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Uma imersão criativa no Deserto do Atacama, no Chile, e em nós mesmos para encontrar a “luz interna”. Isso é o que o artista Bruno Stuckert propõe com a exposição fotográfica Desatar. Inspirado em aspectos da vida pessoal e profissional, Stuckert faz um trabalho de autodescoberta com fotografias que parecem pinturas de tão inusitadas.
“É muito desta procura por você, olhar um pouquinho mais para você. Estou nessa busca de olhar as coisas com mais carinho. Acho que é o carinho de observar as coisas com mais atenção.”
Bruno Stuckert, fotógrafo
Esse sentimento fica expresso em metacrilato, material usado para a impressão das imagens, com luzes de RGB (conjunto de LEDs) e serigrafias. O combo expande a mensagem das artes e aumenta a sensibilidade do visitante, que terá as próprias sensações e interpretações.
“[As imagens em metacrilato] parecem uma tela de computador, tem um brilho muito grande. [A luz] troca de cor sozinha. Tem toda uma mudança no lugar em quando se bate essa luz. Desaparece a montanha, troca de cor, o céu se transforma. A arte tem toda essa magia também.”
Curador da exposição, o artista visual e crítico de arte Carlos Lin completa que há intervenções artísticas no local expositivo que aumentam a subjetividade do projeto. Assim, cada visitante terá um “campo mais amplo de percepção”.
“Nós pensamos como um espaço imersivo, que tem alguns atributos particulares, do ponto de vista da ocupação do espaço, e garante essa vivência mais aprofundada das pessoas com a produção”, pontua o curador da Desatar.
“A gente [Carlos Lin e Bruno Stuckert] quer que as pessoas vivenciem um princípio de encantamento, tanto com a imagem quanto com o espaço. A junção dessas duas vivências garante uma profundidade maior na percepção e na fruição.”
Carlos Lin, curador da exposição Desatar, de Bruno Stuckert
Imersão
A exposição Desatar segue o ramo da dialógica, técnica adotada por Carlos Lin para incentivar a colaboração em processos artísticos. Até chegar no resultado que está exposto, os artistas se encontraram diversas vezes para alinhar o conceito do projeto e planejar a montagem.
“Numa primeira conversa, decidimos que o intuito da exposição era apresentar um pouco do resultado de pesquisa poética que ele fez numa vivência imersiva no Deserto do Atacama. Ele tem um elenco de imagens relativas a essa vivência”, explica o curador da exposição.
Desatar é a primeira exposição do artista, que é fotógrafo há mais de 28 anos. Durante a pandemia, ele sentiu a necessidade de embarcar em uma jornada para contar os próprios sentimentos na arte. Foi então que viajou para o Chile ao lado do primo, o também fotógrafo Ricardo Stuckert, para fazer um curso de astrofotografia no deserto.
Encantado com o local, ele buscou novas estratégias para registrar a beleza. “Essa coisa da visão de ficar olhando para o monitor da máquina. Estava perdendo a coisa mais mágica que era apreciar mesmo a natureza, sentir esse lugar mágico. No último dia, eu não levei minha máquina e só fui mesmo apreciar a natureza, as estrelas, o momento, o lugar que eu estava com as pessoas que eu estava”, relembra.
O resultado foi, inicialmente, expresso em fotografias. Em um segundo momento, se tornaram gravuras, que completam o cenário da exposição. “Bruno faz uma apropriação da linguagem fotográfica de um núcleo de produção que ele fez no deserto. A técnica é de longa exposição com a câmera fixa durante muito tempo fotografando as estrelas. Foi a partir desses registros que ele produziu umas gravuras em serigrafia.”
No processo de produção das obras, a esposa do artista estava grávida da primeira filha do casal, que hoje tem 3 anos. A paternidade também inspirou a visão dele sobre as paisagens do deserto, que se tornaram fotografias na exposição.
Deserto em Brasília
Para a experiência ser ainda mais interessante, as obras estão expostas nas paredes de uma antiga construção, transformada em um point cultural pelo Hidden, projeto que une música, arte e gastronomia para reativar espaços desativados no Distrito Federal.
A quinta edição do Hidden ocorre na Casa da Manchete, lugar importante para a história do Brasil e um dos ícones da arquitetura da capital federal. O espaço era sede da antiga revista e TV Manchete e ponto de encontro de amantes da arte. Projetado por Oscar Niemeyer em 1978, o local ficou esquecido até ser ambientado para o projeto.
É neste terreno cheio de narrativas e cultura que o artista Bruno Stuckert apresenta a exposição permanente da série Desatar. Para ele, é uma honra conseguir expor as obras em um local tão rico de história.
“Caminhando pela região da Casa da Manchete, tem um prédio à frente que é um destroço, uma outra instalação ali da propriedade que estava destruída. E eu falei: ‘cara, eu acho que aqui tem um lugar de trabalho pra eu poder fazer a exposição’. Eu vim reconstruir um espaço de uma vivência. Eu fiquei ali por quase um mês pintando, montando umas montanhas e construindo uma vivência ali”, conta o artista.
Disponível de 14 a 30 de setembro, a entrada da exposição é gratuita, mas sem acesso à programação do Hidden.
Futuros registros
Além das obras expostas na Casa da Manchete, outros registros da viagem ao Chile devem ser expostos. Bruno revelou ao Metrópoles que planeja exibir fotografias do deserto junto ao trabalho do primo, Ricardo. “Estamos nessa busca de outros lugares para expor”.
O próximo passo da nova fase da carreira de Bruno é o livro autoral Obrigado, Bahia, que será lançado ainda este ano. O projeto é uma “declaração de amor à Bahia em forma de poesia fotográfica”.
Desatar
Quando: até 30 de setembro de 2023
Onde: Hidden (como chegar)
Entrada gratuita, mas sem acesso à programação do Hidden