atualizado
O sistema educacional brasileiro encontra-se em um momento decisivo de transformação. Diante de desafios históricos e dos novos cenários impostos pela revolução digital e pelo avanço das IAs, pensar em uma escola que prepare cidadãos para um mundo em mudança acelerada, com equidade e inclusão, é urgente. A Agenda 2030, com o ODS 4, nos orienta a assegurar uma educação de qualidade e inclusiva. Neste artigo, exploramos os desafios da educação no Brasil, tendências globais, boas práticas locais e a necessidade de uma gestão educacional transformadora, para a construção de uma escola onde a aprendizagem de excelência seja uma realidade para todos.
O Brasil enfrenta desafios críticos em relação à qualidade e à equidade educacional. Dados de 2023 indicam que 44% das crianças em escolas públicas não foram alfabetizadas ao final do 2º ano, enquanto que, em Matemática, apenas 5% dos jovens da 3ª série do Ensino Médio atingiram um nível satisfatório de aprendizagem em 2021. Esses números refletem as desigualdades sociais e educacionais que persistem ao longo do tempo e exigem soluções sistêmicas e políticas públicas robustas. O baixo desempenho nas avaliações do PISA, que classifica o Brasil em posições desfavoráveis em Matemática, Leitura e Ciências, evidencia a premência de medidas transformadoras. A falta de atratividade da profissão docente, a desconexão entre a formação inicial dos professores e as necessidades da sala de aula, e a cultura de seletividade social contribuem para o agravamento do problema. Essa cultura de seletividade se manifesta na forma como as escolas são financiadas, nas expectativas em relação aos alunos de diferentes classes sociais e na falta de boas oportunidades para aqueles que vêm de contextos mais vulneráveis.
A revolução digital e a automação exigem novas competências, como pensamento crítico, resolução colaborativa de problemas, letramento midiático e criatividade. Mundialmente, observamos a flexibilização de currículos e o fortalecimento de metodologias ativas, como a aprendizagem baseada em projetos. O ensino híbrido, a cultura digital, a personalização do ensino por meio de inteligência artificial e a sala de aula invertida são exemplos de tendências que transformam o ambiente escolar em um espaço mais dinâmico e adaptado às demandas do século XXI.
Experiências brasileiras demonstram que a inovação e a transformação são possíveis. O regime de colaboração implementado no Ceará, aliado à lei do ICMS vinculada a resultados educacionais, trouxe avanços significativos na alfabetização. Pernambuco destacou-se com seu modelo de Ensino Médio em Tempo Integral, inspirado nas ideias de Antonio Carlos Gomes da Costa. No Paraná, os “professores formadores” e “diretores formadores” evidenciam a importância da liderança educacional para garantir a aprendizagem. Outras iniciativas, como a educação infantil em Boa Vista e Recife, reforçam que políticas públicas bem desenhadas e implementadas de forma efetiva em escala, com foco em equidade e formação contínua dos profissionais, são fundamentais para resultados consistentes.
O papel do gestor escolar transcende a administração de recursos e a logística. Ele precisa ser o líder da construção da aprendizagem, aquele que prioriza a qualidade das aulas e busca garantir que todos os estudantes tenham oportunidades iguais para aprender. Michael Fullan defende que o gestor escolar deve ser o principal responsável por uma cultura de colaboração, tanto no planejamento quanto na formação profissional dos docentes. A liderança transformadora implica também na busca incessante pela equidade. Todos podem aprender, mas é preciso oferecer mais suporte aos que mais necessitam. Essa abordagem, combinada com a valorização de metodologias inovadoras e o uso de dados e evidências para orientar políticas públicas, pode ser o diferencial para a transformação da educação brasileira.
A escola do amanhã é aquela onde todos aprendem com excelência e equidade. É um ambiente de colaboração entre alunos e professores, que rompe com a fragmentação dos saberes, como sugere Edgar Morin. Essa escola ensina a pensar, a conviver, a dialogar e a aprender, dedicando tempo e espaço para formar todos os estudantes para a autonomia. Para alcançarmos essa visão, precisamos de políticas educacionais inovadoras, que promovam a inclusão, valorizem o desenvolvimento socioemocional e estejam fundamentadas em evidências científicas. A escola do amanhã deve ser um espaço onde o conhecimento historicamente acumulado se conecta com práticas disruptivas, preparando as novas gerações para os desafios de um mundo em rápida transformação.
A educação do amanhã precisa ser construída com base na colaboração, inclusão e inovação. Com foco em equidade e qualidade, é possível transformar o sistema educacional que temos e garantir que todos os alunos tenham acesso a uma educação de excelência. O caminho é desafiador, mas os exemplos de boas práticas locais e as tendências globais indicam que a transformação não só é possível, como já está em curso.
Por Claudia Costin e Rafael Parente