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Um novo modelo de ensino, pensando no pós-pandemia, teve que ser desenhado às pressas por escolas e governos. Em alguns casos, a adaptação ganhou um novo nome: blended learning ou ensino híbrido. Apesar de muitas instituições planejarem uma volta gradual ao formato presencial, a maioria passou a oferecer aos pais a opção de alinharem as modalidades presencial ou remota.
Trata-se de uma nova dinâmica na educação que está sendo implementada especialmente para atender uma necessidade urgente. Porém, esse tipo de formato não é novidade nem no Brasil ou no exterior.
De acordo com a especialista Lilian Bacich, doutora em psicologia escolar e mestre em educação, o ensino híbrido – com essa nomenclatura – já vem sendo analisado no país há alguns anos. Ela, inclusive, participou de um grupo de estudos que trouxe a proposta para o Brasil em 2014.
Para não criar confusão com o novo conceito, Lilian explica que a simples mistura entre presencial e remoto não define ensino híbrido. Ele também não é somente a digitalização do conteúdo educacional.
A definição correta do ensino híbrido é um modelo de ensino com o uso de recursos digitais, seja na modalidade on-line ou presencial, para complementar as atividades em sala de aula. A grande diferença é a utilização de tecnologias para favorecer a aprendizagem dos estudantes, permitindo a personalização do ensino.
Isso na prática, segundo Lilian, significa promover um uso qualificado das tecnologias digitais. Além de permitir a imersão dos alunos em conteúdos que ele mais gosta, as ferramentas digitais compilam dados de cada um oferecendo ao professor uma visão detalhada das dificuldades e facilidades encontradas no processo individual.
Isso significa que o professor pode formular aulas que atendam a todos os estudantes. Uma aula expositiva feita igual para todo mundo não dá oportunidades para os estudantes aprenderem melhor.
Lilian Bacich, doutora em psicologia escolar e mestre em educação
Desafios
Na teoria, a ideia é ótima. Utilizar tecnologias digitais no processo de aprendizagem é, inclusive, um dos pontos previstos na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). No entanto, a realidade do Brasil impõe alguns desafios.
As baixas velocidade de conexão à internet disponíveis nas escolas, bem como a falta de equipamentos adequados, são questões que precisam ser resolvidas com políticas públicas pensadas para a implantação deste modelo. Além disso, muitos professores, na pré-pandemia, se queixavam de dificuldade de integrar os recursos digitais no dia a dia, e quase nunca os enxergavam como aliados.
A boa notícia é que houve um avanço no campo docente. Segundo Heloisa Morel, diretora executiva do Instituto Península, focado na formação de professores, a pandemia forçou os professores a estudarem e buscarem recursos, melhorando a percepção deles sobre o assunto. “Com o apoio das redes nas escolas e também nos meios digitais, eles conseguiram superar os desafios emergenciais”, disse.
A partir de agora, os docentes vão precisar de aprofundar para entender como podem criar uma nova experiência de aprendizagem para os alunos a partir do uso da tecnologia. “Isso demanda um novo conjunto de técnicas e habilidades, como curadoria das ferramentas, fluência digital, personalização do ensino em função dos alunos, como manter engajamento e protagonismo dos estudantes”, explica ela.
Escutar os educadores é fundamental para o desenho das novas soluções porque eles estão na ponta e vivendo os desafios.
Heloisa Morel, diretora executiva do Instituto Península
Modelo nas escolas
Para algumas escolas, o ensino híbrido vai permanecer, mesmo após a pandemia do coronavírus. O Colégio Ideal, em Brasília, já utiliza o modelo com sucesso.
Segundo Rani dos Santos Cocenza, coordenadora dos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio, com a pandemia, a escola aproveitou para tirar do papel outras ideias. Além de uma plataforma como vídeo aulas e personalização dos exercícios para os alunos, eles pretendem expandir o currículo. “Nossa principal inovação para 2021 é o Ecossistema de Aprendizagem Inovador, com soluções pedagógicas que complementam o ensino tradicional da sala de aula, incentivando a autonomia e aumentando o engajamento do aluno”, comenta.
Dentro do chamado Ecossistema, os alunos poderão optar por eletivas de inovação e de aprofundamento, pensadas para ir além do currículo tradicional.
Futuro
O modelo tem tudo para dar certo, afinal a educação brasileira só tem a ganhar com mais desenvolvimento da cultura digital, gerando um impacto na aprendizagem dos estudantes e maior personalização de experiências.
O momento atual pandêmico forçou a todos observarem as coisas que funcionam ou não, pois na educação não existe uma única solução. O mais provável é que cada escola e professor encontre sua maneira de ressignificar a educação a partir de agora.