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Nascida em Salvador, Cacai Bauer, 29, vem contando o próprio cotidiano para dar visibilidade à causa das pessoas com Síndrome de Down no Brasil – ela é considerada a primeira influenciadora digital do tema no país. A quilômetros de distância, na cidade de Esperantina no Piauí, Francisco das Chagas Oliveira, um ex-retirante, que por causa do sonho de criar um museu acabou criando um verdadeiro arquivo vivo e digital cultural. As vidas deles têm poucas similaridades, mas acabaram tendo um ponto em comum: por meio dos canais no YouTube, os criadores conseguiram fomentar comunidades de apoio e nutrir a autoestima dos seguidores, mudando o rumo das próprias vidas e de outras pessoas.
As histórias deles refletem uma percepção comum aos usuários do YouTube: a plataforma é um lugar em que é possível encontrar conteúdos com que as pessoas se identificam e se sentem representadas. Segundo dados da consultoria independente Oxford Economics, como parte do Relatório de Impacto 2022 do YouTube no Brasil, 82% dos usuários afirmam encontrar conteúdos que refletem a própria cultura e perspectiva no YouTube.
Além disso, 80% dos usuários concordam que o YouTube abriga conteúdos e perspectivas diversos. E 76% dos criadores que ganham dinheiro com o YouTube concordam que se identificam e sentem que têm um lugar de pertencimento na plataforma.
Um exemplo de lugar de pertencer é a comunidade criada em torno de Cailana Eduarda Bauer Lemos. Ela começou a apresentar o dia a dia de uma pessoa com Síndrome de Down no Brasil ao público ainda na era do Orkut, e o canal do YouTube veio em 2016. A estreia foi com a esquete de humor “Meu diário não!”, em que Cacai, com um rolo de macarrão na mão, flagra o irmão tentando ler os diários dela em segredo. Depois vieram paródias musicais, como a de “Vai Malandra”, de Anitta – esse vídeo hoje ultrapassa 2,1 milhões de visualizações.
Hoje, os 410 mil inscritos no canal acompanham a rotina dela, conhecendo o gosto por cantar e dançar, tendo as dúvidas sobre capacitismo e rotina respondidas, e recebendo os bem-humorados comentários sobre a vida e a sociedade. Cacai faz bastante uso de vídeos no formato Shorts, verticais e curtos, ideais para a produção ágil de conteúdo trazendo instantâneos do dia a dia, retratos espontâneos do momento, ideais para um canal assim.
“Desde muito cedo eu sempre gostei de palco, adoro fazer teatro, e agora estou bombando nas redes”, conta Cacai. “Sou bem leonina mesmo. Mas toda vez que vou para a frente dos holofotes é para mostrar às pessoas que eu sou capaz.”
Com o estrelato da internet, o canal acabou por se tornar o trabalho principal da família: os números, que ultrapassam 50 milhões de visualizações, garantiram a renda, que, além do valor dos anúncios nos vídeos, vem por meio de trabalhos publicitários.
Mas, o impacto da comunidade criada em torno dos vídeos de Cacai vai bem além da família: “A gente recebe muitas mensagens de mães dizendo que quando receberam o diagnóstico ficaram sem chão, mas depois que descobriram a Cacai viram uma luz no fim do túnel”, revela a mãe, Janaina Bauer Lemos.
De Esperantina para o mundo
Francisco das Chagas Oliveira, o Chico Museu, levou tempo e muitos quilômetros de estrada até concluir que o lugar dele no mundo é aquele onde nasceu: Esperantina. Localizada no Meio-Norte do Piauí, a cidade tem pouco menos de 40 mil habitantes, considerando também a zona rural.
Aos 20, Chico se mudou para Brasília, em busca de oportunidades. “Passava a semana toda preso no serviço, e sentia cada vez mais falta da liberdade, da vida simples na roça, dos familiares que tinham ficado para trás.”
Assim, aos 32 anos, decidiu retornar à Esperantina. De volta à cidade natal, Chico lutou para fundar um museu dedicado ao lugar. De tanto falar nisso, acabou apelidado de Chico Museu.
O museu não veio, mas, no lugar disso, ganhou um cargo na Secretaria de Cultura e resolveu criar o canal Chico Museu TV Cultural: um canal que apresenta a vida e cultura dos moradores da zona rural de Esperantina. Hoje, com 1,68 milhão de inscritos, o número de pessoas que conheceram a cidade dele na internet supera o de várias capitais do Brasil.
A visibilidade levou às doações espontâneas, que financiaram centenas de cestas básicas, construção de 37 casas, tratamentos de saúde, construção de poços tubulares, construção de banheiros, instalação de luz elétrica, viagens e até aniversários. Chico estima que o canal já tenha rendido R$ 3 milhões em doações que foram revertidas em melhorias para a vida de moradores dos povoados locais.
A forma como o canal de Chico conseguiu causar um impacto positivo na terra natal está em consonância com algumas percepções levantadas pela Oxford Economics: 87% dos criadores como ele concordam que querem usar a influência que encontraram no YouTube para causar um impacto positivo na sociedade. E 71% dos criadores que ganham dinheiro com o YouTube concordam que o YouTube trouxe oportunidades em sua região.
Aos 48 anos, passados 13 do primeiro vídeo postado, Chico afirma se orgulhar de viver 100% do canal. “Sou um brasileiro de Esperantina que conseguiu um emprego fora do país, porque o YouTube é na Califórnia, né?”, graceja. “E sou muito grato, porque o YouTube transformou a minha vida, a da minha família e a de muitas pessoas que viraram minhas amigas.”
Diversidade e pertencimento na economia criativa do YouTube
Casos como os de Chico e Cacai demonstram a força econômica e o impacto social da plataforma de vídeos mais popular do Brasil. Incluindo não só os criadores, mas também usuários e anunciantes, o impulso à economia criativa gerada pelo YouTube ajudou a gerar mais de 140 mil empregos.
São posições de trabalho criadas de forma direta, por pagamentos aos próprios criadores pela audiência, que podem com isso sustentar as famílias, contratar funcionários ou agências para auxiliar no trabalho e realizar sonhos. E também de forma indireta, por meio de contratos de publicidade e produção, vindos da exposição gerada por esses criadores. O comércio também é aquecido pela venda de equipamentos, como câmeras e iluminação para a produção para o YouTube.
No total, o ecossistema criativo do YouTube adicionou R$ 4,55 bilhões à economia brasileira em 2022.
Os números são fornecidos pela consultoria independente Oxford Economics, com sede na Inglaterra.
Você pode entender em detalhes no Relatório de Impacto 2022 do YouTube no Brasil
Cacai e Chico são criadores a quem o YouTube ajudou a ampliar sua voz e encontrar seu espaço na economia criativa. Ao longo desta semana, traremos casos de brasileiras e brasileiros contando como, ao fazerem parte da economia criativa por meio do YouTube, um rumo diferente surgiu para sua vida e para suas comunidades.