e Natasha, que viralizou no TikTok e aproximou a banda de uma nova geração.
Até hoje, Dinho revela que ainda fica surpreso com a demanda de shows do Capital, com plateias que englobam várias idades. A banda está com apresentações marcadas até o fim de 2024 por todo o Brasil, que conclui a turnê “Capital Inicial 4.0”.
E podemos esperar mais de Dinho e do Capital Inicial.
O artista conta que ainda quer na carreira compor ao lado de Samuel Rosa, vocalista do Skank, banda que se aposentou em 2023, além do rapper Marcelo D2 e da cantora Pitty.
Saúde no palco e nos bastidores
Com o tempo, o artista afirma que aprendeu a lidar melhor com a ansiedade, o que aumentou o prazer de estar no palco. “Sempre fui muito ansioso. As dúvidas continuam as mesmas, mas nunca estive tão saudável. Lentamente fui tomando gosto pela corrida. No ano passado, fiz duas meia maratonas.”
E, por conta desse investimento na saúde, consegue ter um empenho melhor nos palcos. “A ironia é que eu estou muito mais saudável. Eu me cansava mais nos shows de 20 anos atrás do que hoje em dia”, pontua.
Para além do resultado nos palcos, o estilo de vida do artista implica na vida pessoal dele, que hoje mora em São Paulo.
Na entrevista, Dinho celebrou, com muito orgulho, o crescimento dos filhos, Giulia, Isabel e Affonso, frutos do casamento com a arquiteta Maria Cattaneo.
Show “Música Urbana” 2024
Capital Inicial convida Scalene, Plebe Rude, Zélia Duncan e Marcelo Bonfá
Quando: 20 de abril
Local: Arena BRB Nilson Nelson
Horário: 19h