atualizado
É indiscutível que a tecnologia e a internet mudaram a forma de se fazer comunicação no mundo. E se as mudanças já eram muito rápidas, a pandemia de Covid-19 acelerou ainda mais esse processo. Acompanhar essa rotina de transformação digital foi e ainda continua sendo desafiador, visto que os profissionais precisaram reaprender alguns conceitos e aprender novos para não ficar para trás.
Esse foi o mote do quinto painel do tech talk “Impacto Digital: Conectividade Para Transformar Realidades, Negócios e Cidadãos”, promovido nessa quarta-feira (10/11), de forma híbrida, com produção do Grupo Metrópoles, realização do Parque Tecnológico de Brasília – BioTIC, patrocínio da Brasal e apoio do Sebrae e da Rede Hplus.
Para o bate-papo foram convidados Marcio Coelho, CEO da Brivia, empresa especializada em transformação digital; e Eduardo Vieira, Head de comunicação do Softbank, corporação multinacional de telecomunicações e internet.
No início da conversa, o CEO da Brivia citou o Web Summit, um dos maiores eventos de tecnologia do mundo, promovido recentemente em Portugal, que abordou temas como o embate entre o trabalho presencial e o home office. Na ocasião, Coelho também explanou sobre as organizações que sofreram uma aceleração para revisarem os planos frente à comunicação, principalmente os aspectos éticos de segurança de dados dos clientes.
Para complementar a fala do colega, Eduardo Vieira comentou sobre a perspectiva de criação de novas startups junto ao uso intensivo da tecnologia e como isso provocará transformações significativas na sociedade e no mercado da comunicação.
“O branding (gestão de marcas) é o que ajudará a definir o que essa empresa será no futuro. Na prática, é algo que vai influenciar o público-alvo com uma atuação que faça sentido a longo prazo. No fundo, a comunicação continuará sendo essencial e cada vez mais importante para empresas com ecossistemas de inovação”.
No quesito da consolidação de uma marca, Marcio Coelho afirma que o desafio da instituição é concatenar valores junto ao público-alvo e em como as empresas se comunicam de maneira geral.
Se uma empresa não comunica os valores de maneira correta não estará cumprindo o respectivo propósito. No entanto, se ela passa a dirigir-se melhor ao público, tudo se torna mais fácil. Concomitante a isso, Vieira aconselha o off the talk. “As crises costumam acontecer quando uma empresa não está preparada, quem tem uma maneira autêntica ou mostra legitimidade sofrerá menos impactos”, explicou.
O CEO da Brivia concorda: “Quando uma instituição não tem visão ou coerência, a dificuldade diante de um problema se tornará um embate. Isso porque as pessoas querem ouvir temas que são importantes para elas. Logo, se preparar para um diálogo palpável é imprescindível, ancorado e blindado para possíveis crises”.
Geração Z e a individualidade
Muito tem se falado na geração Z, que compreende indivíduos nascidos entre os anos 1990 e 2010, e sobre qual a maneira mais correta de falar com esse público. O primeiro requisito é promover um diálogo alinhado às tendências contemporâneas e procurar entender o que essas pessoas consomem na internet. Além disso, a marca que não tiver uma governança sólida tende a sofrer com esses jovens.
“Muito mais que isso é que, hoje em dia, não conseguimos mais falar com essa geração apenas por um canal, visto que é necessário entender como cada plataforma se comporta no cotidiano das pessoas e o tempo que elas gastam em cada uma. Cada rede é única e tem sua linguagem própria. Não é uma geração fácil de se comunicar”, ressaltou Eduardo Vieira.
Os ingredientes para manter o diálogo são outros e um deles é a individualidade. Cada pessoa quer ser tratada de forma única. “Empresas gigantescas têm dificuldades de lidar com esse nicho, atentar a essa diferença é um passo a mais para alinhar-se à transformação digital. Não é muito difícil compreender, mas é um jogo de quem se adapta rapidamente. Tem que conversar com o indivíduo da forma que ele gosta”, assegurou Marcio.
Segurança da informação
Em vigor a partir deste ano, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) regula as atividades de tratamento de dados pessoais na internet. Entender como essas medidas que visam a proteger o usuário das redes impactarão diretamente no Marketing Digital é uma discussão acalorada.
Eduardo Vieira começou a navegar na internet em 1994 e conta que uma das coisas que mais o impressionou ao longo desse tempo foram os e-mails enviados pela Amazon com recomendações que parecem ter sido tiradas da cabeça dele.
“Ali começou um trend e percebi que comecei a abrir mão da minha privacidade para receber serviços personalizados. Hoje, temos uma extrapolação desse fenômeno e pontuamos até onde estamos dispostos a abrir mão dos nossos dados. Essa resposta é complexa, pois depende de gerações, culturas e de uma análise individual”, cravou.
Alinhado ao Head, o CEO da Brivia explica que o impacto vai muito além, mas que é necessário senti-lo na pele para fazer uso de informações para prestar um serviço de qualidade. “Várias vezes capturamos dados desnecessários porque não sabíamos o que fazer com eles, que só geravam custos. A LGPD permite essa captura, mas o grande segredo da questão é optar por pegar informações que serão úteis”, concatenou.
Saúde mental
Durante a pandemia, o consumo de conteúdos na internet teve um grande aumento. Com boa parte da população tendo aulas remotas, home office e evitando sair de casa, a tecnologia ganhou ainda mais espaço. O excesso de informação, porém, levou muita gente ao esgotamento profissional, conhecido como a Síndrome de Burnout, e a outras doenças.
Um levantamento feito pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) durante a pandemia constatou que sintomas de ansiedade e depressão afetam mais de 47% dos colaboradores no Brasil e também na Espanha. Outro dado relevante do Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados (IBPAD) junto ao movimento #MenteEmFoco, que convida instituições a reconhecerem a importância da saúde mental, mostrou que 70% dos entrevistados estão mais tensos e nervosos diante da ameaça do novo coronavírus.
Por isso, buscar o equilíbrio não só na comunicação, mas em todas as áreas neste período foi desafiador. Na visão de Coelho, as startups têm se preocupado bastante com a saúde mental como um todo e explicou que, neste tempo caótico, o excesso de informações foi tomando uma dimensão assustadora e frenética.
“A empresa precisa se preocupar em como seguir essa premissa frenética de produção de conteúdo e se preocupar em dar uma resposta completa ao usuário de uma plataforma. Não há como não cuidar da saúde mental, porque precisamos voltar à base de humanização, pois, no nível de uso da tecnologia que a gente chegou, precisamos tratar humanos como humanos e não como máquinas.”
Em ambientes dominados pela inteligência artificial, muitos têm se tornado “humanos robóticos”. Agora com a volta da interação pessoal, trata-se de outro processo de adaptação. “Com a Covid-19, o número de reuniões virtuais aumentou e a gente trabalha muito mais no sistema remoto, pois vamos emendando uma reunião a outra fazendo com que percamos nossa capacidade de socialização”, acrescentou Vieira.
O sistema híbrido também passa a ser uma preocupação, na visão da Softbank, não só pelo volume de trabalho que poderá ser prejudicial à saúde mental, mas pelo fato de não deixar de perder essa perspectiva. “Se não nos comunicarmos em todos os aspectos, teremos problemas e isso é um alerta sobre como lidar daqui para frente com nossas relações humanas”, finalizou Eduardo Vieira.
O tech talk Impacto Digital: Conectividade para Transformar Realidades, Negócios e Cidadãos debateu esse e outros temas sobre tecnologia. Assista na íntegra abaixo.