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Exclusivo. Áudios revelam como agia líder da Máfia dos Concursos

De acordo com gravações em poder da polícia, de 2005 para cá, grupo contava inclusive com apoio de políticos e ao menos de um magistrado

atualizado

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ortiz 2 máfia dos concursos
1 de 1 ortiz 2 máfia dos concursos - Foto: Geovanna Bembom/Metrópoles

A Polícia Civil do Distrito Federal conhece há pelo menos uma década o modus operandi do homem apontado como líder da Máfia dos Concursos na capital da República. Em 2005,  uma robusta apuração comandada por investigadores já apontava minuciosamente o esquema capaz de ter contaminado dezenas de concursos públicos em todo o país. Apesar da contundência das investigações, o pivô do escândalo – o ex-servidor do Tribunal de Justiça do DF e Territórios (TJDFT) Hélio Garcia Ortiz – nunca cumpriu pena, embora tenha sido condenado.

Livre e incorrigível, ele continuou a comandar o mercado da venda de vagas no serviço público. Áudios obtidos com exclusividade pelo Metrópoles revelam como o golpista agia. Na manhã desta segunda-feira (21/8), Ortiz foi preso novamente, desta vez em uma operação coordenada pela Delegacia de Combate ao Crime Organizado (Deco). A suspeita é de que, pelo menos, 100 pessoas tenham sido beneficiadas pelo esquema fraudulento.

Em um dos áudios que embasaram a investigação policial, Hélio Ortiz conversava com um interlocutor de nome André. No diálogo, o golpista se queixou que teria levado calote de dois clientes: “Vem cá, aqueles dois irmãos aí, né, tá uma dificuldade rapaz. Disse que não pode fazer empréstimo de mais de 40 pau. Acho que pode num é, cara? Acho que pode fazer empréstimo, num pode? (sic)”.

 

Aficcionado por rinhas de galos, Ortiz usava o nome desses animais como código para se referir às vagas de concurso público negociadas por ele. “Eu falei, rapaz, quem pagou na época, pagou é, o galo custava um preço, o galo já tá adulto (sic)”. Segundo interpretação dos próprios policiais, Ortiz quis dizer que, em alguns casos, levava anos até que ele conseguisse receber o pagamento integral pelo posto, que chegava a custar até R$ 100 mil.

Veja imagens da operação da Deco nesta segunda-feira (21/8): 

9 imagens
Bruno Ortiz, filho de Helio, preso no dia 21 de agosto
Operação para deter a Máfia dos Concursos
Helio Ortiz é um velho conhecido da polícia. Ele foi preso em 2005 e em 2009
Ortiz foi preso em casa, na QE 15 do Guará II
Dez escrivães, 25 delegados e 150 agentes, incluindo grupo de operações especiais e helicóptero, participaram da operação
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Coletiva dos delegados da Deco sobre a Máfia dos Concursos em agosto deste ano

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Bruno Ortiz, filho de Helio, preso no dia 21 de agosto

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Operação para deter a Máfia dos Concursos

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Helio Ortiz é um velho conhecido da polícia. Ele foi preso em 2005 e em 2009

Divulgação/PCDF
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Ortiz foi preso em casa, na QE 15 do Guará II

Reprodução/PCDF
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Dez escrivães, 25 delegados e 150 agentes, incluindo grupo de operações especiais e helicóptero, participaram da operação

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Equipes da PCDF chegam ao Cebraspe/Cespe, onde foi cumprido mandado de busca e apreensão

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Movimento intenso no Cebraspe/Cespe

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São investigados concursos realizados nos últimos cinco anos

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Empréstimos e juros
O golpista revelou que sugeria aos seus clientes que fizessem empréstimos bancários para quitar a dívida. “Já liguei lá para o Banco do Brasil e me passei por um deles [um cliente], o gerente falou assim: ‘Traz a documentação aqui, só o contracheque e a margem, e eu te arrumo R$ 60 mil'”. Segundo as apurações, Ortiz queria com a medida mostrar como era fácil conseguir empréstimo e pressionar, assim, seus clientes em débito.

Ortiz se irritou durante a conversa com a forma de pagamento de uma das vagas negociadas com o comprador. Não fica claro sobre qual certame ele falava. “Combinei um negócio… Porra, agora diz só posso dar 20 agora, 20 em julho e 20 no final do ano. Falei ‘não, então fica com esse dinheiro aí.'”

Em outra conversa, o suposto líder da Máfia dos Concursos se queixou com o mesmo interlocutor de que seus próprios parentes (supostamente nomeados dentro do esquema de fraudes) estavam devendo a quantia tratada para obtenção da vaga. “Eles estão querendo me pagar de acordo com o que eles ganham. Eles estão querendo me pagar por baixo R$ 30 mil e R$ 15 mil. Eu falei ‘não quero’. Eu quero receber, por que não me pagou na época?'” Quem deixa claro que o golpista negociou até com familiares é André: “Ó, só que tem que falar pros seus parentes lá, que não interessa, que eles fizeram compromisso com você (sic)”.

Ortiz falou até mesmo de sua disposição em cobrar juros pela demora no pagamento pelo cargo público. “Todo mundo que pagou na época pagou pouco. Você falou que ia pagar 10 salários do que ganha, é isso e eu não abro mão. Eu esperei três anos, vou esperar mais cinco, mas eu quero receber. Daqui pra frente vou te cobrar 5% de juros”, disse o golpista se referindo a um de seus parentes. André recomenda que seu comparsa seja duro na cobrança “tem que dar uma apelada, né” e segue “sabe o que é foda: eles ficam andando de carro zero e devendo os outros, entendeu?”.

Em outra ligação, agora com uma mulher de nome Marlene, os dois comemoram a notícia da nomeação dela em um concurso para oficial de Justiça. O golpista exclamou: “Sabia”. E Marlene prosseguiu dizendo “foi o senador”. Ela contou também que recebeu a visita de um desembargador que, pelo contexto da conversa, teria lhe ajudado a acelerar a posse. “Pra você ver o que vale esse tal de político… (sic)”

No mesmo diálogo, Ortiz demonstrou preocupação ao expor que alguém poderia influenciá-la a não quitar sua dívida com ele. “Ô, Hélio! Até parece um negócio desse… também a gente nem deve tá falando esse negócio, depois a gente conversa (sic)”.

 

Ao longo de anos, a polícia reuniu provas robustas da atuação de uma quadrilha liderada por Hélio Garcia Ortiz. As interceptações telefônicas são apenas uma parte dos indícios de crimes cometidos. E sugerem até mesmo o possível envolvimento de políticos e de, pelo menos, um magistrado no esquema fraudulento. Uma investigação que começou em 2005 revelou um esquema descarado de compra e venda de vagas no serviço público, mas cujas provas não foram suficientemente fortes para convencer as autoridades competentes da necessidade de acabar com a ação dessa máfia.

 

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