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Qual o sistema de saúde mais adequado para a nossa realidade? Foi em busca dessa resposta e de outras pertinentes à saúde suplementar que cerca de 1.200 pessoas se reuniram de 3 a 5 de outubro na 52ª Convenção da Unimed do Brasil, em Brasília (DF). No evento foi traçado um cenário global do setor, debatendo diferentes estratégias para tornar os planos de saúde mais eficientes e sustentáveis, com o objetivo de serem acessíveis para uma parcela maior da população.
De acordo com o presidente da Unimed do Brasil, Omar Abujamra Junior, sem sustentabilidade não é possível promover inclusão: nem no Sistema Único de Saúde (SUS) nem nos planos de saúde. “Precisamos construir e fortalecer, juntos, uma política nacional e integral para a saúde, que amplie o acesso e assegure direitos de cidadania sob o prisma da equidade, que estimule o desenvolvimento”, acentuou.
Hoje, os planos de saúde atendem a 25% da população brasileira e, dessa forma, contribuem para desafogar a demanda no SUS.
“A Unimed defende um marco regulatório moderno e estável, que permita levar acesso à cobertura pelos planos de saúde para mais brasileiros”.
Omar Abujamra Junior, presidente da Unimed do Brasil
A solenidade de abertura contou com a participação do vice-presidente do Brasil, Geraldo Alckmin; do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira; do ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e corregedor nacional de Justiça, Luis Felipe Salomão; do presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Paulo Rebello; do presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), José Hiran da Silva Gallo; do presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), Cesar Eduardo Fernandes; e do presidente da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), Marcio Lopes de Freitas.
Com o tema “Inovação, Inclusão e Cooperação na saúde”, a Convenção trouxe palestras e debates sobre os desafios da saúde suplementar; o papel da inovação digital; como promover a incorporação sustentável de novas tecnologias; a segurança dos pacientes e o caminho para a coordenação do cuidado; e o diálogo do setor com a sociedade e os poderes públicos.
Foram destaques na programação a palestra do consultor Mark Britnell, que é autor do livro “Em busca do sistema de saúde perfeito”, e o painel “Sustentabilidade da saúde: perspectivas pública e privada”, que teve a participação da coordenadora-geral de Atenção Hospitalar do Ministério da Saúde, Iris Vinha, do presidente da Seguros Unimed, Helton Freitas, e do diretor de provimento da seguradora, Luis Fernando Rolim Sampaio.
Sustentabilidade e inclusão na Saúde
O caminho para se chegar ao sistema de saúde mais eficiente começa pela inovação, segundo Mark Britnell, que também é professor e pesquisador na University College London e na Universidade de Toronto. “É dessa forma que chegaremos a um futuro próspero. Afinal, a saúde é um catalisador econômico, que gera riqueza, e humano, que acelera a recuperação de vidas”, afirmou.
Porém, o consultor pontuou que inovar não é um processo fácil, tanto por questões políticas quanto burocráticas. “Todos os sistemas de saúde, basicamente, enfrentam os mesmos desafios, a começar pela distribuição de forma igualitária.”
“Para caminharmos rumo a uma saúde mais igualitária, é necessário um processo de adaptação. É preciso, então, criar um ecossistema em que pessoas sejam valorizadas e encorajadas a pensar. Quando muitas pessoas pensam em inovação, sim, há ideias brilhantes.”
Como exemplo desse parâmetro, o pesquisador citou os Estados Unidos e o Reino Unido, que estão à frente na indústria farmacêutica e de ciências em saúde. “Isso ocorre por vontade política e competência de clínicos que fazem a inovação acontecer”, destacou.
Inovação tem diferentes conceitos. Porém, para Britnell, ela só ocorre quando abrange: invenção – algo novo, adaptação -, novos formatos e difusão – compartilhamento.
O docente apresentou um cenário de evolução na saúde, mas um retrocesso na qualidade de vida dos mais vulneráveis. “Apesar da expectativa de vida ter aumentado nos últimos anos, o número de pessoas em condições de situação vulnerável não diminuiu consideravelmente. Eis um problema”, apontou.
Inteligência Artificial
Para contornar esse cenário, em que os avanços na saúde permitem que as pessoas vivam mais, mas o número de pessoas em vulnerabilidade social não reduz, é urgente pensar em novas terapias, ensaios clínicos e testes. “É necessário que sistemas de saúde, como a Unimed, lidem com novas doenças; façam testes. Mas, isso leva anos. Por esse motivo, o uso da Inteligência Artificial (IA) faz a diferença e acelera o processo”, ressaltou Britnell.
O consultor defendeu o uso consciente da Internet das Coisas, abordando a capacidade da IA na gestão de fluxos. “Ela otimiza os serviços médicos, de enfermeiros, fisioterapeutas, técnicos e demais profissionais da saúde”, salientou.
A IA é capaz de reduzir as internações em 70%. “Como exemplo, temos a Arábia Saudita, com sala de monitoramento de 800 leitos de tratamento intensivo”, destacou o pesquisador. Outro modelo de inovação pautado foi a introdução de um novo profissional no sistema de saúde. Dessa vez, o exemplo foi da África do Sul. No caso, trata-se do motivador de saúde, que incentiva as pessoas a levarem estilos de vida mais saudáveis.
Perspectivas pública e privada
O setor público ainda sofre com desafios pós-pandêmicos, como o gargalo de exames, consultas e cirurgias, na visão da coordenadora-geral de Atenção Hospitalar do Ministério da Saúde, Iris Vinha. “Foi exigida toda a oferta das redes privada e pública para dar conta do cenário”, ressaltou.
A coordenadora avaliou que o sistema de saúde brasileiro avançou pouco, deixando a desejar, por exemplo, em relação a casos de complexidade. Para ela, o SUS sofreu ataques, como o desfinanciamento da área de cardiologia, devido à falta de organização.
A profissional reforçou que, claro, os serviços podem melhorar, mas estão sobrecarregados, no sentido de já estarem atuando com a capacidade máxima. “Ainda temos o complemento da filantropia, mas não é o suficiente”, reiterou.
Além disso, reforçou a importância do investimento em policlínicas; redes de urgência e emergência; aprimoramento de residências; telessaúde e transporte sanitário.
Para falar da perspectiva da saúde suplementar, o diretor de Provimento da seguradora, Luis Fernando Rolim Sampaio, trouxe um panorama do atual cenário e elencou quatro itens de risco de insustentabilidade para o setor: modelo de atenção à saúde, fraudes e judicialização, evolução do marco legislativo regulatório e impacto da incorporação de tecnologias.
“Quando falamos em judicialização, por exemplo, temos 450 mil processos judiciais referentes à saúde”, comentou. “Além disso, nós temos, atualmente, um índice de sinistralidade acima da média. Precisamos trazer para um índice mais tolerável possível, para conseguirmos fazer investimento e termos uma possibilidade de crescimento a longo prazo.”