atualizado
Apesar de ocuparem apenas 24% da área agrícola do país, os empreendedores rurais respondem por 38% do valor bruto da produção e por 34% das receitas no campo. Inclusive, são responsáveis pela comercialização de mais de 70% da comida que alimenta os brasileiros, configurando-se na base da economia de 90% dos municípios e garantindo a segurança alimentar do país.
Além de fornecer produtos saudáveis, os empreendedores rurais empregam 77% dos trabalhadores no campo, gerando 10,1% do PIB do Brasil, o que torna o setor o 8º maior produtor de alimentos do mundo. Esses dados são do Censo Agropecuário, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
E esse número só tende a crescer: houve um aumento de 137% de pequenos negócios rurais entre 2020 e 2022, totalizando 163,6 mil, conforme dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
Assim, buscando catalisar esse cenário, foi lançada nessa quarta-feira (17/4) a Frente Parlamentar Mista em Defesa do Empreendedorismo Rural (FPMDER), que reúne 212 congressistas, de diversas correntes políticas, para promover ações públicas que fortaleçam os negócios no campo, com foco no desenvolvimento sustentável.
O principal objetivo é impulsionar as capacidades produtivas e o desenvolvimento socioeconômico dos empreendedores rurais. E assim contribuir para o crescimento das cadeias produtivas e impactar positivamente na economia nacional.
O evento foi realizado na Câmara dos Deputados, com a presença de mais de 200 pessoas, incluindo deputados federais e senadores e o presidente da Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares do Brasil (Conafer).
“A cultura do negócio rural precisa de um protagonismo, em que possa ser inserido numa discussão para impulsionar o crescimento e trazer tecnologia, emprego, desenvolvimento e futuro. Essa Frente, ela traz essa oportunidade.”
Carlos Lopes, presidente da Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares do Brasil (Conafer)
Novo campo da política brasileira
Com um olhar pragmático para o campo como um setor que pode gerar lucros socioeconômicos ao Brasil, a FPMDER focará em políticas públicas inovadoras, fortalecimento das capacidades produtivas, promoção do desenvolvimento socioeconômico no campo, defesa dos interesses dos empreendedores rurais e busca pela sustentabilidade ambiental.
“Queremos dar destaque para aqueles que produzem e colocam alimento na mesa do povo brasileiro. Somos a ‘turma da solução’”, afirmou no evento o deputado federal Fausto Pinato, presidente da Frente Parlamentar.
“A agricultura familiar é da roça para a mesa. E, estimulando o empreendedorismo, os produtores vão se organizando. Então, a cadeia produtiva fica muito mais eficiente, e essa demanda setorial de determinados alimentos vai se organizando, diminuindo preços, aumentando o volume, e vai chegar à mesa de todos os brasileiros. É isso que nós defendemos”, completou o senador Chico Rodrigues, vice-presidente da Frente.
Foco no empreendedor do campo
Por isso, o foco é no empreendedor do campo, como destaca Pedro Neto, secretário-adjunto da Secretaria de Inovação, Desenvolvimento Sustentável, Irrigação e Cooperativismo, que representou o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) no evento de lançamento.
“São profissionais que trabalham muito e encaram uma série de fatores sobre os quais não têm controle direto, como clima e eventos extremos, que estão cada vez mais frequentes. Vamos deixar esse conjunto de brasileiros mais preparados para o mundo do agronegócio”, destacou o secretário. Pedro Neto ainda afirmou que o número de pessoas que compareceram ao evento mostra a importância da pauta.
“O empreendedorismo rural vem para consolidar a produção agropecuária brasileira e torná-la mais preparada para o encadeamento produtivo, que tem que acontecer para que o produtor da agricultura familiar tenha melhor capacidade para vender a produção, gerar renda para propriedade e, assim, contribuir com o crescimento do Brasil como um todo”, ressaltou Neto.
Liderança indígena e assessora da presidência da Conafer, Arariquele Cardoso ponderou que esses objetivos já estão sendo alcançados em terras de povos originários. “Um ótimo trabalho.”
Bioeconomia
A Frente Parlamentar também pode gerar um avanço na economia verde no Brasil, como pontuou o deputado federal Fausto Pinato. E o apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) será essencial para essa missão.
Durante o lançamento da FPMDER, a diretora da instituição, Selma Lucia Lira Beltrão, destacou como a biotecnologia pode ser a chave. “São milhares de produtores que serão beneficiados por um esforço de integração de pesquisa, assistência técnica e um conjunto de políticas públicas que possam minimizar os desafios que ainda temos.”
União legislativa
A criação da Frente Parlamentar Mista em Defesa do Empreendedorismo Rural representa um passo importante para ampliar a representatividade e a influência dos empreendedores rurais nas decisões políticas do país.
O presidente da Conafer ainda pontuou que a instituição já defende o empreendedorismo como um viés de solução para o mercado, produção e trabalho. “Então, ter esse apoio do Congresso Nacional é muito importante, já que no Brasil se estrutura os pensamentos dentro do Legislativo”.
Já para César Fernando Schiavon Aldrighi, presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), é fundamental ter uma articulação entre os produtores rurais com o Congresso e os parlamentares. Já que os consumidores estão próximos dos empreendedores do campo, essa comunicação ainda facilitará o acesso aos produtos.
“Nós temos um grupo grande de produtores rurais que já industrializam a sua produção. O desafio é nós articularmos, junto com o Parlamento, para identificar todos os gargalos da legislação e trabalhar em conjunto pelo desenvolvimento das regiões dos assentamentos”, acrescentou o presidente do Incra.
A união de parlamentares de diferentes correntes políticas já é um fator que pode contribuir para o sucesso da causa, segundo o presidente da Frente.