atualizado
Texto elaborado pelos estudantes de jornalismo do IDP Alanna Nascimento, Alef Midrei, Elisiele Máximo, Emanuelle Rodrigues, Isac Mascarenhas, Mariana Albuquerque e Willams Meneses. Sob a supervisão das professoras Angélica Cordova e Bárbara Lins
O Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) está completando 40 anos desde sua primeira identificação. A UNAIDS lidera o esforço global para acabar com o HIV/AIDS como uma ameaça à saúde pública até 2030 como parte das Metas de Desenvolvimento Sustentável. Segundo a própria organização, desde que os primeiros casos de HIV foram relatados há 40 anos, 78 milhões de pessoas foram infectadas pelo HIV e 35 milhões morreram de doenças relacionadas à AIDS.
Mas, atualmente, nem todos que têm o HIV (o vírus) possuem Aids (a doença). É exatamente o contrário. Com os avanços da ciência ao longo dos anos, criou-se formas de impedir que o soropositivo alcance o estágio da doença, inclusive, tornando o vírus quase imperceptível. Atualmente, cerca de 920 mil pessoas no Brasil possuem o HIV.
Um deles é o terapeuta Raimundo Nonato, que convive com o HIV há quase 20 anos. Maranhense, morando em Brasília, ele atua no acompanhamento psicológico de outros pacientes que também são soropositivos. “Aos 43 anos descobri. Foi um momento muito crítico porque estava no auge da minha carreira, de toda a minha vida. Fiquei muito tempo mal, mas estou super bem agora. Por isso, agradeço muito todos os dias”, comenta.
Profissional da área de Marketing, Thais Renovatto, também não interrompeu os planos ao receber o diagnóstico positivo. Ela contraiu o vírus do ex-namorado. “O momento de grande choque e sentença de morte foi quando a mãe do meu ex-namorado me contou ainda no hospital, nos últimos dias de vida dele que ele tinha Aids. Ali eu já tive certeza que também estava, somente um milagre para eu não ter pego”.
Com o tratamento adequado, é possível controlar os níveis de infecção e diminuir a carga viral. Thais é o tipo de paciente que se chama de indetectável. Aos 38 anos, ela é mãe de dois filhos e, durante a gravidez, fez o controle para evitar a transmissão vertical, que é o contágio do bebê pela mãe. Ela também não transmite mais o vírus por via sexual e seu marido não é portador do HIV.
Dados do Boletim Epidemiológico de 2020 do Ministério da Saúde mostram que o número de gestantes com HIV vem aumentando. Em 2008, foram 6,7 mil grávidas nessa condição. Em 2018, o número passou para 8,6 mil, uma proporção de 2,9 casos para cada 1 mil pessoas.
Ao dar à luz, o protocolo para mulheres com HIV é a administração de um kit com: AZT, xarope, e comprimido que inibe a lactação. Mesmo indetectável, quem possui o HIV não pode amamentar . “O momento pós-parto foi uma mistura de alegria e insegurança, os cuidados com o bebe continuam, até fazer o primeiro exame e dar negativo é um grande alívio, o não amamentar doeu bastante, pois queria muito ter amamentado, me senti culpada por não poder oferecer isso para meus filhos, mesmo entendendo que é uma prova de amor.” conta Thais Renovatto.
Aumento entre os mais jovens
O grupo de pessoas entre 15 e 24 anos também tem tido crescimento nos índices de contágio. Geórgia* convive com o vírus desde que nasceu. A catarinense de 22 anos sempre usa preservativos em suas relações sexuais. Contudo, a prática não é hábito entre os jovens.
Até setembro de 2021, o Ministério da Saúde distribuiu quase 198 milhões de camisinhas masculinas que podem ser retiradas em qualquer unidade de saúde. Apesar da grande quantidade, a adesão ainda é baixa. A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), feita em 2019 pelo IBGE, revelou que apenas 59,1% dos adolescentes de 13 a 17 anos usaram preservativo na última relação sexual. Até setembro de 2021, o Ministério da Saúde distribuiu quase 198 milhões de camisinhas masculinas que podem ser retiradas em qualquer unidade de saúde. Apesar da grande quantidade, a adesão ainda é baixa. (veja no quadro)
Juliana Paim, psicóloga de adolescentes, considera que a resistência à proteção vem da sensação de “invencibilidade”, típica desta fase da vida. “Muitas meninas acham que é feio uma mulher andar com camisinha na bolsa, pois isso seria uma responsabilidade dos meninos e eles poderiam achar que ela “é fácil”, salienta a profissional. “Os meninos ainda possuem várias ideias erradas sobre o uso da camisinha: que tira ou diminui a sensibilidade, que reduz o tempo de penetração, que o orgasmo não é tão potente etc.”
A Unaids, que lidera o esforço global contra o HIV/Aids, lançou a campanha “Deu positivo, e agora?” com foco nesse público. O projeto teve a participação de influenciadores digitais para conversar com essa faixa etária nas redes sociais. “Além dos influencers, outras parcerias nos possibilitaram, com uma linguagem rápida e de fácil assimilação, conversar com esse público”, avaliou a Organização.
E entre os mais velhos
O aumento da expectativa de vida dos brasileiros também veio acompanhado do prolongamento da atividade sexual. O incremento de produtos e de terapias vem sendo desenvolvido de forma cada vez mais segura e eficiente pelas indústrias de produtos farmacêuticos, eróticos e sensuais. “Consequentemente, isso aumenta a possibilidade de os idosos estarem mais confortáveis em manterem relações sexuais por um tempo prolongado, além de ajudar no bem estar individual”, explica a sexóloga Kátia Arruda.
Contudo, a resistência ao uso de métodos preventivos e a falta de debate sobre o tema influenciam na contaminação dos idoso com o HIV. O boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, de 2018, mostrou que o número de casos de contágio do HIV entre essa faixa etária cresceu 103% nos dez anos anteriores. O gênero mais afetado pela doença nessa faixa etária é o masculino com 12,6% do percentual de infectados, o dobro do número de mulheres.
Para Milton Crenitte, médico geriatra, o que faz os casos de ISTs e HIV aumentarem entre pessoas idosas é o fato de não haver políticas públicas adequadas de prevenção de IST focadas para a faixa etária. Em 2019, o Ministério da Saúde lançou uma campanha de prevenção voltada para esse público. Entretanto, ações assim são escassas no País, isso preocupa especialistas, pois, para que o número de contágio entre esse grupo diminua, é preciso pensar em campanhas específicas.
“O mais importante é a gente entender a cena sexual, como se fosse um teatro mesmo: quem que é o ator, qual é o roteiro e onde se dá essa vida sexual. Aí a gente consegue planejar melhor uma estratégia de prevenção.” opina o geriatra.
Velhos preconceitos
O estigma inicial que relacionou a Aids com as pessoas LGBTQ ainda persiste. Contudo, os números mostram que a Aids está mais propagada entre o grupo de heterossexuais em três das cinco regiões do País. (Veja infográfico). A UNAIDS alerta que não existe um comportamento específico para pessoas vivendo com HIV que seja diferente do comportamento de qualquer pessoa que se preocupa com seu bem-estar físico e psicológico. “É importante que as pessoas vivendo com HIV tenham consciência sobre seu estilo de vida e foquem no autocuidado, fazendo o acompanhamento médico regular e aderindo à terapia antirretroviral. O tratamento adequado do HIV é 100% gratuito e disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS)”, opinou a organização por meio de sua assessoria.
O influencer digital Lucian Ambrós, dono do perfil @posithvidades no Instagram, assumidamente homossexual, conta que recebeu a notícia há 12 anos e lidou com muito preconceito e falta de espaços para escuta. Em suas redes sociais tornou o assunto mais normal e, em sua vez, abriu o debate para apoiar pessoas que recebem este resultado. Ele indica sempre que “a primeira coisa que a pessoa deve fazer ao descobrir a sorologia é iniciar o tratamento para que tenha uma vida tranquila, sendo indetectavel”.
Na opinião do estudante brasiliense Lucas Sousa o debate sobre doenças e prevenções é até mais comum na comunidade homossexual. “Mesmo que não exista obrigação nenhuma do portador de HIV explanar sua condição para outros. Até porque já tive diversas conversas com homens que logo de cara expõem sua sorologia”, relata.
Tratamentos de ponta
O Brasil é considerado uma referência no tratamento do HIV. Atualmente, trabalha-se com a prevenção combinada. Conheça um pouco mais sobre as intervenções disponíveis: