Jogadoras pedem o fim do assédio e do machismo no mundo dos games
Apesar de serem maioria no universo dos jogos eletrônicos, praticantes enfrentam preconceito e grosserias durante as partidas
atualizado
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A carioca Michele Pandini, 32, conheceu o universo dos games muito cedo, com apenas 3 anos de idade, e logo se apaixonou. “Jogava com meu irmão mais velho. Era tão nova que nem sei se estava jogando mesmo, mas eu amava. Com o tempo, acabei até ficando melhor do que ele em alguns jogos”, lembra a auxiliar administrativa.
Desde o primeiro estágio, ela investe em games, consoles e acessórios. “Hoje tenho Playstation 4 e [Nintendo] Switch. Jogo em console, no celular, no PC, em tudo que você imaginar. Quando posso, pratico o dia inteiro e só paro para comer e ir ao banheiro”, conta. O entusiasmo da jovem é contagiante, mas contrasta com algumas das situações constrangedoras que ela já enfrentou durante partidas, simplesmente pelo fato de ser mulher.
Michele compartilha de um sentimento vivido pela maioria das meninas e mulheres que praticam jogos eletrônicos, seja por lazer ou profissão. Para fugir das grosserias e do assédio, muitas preferem até utilizar nicknames masculinos durante as partidas.Isso ocorre principalmente nos jogos on-line. Já ouvi desde ‘chupa uma piroca’ até ‘perdermos porque tem uma mulher no time’. Muitas vezes, senti culpa por ser mulher. Tive vontade de parar de jogar, mas respirei fundo e continuei.
Michele Pandini, auxiliar administrativa
A influenciadora Nicolle Merhy, conhecida como CherryGumms, de 21 anos, ex-atleta de Rainbow Six: Siege e atual CEO do time Black Dragons, é uma das grandes defensoras do respeito às mulheres e às transexuais na indústria de games. “Quando jogava, nos chats, eles falavam muito mais sobre a minha beleza do que sobre o meu jogo em si. Sempre tive muita raiva de quando eu estava ganhando e as pessoas diziam ‘ah, deve estar dando para os moleques para ganhar’”.
Há dois anos, Cherry publicou um vídeo em seu canal no YouTube que viralizou nas redes sociais. Nele, a jovem pedia respeito aos jogadores masculinos. Às meninas, pedia que não desistissem. “Chorei muito. Entrava no chat e lia ‘Cherry puta’, ‘Cherry piranha’. É falta de respeito comigo, é falta de respeito com o sexo feminino. Não falem isso. Eu jogo bem e tem muita mulher que joga bem”.
Cherry conta que decidiu usar a influência na internet para ser uma voz contra o machismo. “Hoje estou com sangue nos olhos para que meu time seja o melhor do Brasil, principalmente por ser de uma mulher. Quero me dedicar naquilo que tenho por excelência”, afirmou.
Nicolle esteve ao lado de outros grandes nomes dos e-sports no painel Elas Jogam no Hard, durante a convenção GameCon, em Brasília, para discutir a participação feminina na indústria de games. O evento contou com a participação de Daniela Blanco, CEO da Cyber Stars, e Bárbara Gutierrez, editora-chefe do site Versus.
Recentemente, as três também participaram da campanha #MyNickMyName, contra o machismo no universo on-line. Na ação, a ONG Wonder Women Tech convidou jogadores e youtubers homens para usarem nicknames femininos em partidas on-line e vivenciarem as experiências sofridas pelas mulheres.
GameCon
De 7 a 11 de novembro, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães (Eixo Monumental). Ingressos à venda on-line