Como preparar as escolas para a quarta revolução industrial?
Avanços tecnológicos estão alterando as atuais e futuras profissões e, por isso, o currículo escolar deve acompanhar essas mudanças. Entenda
atualizado
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A automação da mão de obra, cada vez mais presente nos processos industriais, vai impactar diretamente o futuro de algumas profissões. Isso porque avanços tecnológicos em todo o mundo estão promovendo uma verdadeira revolução, especialmente no mercado de trabalho. Novas demandas e, consequentemente, novas profissões vão surgir, especialmente aquelas ligadas à tecnologia. São áreas que terão crescimento expressivo nos próximos anos.
A principal causadora das mudanças seria a chamada quarta revolução industrial, ou Indústria 4.0, um conceito intensamente debatido desde 2016 e desenvolvido pelo alemão Klaus Schwab, diretor e fundador do Fórum Econômico Mundial. Segundo ele, a industrialização atingiu uma outra fase, que novamente “transformará fundamentalmente a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos”.
Em termos práticos, a indústria 4.0 tende a ser totalmente automatizada a partir de sistemas que combinam máquinas com processos digitais. Isso pode acarretar na eliminação de 5 milhões de vagas de trabalho nos 15 países mais industrializados do mundo.
No entanto, o processo de transformação beneficiará quem for capaz de inovar e se adaptar. Dados dos Mapa do Trabalho Industrial 2019-2023, elaborado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), estimam que a ocupação de condutor de processos robotizados apresentará a maior taxa de crescimento percentual do número de empregados para o período. Um aumento estimado em 22,4% nas vagas disponíveis, enquanto o crescimento médio projetado para as ocupações industriais será de cerca de 8,5%.
De acordo com estudo do Senai, 30 novas profissões devem surgir e se consolidar no mercado de trabalho nos próximos cinco a 10 anos. Engenheiro de cibersegurança, técnico em informação e automação, mecânico de veículos híbridos e projetista para tecnologias 3D são algumas dessas novas funções.
Segundo o gerente-executivo da Universidade Corporativa (Unindústria) da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Márcio Guerra, as profissões existentes deverão passar por um processo de requalificação, enquanto as formações universitárias, por exemplo, vão exigir maior base tecnológica do aluno. Ainda assim, ele afirma que é preciso tomar cuidado ao falar do surgimento de novas profissões e demandas, pois nem tudo poderá ser automatizado.
Na verdade, de acordo com Guerra, a principal mudança é de formação, já que as novas profissões exigirão muito mais qualificação socioemocional, por exemplo, a partir do domínio das chamadas habilidades do século 21, que incluem maior capacidade de comunicação, colaboração, resolução de problemas e trabalho em equipe.
Todas essas mudanças significam uma exigência muito maior com o currículo escolar, para que ele possa servir de base para o aprendizado mais qualificado dos estudantes, desde a inserção da tecnologia até o desenvolvimento de outras habilidades.
Letramento digital
Para a diretora de tecnologia educacional da Happy Code, Debora Noemi, a matriz curricular ideal deveria partir de um letramento digital. Ou seja, ensinar aos alunos tudo que está por trás do uso da tecnologia e não só a informática básica como é hoje. Isso significa a introdução em sala de aula de programação e robótica, além de outras atividades de perfil “mão na massa”.
“A tecnologia ajuda no desenvolvimento de diversas habilidades e não só das técnicas. A programação, por exemplo, contribui em organização, foco, persistência, trabalho em equipe”, lista a especialista. Segundo ela, nações como Reino Unido, Estados Unidos e Singapura já incluem isso tudo na estrutura curricular regular, em vez de apenas no rol de atividades extracurriculares, como ocorre em algumas escolas brasileiras.
Ainda assim, a turbinada no currículo das escolas é necessária e urgente, especialmente porque tanto o mercado de trabalho futuro quanto as instituições vão exigir que o profissional tenha um domínio básico de alfabetização digital. Além disso, estatísticas do Fórum Econômico Mundial apontam que 65% dos atuais estudantes do ensino fundamental vão trabalhar com profissões que ainda nem existem. “Por isso, os pais precisam preparar os filhos para o futuro”, finaliza Debora.
Educação do Amanhã 2019
Lançado em 2018 pelo Metrópoles, o projeto Educação do Amanhã tem o objetivo de discutir novas metodologias e conceitos do processo educativo, além de estimular novas habilidades nos jovens do século 21.
Neste ano, ao longo de duas semanas, o portal publicará uma série de conteúdos relacionados às mudanças na área da educação: o que esperar da escola do futuro, o universo tecnológico e as tendências no processo de aprendizagem. Além, é claro, do novo papel do professor diante deste cenário repleto de desafios.
A iniciativa tem patrocínio da Casa Thomas Jefferson, Colégio Ideal, Colégio Objetivo, AISEC e Colégio Marista João Paulo II.
O encerramento do projeto será marcado com a realização de um seminário no auditório do Edifício Íon, na SQN 212, Asa Norte (DF), que incluirá palestras inspiracionais, impactantes e reflexivas sobre como o processo educacional está em transformação nos dias atuais.
As inscrições são gratuitas e podem ser feitas pelo Sympla. Confira as palestras:
Educação para o século XXI
Palestrante: Rui Fava
A sala de aula inovadora
Palestrante: Fausto Camargo
Culturas de pensamentos e investigação na escola
Palestrante: Clarissa Bezerra