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“Na hora que este país entrar em linha, vai ser muito difícil segurar a economia brasileira, com as vantagens competitivas que a gente tem. A gente não vai crescer menos que a média mundial”, afirmou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em conversa com o CEO do Banco XP, José Berenguer, nessa sexta-feira (30/8), durante a 14ª edição da Expert XP, em São Paulo.
Durante o painel “Cenário Econômico no Brasil: desafios de gestão fiscal e perspectivas de crescimento”, Fernando Haddad ressaltou que os analistas foram surpreendidos ao longo do ano em relação aos indicadores econômicos brasileiros.
“Se você pegar as projeções de mercado do começo de 2023, vai verificar que muitas se frustraram pelos bons resultados do fechamento do ano passado”, ponderou o ministro. “Previam 0,8% ou 0,9% de crescimento, mas chegamos em 2,9% [em 2023].”
Haddad acrescentou que a inflação no país está controlada e que o crescimento do PIB vem sendo revisado para cima. “O nosso problema, no começo do governo, era saber se conseguiríamos sair de um déficit de 2,3% do PIB para um déficit zero em 1 ano. E eu me impus esse desafio, de zerar o déficit em 2024, que todo mundo achava impossível.”
Para este ano, o ministro enxerga que o déficit possivelmente ficará dentro do intervalo de tolerância estabelecido, de até 0,25% do PIB. Segundo Haddad, no ano passado, se não fossem as despesas oriundas de decisões judiciais, o governo já teria cumprido o déficit fiscal de 1% do PIB.
“A economia brasileira reage quando você começa a apertar os parafusos”, frisou ao comentar sobre o trabalho do Ministério da Fazenda ao longo dos últimos dois anos ao buscar aumentar a arrecadação e reduzir os gastos.
Contudo, mesmo com o cenário positivo apresentado pelo ministro, ainda há estresse nos ativos financeiros. Haddad credita o motivo à comunicação falha do governo, às incertezas inerentes à transição na presidência do Banco Central, a mudanças no regime de metas de inflação e às dúvidas em relação à política fiscal.
“Mas estou bastante tranquilo que essas coisas vão convergir e os fundamentos vão falar mais alto que a especulação ou a incerteza que ainda paira no horizonte. Vamos terminar o ano bem, com a bolsa subindo e PIB reajustado para cima, com baixo desemprego e inflação dentro da meta”, assegurou.
O ministro ainda amenizou os recentes atritos de comunicação entre governo e Banco Central, pois, conforme ele, é normal em uma democracia haver críticas à condução da política monetária.
“Penso que numa democracia, assim como o meu trabalho é avaliado todo dia pela imprensa, tem um certo tabu em relação à política monetária, como se a política monetária fosse uma coisa técnica e a política fiscal não fosse”, explicou.
“E eu diria que o meu emprego é bem mais difícil do que o dele [Campos Neto], eu quase me indiquei para presidência do Banco Central para trocar de cadeira, porque eu acho mais fácil lá”, brincou.
Haddad complementou que a situação atual também segue volátil no cenário internacional, principalmente nos Estados Unidos e no Japão, que trazem ainda mais estresse aos ativos de economias emergentes.
Sobre a Reforma Tributária, o ministro defendeu que o Brasil sairá do “pior regime tributário do mundo” para um aceitável e que isso se trata de um “milagre”.“No que depender de mim, o arcabouço está estabilizado e ele tem de ser cumprido a partir de agora. Se não for possível toda a arrecadação que a gente pretendia para repor a base fiscal perdida nos últimos 10 anos, se vai precisar de mais 1 ano para repor, nós temos que ser muito claros em relação a isso, explicar para o Congresso e repactuar. Mas, na minha opinião, o arcabouço fiscal está consolidado”, garantiu.
Além disso, o ministro adiantou que o Orçamento do próximo ano deve trazer filtros mais eficientes aos programas sociais e está confortável com os recursos a serem endereçados. De acordo com ele, é importante que haja sustentabilidade no lado fiscal para a redução de juros e garantia de crescimento econômico equilibrado.
Haddad também voltou a defender o fim da desoneração da folha de pagamentos. “A Fazenda defendia a tese de que não tínhamos que estender a desoneração sobre a folha de pagamento. Nós entendemos que o programa tinha 12 ou 13 anos de existência, não tinha produzido os melhores resultados”, observou.
“O Senado tinha uma opinião contrária, é da democracia, mas não só estendeu por 5 anos como estendeu para municípios abaixo de um determinado número de habitantes”, lamentou.
“Tudo dando certo, nós teremos uma escadinha de reoneração, tanto de municípios quanto dos setores. A lei do Perse também foi revista e colocou-se um teto, o que também foi uma negociação difícil com o Congresso Nacional”, esclareceu. “A Fazenda nunca saiu da política de fazer uma revisão do gasto primário e do gasto tributário para nós atingirmos o equilíbrio das contas públicas.”