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Com demanda habitacional historicamente em crescimento acelerado, a capital federal, conhecida internacionalmente como uma das mais planejadas do mundo, há muito tempo se adapta e se reorganiza para que essa característica permaneça devidamente preservada. Por isso, um dos grandes desafios do Estado tem sido garantir os investimentos necessários para infraestrutura, ao mesmo tempo em que cidades se adensam ou novas regiões administrativas são criadas. Dados do Governo do Distrito Federal (GDF) mostram que o DF cria 16 mil unidades habitacionais todos os anos para acolher novos moradores que chegam à capital. Além de ofertar imóveis para venda, fornece saneamento, transporte, educação, entre outros serviços essenciais para garantir qualidade de vida à população.
No ano passado, o DF contava com 3.055.149 moradores, segundo dados do IBGE. A Companhia do Desenvolvimento do Planalto Central (Codeplan) prevê que até 2030 esse número chegue a 3,4 milhões de habitantes. Para suportar a demanda, o GDF tem anunciado uma série de investimentos com o objetivo de garantir que a infraestrutura das regiões administrativas esteja devidamente dimensionada para a demanda dos atuais e futuros moradores. Em julho de 2020, a Agência de Desenvolvimento do DF (Terracap) anunciou R$ 552 milhões em obras e melhorias em diversos pontos do DF. O objetivo, segundo a empresa, é melhorar as condições de infraestrutura, auxiliar no desenvolvimento socioeconômico e fortalecer a economia, mesmo em meio à pandemia de Covid-19.
Entre os investimentos estão construções de escolas no Itapoã, Recanto das Emas e Samambaia, assim como calçamentos, revitalizações, construção de parques e de quadras poliesportivas, instalação de equipamentos públicos, entre outros. Uma das principais frentes de investimento é a complementação das obras de pavimentação, drenagem e outras melhorias em Vicente Pires. A execução dos projetos na região começou em agosto de 2019 e segue até o ano que vem. No total, serão investidos mais de R$ 150 milhões a partir de convênio firmado entre a Terracap e a Secretaria de Obras.
Para este ano, a agência vai iniciar duas grandes obras que vão melhorar a qualidade de vida da população. São elas a Águas do DF, um investimento milionário para a construção de novas redes de drenagens de águas pluviais na Asa Norte. A promessa é acabar com os alagamentos registrados frequentemente na região, especialmente nas primeiras quadras. Outra frente de trabalho que será executada com recursos da Terracap é a troca do asfalto de toda a Via Estrutural.
Diretor técnico do órgão, Hamilton Lourenço Filho destaca que o trabalho feito para garantir infraestrutura nas cidades tem se dividido, basicamente, entre os novos empreendimentos, as ocupações já existentes e a evolução e melhoria do que já tem nas cidades. “Para os novos empreendimentos, estamos montando a infraestrutura antes. No caso das ocupações já em andamento ou consolidadas, precisamos atuar de forma constante, melhorando ou substituindo o que já existe. Um terceiro caso é o aumento de infraestruturas antigas, feitas antigamente, em outras realidades e com outra característica habitacional”, explica.
No caso de grandes condomínios já consolidados, mas ainda carentes de infraestrutura, a Terracap tem feito uma parceria com os moradores e o trabalho é realizado em conjunto. O GDF entra com o auxílio técnico e institucional e os moradores com a contratação e execução dos projetos.
Para o diretor, o maior desafio é lidar com o passivo de décadas. “Temos um passado de falta de infraestrutura muito grande, então, o desafio é resolver o passado, pensar e executar o futuro, mas tudo isso no presente. Vamos buscando mecanismos, mas a demanda é sempre crescente”, resume Hamilton Lourenço.
Atualmente, a Terracap vende terras públicas no Guará, entre as quadras 46 e 58, Jardim Botânico Etapa 3, Taquari, Recanto das Emas, Samambaia, Águas Claras, Riacho Fundo 2, Guará, Noroeste e Sobradinho. Nesses lugares, a empresa garante que a infraestrutura suporta novos moradores. Até o ano que vem, o GDF deve abrir licitação para a venda de terrenos em novas áreas de habitação, como a QE 60 do Guará, o Jóquei Clube, às margens da EPTG, e o Residencial Parque da Torre, chamado Taquari 2. Segundo a Terracap, a intenção é entregar os imóveis já com infraestrutura completa: pavimentação, drenagem, energia, água e esgoto, além de praça esportiva, equipamentos públicos, urbanização, entre outros.
O desenvolvimento ordenado e sustentável da capital do país é a bandeira do professor Frederico Flósculo, do Departamento de Projeto, Expressão e Representação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB). “O planejamento urbano é guiado por prioridades políticas e fundamentação científica. Quando não tem prioridade, perde tempo, dinheiro, inteligência dos fatos. Infraestrutura não é apenas tapar buraco nas cidades. É entender a vocação das cidades e ter clareza sobre isso. Brasília não é um polo de geração de empregos. Se quisermos nos transformar nisso, temos que seguir o modelo de São Paulo, e não aguentamos indústrias. Não é a nossa vocação. Precisamos ajudar no desenvolvimento dos municípios em volta do DF para descentralizar a população e garantir o crescimento sustentável de todos”, destaca o pesquisador.
Destaque no país
Apesar de precisar de constantes melhorias, Brasília se destaca entre as cidades brasileiras. Desde 2014, a empresa de consultoria Urban Systems realiza estudos para identificar as 100 melhores cidades para fazer negócios no Brasil. São levados em consideração fatores sociodemográficos, econômicos, financeiros, de transporte, infraestrutura e serviços. A última publicação, de 2019, colocou o DF em 16º lugar geral. Quando o assunto é infraestrutura, a capital federal aparece em 4º, ficando atrás apenas de São Paulo, Campinas e Guarulhos. A colocação é melhor do que em 2018, quando Brasília aparecia em 5º lugar.
O saneamento básico é um importante dado que também coloca o DF em destaque no cenário nacional. Em junho do ano passado, Brasília conquistou o 2º lugar entre as capitais brasileiras no que diz respeito à universalização do saneamento – em 2019, aparecia em 12º lugar. O ranking foi realizado pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), avaliando cinco indicadores: abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto, além de coleta e destinação correta de resíduos sólidos. Foram avaliados 1.857 municípios das 27 capitais brasileiras, com base em dados do Sistema Nacional de Informações de Saneamento (SNIS).
O Instituto Numbeo, banco de dados global com contribuição colaborativa em estatísticas relacionadas à qualidade de vida, entre outras, lista as cidades e os países com maior qualidade de vida no mundo. O relatório de 2021 mostra que Suíça, Dinamarca, Holanda, Finlândia e Áustria estão entre os cinco melhores países, levando em consideração dados como habitação, taxas de crimes percebidos e qualidade de saúde. O Brasil aparece em 62ª lugar.
Entre as cidades, as primeiras colocações ficam com Canberra e Adelaide, na Austrália, Wellington, na Nova Zelândia, Raleigh, nos Estados Unidos, e Zurich, na Suíça. Brasília, apesar de estar na 138ª posição, está à frente de Curitiba, Campinas, Porto Alegre, Belo Horizonte e São Paulo.
Na avaliação do professor Frederico Flósculo, os países europeus se destacam pela sustentabilidade e pelo equilíbrio econômico. “Eles mantêm uma estabilidade populacional, conservam recursos ambientais e crescem de forma sustentável. E a sustentabilidade não depende só de tecnologia, mas do modelo econômico em que as pessoas não queiram o superdesenvolvimento a qualquer custo”, destaca o especialista.
Ainda segundo o professor, os países com maiores desigualdades sociais e desequilíbrios ambientais são os que querem crescer economicamente de forma desordenada. “Podemos citar a China, os Estados Unidos, a Índia, algumas nações africanas e até o Brasil. São países que vão acabando com tudo que têm em troca da economia. Não podemos querer o desenvolvimento econômico desenfreado. Precisamos pensar de forma equilibrada, no futuro de todos e nas diferenças sociais e ambientais”, completa Frederico Flósculo.