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Com forte demanda da indústria, cresce o ensino de robótica em escolas

Com o avanço da Indústria 4.0, instituições investem na disciplina como forma de capacitar os jovens para as transformações tecnológicas

Edilson Dantas / SESI
Robotica-torneio
1 de 1 Robotica-torneio - Foto: Edilson Dantas / SESI

atualizado

Na pandemia muitos processos tecnológicos sofreram transformações. A indústria se beneficiou disso. No caso mais específico da robótica, os investimentos dobraram. Em 2020, empresas de capital de risco investiram US$ 6,3 bilhões em companhias do setor, quase 50% a mais do que no mesmo período do ano anterior, de acordo com uma análise do banco de dados de capital de risco PitchBook.

A robótica, assim como a inteligência artificial e a Internet das Coisas (IoT), faz parte do conceito de Indústria 4.0, a chamada a Quarta Revolução Industrial, em que o perfil das linhas de montagem conta muito mais com flexibilidade e maior customização da produção. Este mercado, que completa 10 anos em 2021, tem potencial estimado de criação de valor para fabricantes e fornecedores de US$ 3,7 trilhões até 2025, segundo projeção da consultoria McKinsey.

Além do aumento nos investimentos, a robótica tem se tornado cada vez mais relevante nas empresas e para a formação dos estudantes. Nesse sentido, o Serviço Social da Indústria (Sesi) é referência na educação básica.

No entanto, engana-se quem pensa que a tecnologia é somente uma disciplina complementar em sala de aula com carga horária restrita. Nada disso. A base do ensino da robótica está presente na matriz da instituição, o que significa que permeia todas as disciplinas de todos os cursos. Segundo Paulo Mol, diretor de operações do Sesi, as escolas do Sistema S já nascem com a perspectiva de atender à demanda da indústria. Sendo assim, a metodologia de ensino é totalmente voltada para a resolução de problemas, a partir do uso de tecnologias educacionais e da metodologia STEAM (sigla que em inglês significa Ciências, Tecnologia, Engenharia, Artes/Design e Matemática), que buscam preparar o aluno para o mercado de trabalho.

As ferramentas de aprendizagem são pensadas para ajudar os estudantes ao longo do percurso. As aulas envolvem programação, construção de robôs, bem como o uso do famoso game Minecraft, por exemplo, para criar realidades virtuais. “É tudo muito vivo. Portanto, não é a robótica pela robótica. A ferramenta é usada para fixação da aprendizagem”, explica Mol.

O Programa de Robótica Educacional para o Ensino Fundamental e Médio foi implementado em 2006. Isso significa que a partir do terceiro ano do ensino fundamental, a robótica começa a ser ensinada. O que muda com o passar dos anos é a complexidade. Aproximadamente 520 escolas do Sesi, de ensino fundamental e médio, atuam com esse ramo educacional e tecnológico. Ao todo, são quase 200 mil alunos que se beneficiam da prática pedagógica.

Fã assumido da área, Mol explica que a tecnologia ajuda os estudantes a desenvolverem competências socioemocionais, como a criatividade e a comunicação, o interesse pela pesquisa, pelas ciências exatas e pelas engenharias. Além de fortalecerem laços e a colaboração em equipe.

“Quando o aluno é mais interessado, ele se organiza em grupos para participar de torneios. Isso está em alinhamento com a Base Nacional Curricular Comum (BNCC), que prega o desenvolvimento de habilidades específicas em cada estudante”, comenta.

O ensino desse tipo de conhecimento é estratégico para o Brasil. Além da carência de profissionais em áreas essenciais, o país tem baixo desempenho no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), especialmente em ciência e matemática. Sendo assim, a formação específica contribui com o mercado de trabalho e ainda melhora a proficiência dos alunos.

Outro ponto essencial é que a robótica educacional estimula as chamadas soft skills, que são habilidades como proatividade, espírito investigativo, planejamento, diálogo, pesquisa e tomada de decisões – necessárias para a formação do jovem do futuro.

Na avaliação de Paulo Mol, esse é um dos motivos pelos quais grandes empresas globais estão cada vez mais interessadas em financiar, participar e colaborar em torneios de robótica. Algumas, inclusive, têm funcionários exercendo a função de embaixadores em alguns campeonatos. “Observamos que matrizes de empresas grandes que financiam estes projetos percebem valor grande”, justifica.

Formado em engenharia mecânica, Jay Flores atua como parceiro de grandes campeonatos, especialmente o First Lego Challenge. Anteriormente, como colaborador da empresa em que trabalhava, que era patrocinadora do evento, e agora de forma independente, desde que abriu a própria empresa.

Um dos objetivos de Jay é difundir os benefícios da robótica educacional. Seja em torneios ou nas salas de aula. Ele acredita que hoje muitas empresas já enxergam valor nesse tipo de ensinamento, mas as escolas ainda estão para trás na preparação dos alunos. Segundo o especialista, se quisermos preparar os estudantes para os empregos do futuro, precisamos garantir experiências em que eles possam aprender e encontrar a paixão em áreas tecnológicas.

“Na maioria das vezes, o sistema educacional pode até ensinar aulas de código ou outras ligadas à robótica e programação, mas elas não têm uma abordagem prática e divertida”, sintetiza. “A First Lego, por exemplo, faz um excelente trabalho em promover a temática desde cedo para que os alunos tenham a oportunidade de aprender código, a trabalhar em grupo, a construir coisas e a fracassarem num espaço seguro. Assim, eles amadurecem. Eu diria que poucas salas de aula oferecem isso”, diz.

Torneios

Atualmente, o Sesi é o operador oficial do maior torneio de robótica do mundo. Com início nos EUA e Canadá, o First Lego League Challenge (uso de programação para movimentar robôs feitos de Lego) e First Tech Challenge (robôs construídos com peças reais) tem as categorias de entrada, intermediária e avançada. A partir de 9 anos o estudante já pode participar. Inclusive, o Brasil é referência no estágio inicial, mas vem trabalhando para atingir novos patamares. Segundo Paulo Mol, diretor de operações do Sesi, países estrangeiros enxergam enorme potencial no estudante nacional.

Em 2019, o Brasil foi representado por 26 times nas categorias FTC e FLL mundo afora. Esse número é um recorde de participação. As equipes conquistaram 33 prêmios em disputas nos Estados Unidos, Turquia, Uruguai, Líbano e Austrália.

Além disso, há ainda um dos mais importantes torneios de robótica do país, o Torneio Sesi de Robótica, que reúne as três modalidades. A participação das meninas nas competições tem sido crescente. Pela primeira vez, nesta temporada, elas são a maioria entre os finalistas do Torneio Nacional Sesi de Robótica: 228 meninas e 214 meninos.

sesi roboticaBianca Gajardoni, 16 anos, faz parte desta estatística. Cursando o 2º ano do Ensino Médio na escola Sesi Birigui, ela já participou de 13 torneios de robótica. “Sou apaixonada por isso desde que sou criança”, relembra ela, que no 8º ano do Fundamental participou do processo seletivo e ingressou para equipe Big Bang da escola. De lá para cá, já trabalhou em soluções inovadores nos campeonatos para astronautas, cidades inteligentes, incentivo de prática de exercícios e, mais recentemente, contra a Covid-19.

Para ela, o aumento de equipes femininas tem a ver com a maior divulgação das oportunidades. “Isso incentiva mais participação, especialmente porque as mulheres se sentem pertencentes”, avalia a jovem, que escreve sobre o assunto no blog STEM para as Minas.

Na opinião de Bianca, cada vez mais instituições, escolas e empresas estão investindo em robótica porque o mundo todo está passando por uma onda tecnológica intensa. “É necessário esse incentivo para que as soluções que os jovens criam com recursos cotidianos cheguem ao mercado”, conclui.

O Sesi incentiva seus estudantes e outras escolas a participarem de torneios. No ano passado, realizou o Desafio Covid-19 e o Desafio Relâmpago Volta às aulas, que mobilizaram 2.656 estudantes de escolas públicas e privadas em busca de soluções para o combate do novo coronavírus. Alunos com a idade entre 9 e 18 anos apresentaram projetos inovadores, como um verniz composto por ingredientes naturais que desinfeta superfícies e cria película protetora, sistemas de monitoramento de aglomerações, filtros sanitizantes para vasos sanitários e álcool em gel à base de casca de laranja.

WebinarPara discutir o novo ensino médio e as tendências de carreiras que serão exigidas pelo mercado de trabalho e a indústria 4.0, o Metrópoles e o Senai realizam, em 6 de julho, a partir das 10h, um webinar com especialistas e autoridades no assunto.Entre os convidados estão: Marcelo Ramos, deputado federal (PL-AM); Rafael Lucchesi, Diretor de Educação e Tecnologia da CNI, diretor-geral do Senai e diretor-superintendente do Sesi; Claudia Costin, membro da Comissão Global sobre Futuro do Trabalho da OIT; e Simon Schwartzman, ex-presidente do IBGE e membro da Academia Brasileira de Ciências.

A live será transmitida pelas redes sociais do Metrópoles (Facebook e Youtube) e no Youtube do Senai. Não é necessário a inscrição e a participação é gratuita.

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