metropoles.com

Descubra artistas do DF que se reinventaram no mundo virtual

Cantores, artista digital, galerista e produtora teatral compartilham as dificuldades e a superação do setor cultural durante a pandemia

Unplash/Divulgação
palhaço tocando violino
1 de 1 palhaço tocando violino - Foto: Unplash/Divulgação

atualizado

Texto elaborado pelos alunos de Jornalismo do IDP Álef Midrei, Iago Simon e Mariana Albuquerque sob supervisão das professoras Isa Stacciarini e Bárbara Lins

A pandemia do novo coronavírus e as consequentes medidas de distanciamento social foram responsáveis pela paralisação de diversas atividades econômicas no Distrito Federal. Dentre todas essas limitações, o setor de produção cultural foi um dos que mais sofreram as consequências da crise sanitária que já completa 16 meses. 

Contudo, a inovação por meio da digitalização de conteúdos e, também, a resiliência de artistas em não abandonar as produções mesmo em períodos de dificuldade, possibilitam a revitalização de um setor que aguarda, ansioso, pelo fim desse período. 

Conheça, a seguir, histórias de artistas independentes, de uma produtora teatral e de uma galerista de arte que trabalham preenchendo o quadradinho do DF com cultura e entretenimento. 

O Curupira

O Curupira, como é chamado artisticamente, tem 23 anos e é rapper, dançarino e cineasta. Descendente de família paraibana, esteve envolvido com a arte desde o berço. Graças as origens, sofreu grande influência na infância de MPB e Forró Pé de Serra. Nessa mesma época, se apaixonou pela dança. O nome artístico surgiu do amor que sente pela nacionalidade. Sempre quis ser único na dança (antes de migrar para o RAP), portanto pintou o cabelo de vermelho para fazer uma relação entre o nome artístico e a aparência.

Grande crítico da situação brasileira atual, o Curupira sempre teve em mente a falta de incentivo que os artistas independentes têm, principalmente os de cultura periférica. Ele se vê como privilegiado conforme as capacidades e possibilidades. Reconhece que, durante a pandemia do novo coronavírus, conseguiu evoluir como artista, se aprimorando cada vez mais naquilo que sabe fazer, como ele mesmo disse.

“O mais difícil para um artista não é se tornar bom no que faz, é saber o que vai fazer com o que sabe fazer”

artista, o Curupira

Quando questionado sobre as dificuldades de ser um artista independente, principalmente durante todo o processo de quarenta, ele aconselha ter alguém de confiança para poder ajudar nesta caminhada. “Eu consegui alguém que me ajudava nesse aspecto e creio que isso seja bom para todos”, destaca.

André Brandão

André Brandão, conhecido artisticamente como Seu Brandão, 19 anos, é rapper e ator de teatro. Nascido no Pará, em São Félix do Xingu, morou em diversos lugares do Brasil ao longo da vida, principalmente no Entorno do Distrito Federal. Sua cidade natal é território indígena, então desde o berço esteve cercado da cultura da população indígena da cidade. Aos 6 anos, começou a rotina de mudanças. 

Iniciou a trajetória no teatro até que começou a frequentar as batalhas de freestyle do DF e, com grande incentivo do  irmão Luiz Henrique, se apaixonou pelo RAP e por poesias.

André Brandão conta que, com o início da pandemia, o choque maior para ele foi o fato de ter que fazer as reuniões teatrais de forma online, interpretando personagens e passando falas apenas para uma câmera de celular. Porém, considera que foi um timing para os trabalhos no RAP. Ele conseguiu fazer uma pausa para poder focar no sonho artístico: conseguir ascensão no RAP.

Brandão disse, também, que um dos contratempos de fazer arte no Brasil é o fator dinheiro. Comenta que o artista brasileiro, por falta de suporte e incentivo governamental, tem que exercer diversos trabalhos para poder se sustentar. 

Trippie Jack

 

Trippie Jack, um artista de artes plásticas e ilustrações digitais, 20 anos, começou na arte de uma maneira natural. Quando ainda adolescente, estava fazendo um desenho sem nenhuma intenção e uma  amiga o incentivou a investir na arte. Se entusiasmou e decidiu fazer o curso de Artes na universidade para, de fato, se aprimorar profissionalmente.

No início da pandemia, Trippie conta que usou e abusou da arte para poder “se salvar” nesse momento de isolamento social. Continuou usando os momentos livres para estudar, praticar e aprimorar os desenhos e trabalhos, sejam grafitados ou digitais.

Apesar de existirem grandes referências no solo nacional, Trippie considera o fato do brasileiro valorizar mais a arte estrangeira do que a nacional. Outro fator que atrasa o crescimento artístico no Brasil é o poder que o público tem, mas mesmo assim não valoriza a arte e os artistas como deveria.

Por outro lado, ele reforça a felicidade a respeito dos artistas nacionais estarem cada vez mais unidos, perpetuando e valorizando mais a arte brasileira, independentemente de qual seja. 

Ana Vitória Rabelo

Ana Vitória Rabelo, de 23 anos, é atriz e produtora teatral brasiliense formada em artes cênicas. Ela conta que alguns teatros fecharam, pois, de fato não conseguiram se manter. “O suporte para artistas independentes no DF é cada vez mais incerto e acaba que no fim estamos tentando nos adaptar a essa nova realidade”, afirma. 

Ana não é apenas atriz, mas também trabalha na rede particular de ensino como professora, onde recebe a principal renda. Sobre a pandemia, Vitória conta que a instabilidade traz aprendizado e que teve que ocupar um novo lugar de experimentação.

Levando a tecnologia como o principal veículo da pandemia, a artista conta que diversos festivais de teatro migraram para plataformas digitais. “Isso abriu espaço para o público de alguma forma matar a saudade do teatro, mesmo não sendo a mesma coisa”, comenta.  Ao mesmo tempo, ela se mostrou crítica à ideia do teatro on-line. 

“Na mesma medida que alcançamos novos públicos, que outrora não iam ao teatro, o formato digital por vezes enfraquece e ou enrijece algumas explorações estéticas

atriz e produtora teatral, Ana Vitória Rabelo
 

Patrícia Iunes de Ávila e Silva

 

Patricia Iunes de Ávila é proprietária da ArtBSB Escritório de Arte há 16 anos e conta as dificuldades que os empreendedores da arte visual enfrentam. A galeria adotou todas as medidas de isolamento e fez uma certa “quota de sacrifícios” para manter a segurança. 

Também passou por um processo de readaptação ao novo e manteve os clientes e o comércio de forma on-line. Com as redes sociais, conseguiram alcançar um público novo. “Em algumas situações lidamos com produtos cuja movimentação financeira é lenta, portanto a cautela e a paciência são inerentes ao nosso trabalho”, comenta. 

Sobre a adaptação na pandemia, Patrícia frisou que a arte se expandiu para o  meio virtual, algo que na opinião dela é indispensável para a cultura.

“Tenho clientes que resistem à ideia de adquirir uma obra de arte sem vê-la pessoalmente ou de obter detalhes a respeito do processo criativo do artista, apenas através de textos encontrados na internet”

dona da ArtBSB Escritório de Arte, Patricia Iunes de Ávila

A empreendedora considera que os prejuízos causados pela Covid-19 não foram tão grandes para a ArtBSB, pois a empresa tem um caráter individualizado e insistiu em investir em outros trabalhos.

Patrícia contou que a pandemia influenciou de maneira expressiva os artistas e que as obras estão passando por uma mudança. “Para alguns, a pandemia favoreceu uma introspecção necessária, o estudo e a consequente reformulação ou ratificação de conceitos e temas para futuras produções mais elaboradas. Há os que se voltaram para as questões de cunho pessoal ou que viram na reclusão uma oportunidade de conexão com sentimentos e questões pertinentes à espiritualidade”, conta

Enquanto a crise sanitária não chega ao fim, grande parte dos centros culturais, as galerias e os teatros do DF permanecem vazios. 

ArtBSB Escritório de arte // Patrícia Iunes

 

O que diz a Secretaria de Cultura do DF?

O subsecretário de Fomento e Incentivo Cultural, João Moro, afirmou que durante o período de pandemia a Secretaria de Cultura atuou para continuar mantendo o funcionamento do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) no Distrito Federal. “Mesmo com os eventos parados, o FAC continua pagando os agentes culturais. A gente paga o agente cultural que não pode realizar o evento, mas ele ainda tem o dinheiro em caixa para arcar com os fornecedores antecipadamente”, explica.

Quando questionado sobre o futuro do setor cultural no Distrito Federal, o subsecretário pareceu ter uma visão otimista quanto a uma possível recuperação do setor em um período após pandemia. “Eu vejo que a gente tem uma demanda super reprimida, então a partir do momento que os eventos retornarem, todo mundo vai arrebentar de ir para evento”, opina. 

 Por último, o subsecretário reforçou que a pasta continuará os trabalhos para incentivar produtores culturais brasilienses. “Para o futuro, a gente busca sempre aperfeiçoar as políticas públicas que tem dado certo e sempre melhorar o fomento da cultura no DF.”

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?