Candidatos apontam falhas em novas provas do concurso da Sedestmidh
Vídeos que circulam nas redes sociais teriam flagrado o momento. Certame para educador social foi reaplicado nesse domingo (14/04/19)
atualizado
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O concurso público da Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedest), antiga Sedestmidh, mais uma vez foi alvo de polêmica. A prova para educador social foi reaplicada nesse domingo (14/04/19), após a suspensão temporária das avaliações.
No entanto, vídeos feitos por concurseiros circulam nas redes sociais e mostram que fiscais teriam aberto os malotes e entregue os testes mesmo com alguns candidatos fora de sala. As imagens teriam sido gravadas no Centro Universitário de Brasília (UniCeub), na tarde desse domingo. A banca responsável pelo concurso é o Instituto Brasil de Educação (Ibrae).
No vídeo, é possível ver um grupo de pessoas do lado de fora da sala, aguardando para entrar, enquanto vários candidatos estão com os exames na carteira, esperando o início da avaliação. “Tem gente com prova na carteira, e no corredor ainda tem gente”, diz a participante que gravou os vídeos.
“Eu não vou fazer a prova novamente, igual fiz da outra vez, quando foi cancelado. Está errado. Todos têm que estar dentro de sala. Depois abre [o malote], distribui [os testes], e todos começam ao mesmo tempo”, diz uma mulher em outro vídeo. O autor das imagens ainda não foi identificado.
Mais problemas
Outros concurseiros suspeitam que as questões do teste sejam iguais às da última aplicação, em 24 de março. Na época, os malotes de prova não foram abertos devido à confusão que se instalou nos locais onde o concurso foi realizado.
Eles disseram que o certame não foi reelaborado. “Neste domingo (14/04/19), aplicaram a mesma avaliação do mês passado. Apenas colocam uma etiqueta por cima, com os novos dados”, relatou uma concorrente, que preferiu não se identificar.
A candidata fez o exame no UniCeub e também contou que alguns testes estariam com problemas de impressão. “A prova tinha 50 questões. Uma moça que estava na minha sala percebeu que a dela estava incompleta e chamou o fiscal de sala para resolver. Eles disseram que iriam solucionar o problema. Soube de ocorrências ao menos em três salas distintas”, relatou a participante.
Outra adversidade constatada por ela foi que haveria itens não previstos em edital. Imagens da avaliação mostram duas questões referentes às leis nº 9.474, de 1997, e nº 10.836, de 2004. “No edital de educador social não há essa lei [9.474], sendo que esta última [10.836] está na especialidade do direito, não para educador social”, explicou.
Em consulta ao documento, disponível no site do Ibrae, não foi encontrada menção à Lei nº 9.474. O edital também mostra que a Lei nº 10.836 faz parte do conteúdo programático da especialidade de direito e legislação.
Outras reclamações a respeito do edital, da impressão e aplicação dos testes foram feitas por candidatos em grupos nas redes sociais. “Mesma prova da outra vez, já que não foi aberta”, escreveu uma pessoa. “Cheia de erros. A minha tinha duas questões 14”, publicou outra participante.
Procurado pelo Metrópoles, o Ibrae informou que o responsável pelo concurso só poderá responder às questões nesta terça (15/04/19). A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) afirmou que, até o momento, não tem registros de denúncias sobre o caso.
A Sedest diz que não recebeu nenhuma acusação de irregularidades na avaliação. A pasta destacou que “segue vigilante quanto aos próximos dias programados, bem como às demais fases do certame”.
Além disso, o órgão afirmou que intensificou os trabalhos da comissão de acompanhamento do concurso. “Uma das medidas tomadas foi dividir em quatro dias de aplicação de provas, de acordo com o cargo, principalmente para evitar possibilidade de tumulto.”
“Reforçamos, porém, que, havendo novas falhas na execução que coloquem o concurso em risco ou quanto à sua legalidade na realização, medidas administrativas e judiciais serão imediatamente tomadas pelo Governo do Distrito Federal”, disse a secretaria.
Concurso
O concurso foi lançado em novembro do ano passado, com 314 vagas imediatas e 1.570 para formação de cadastro de reserva. As oportunidades são para os cargos de especialista em assistência social e técnico em assistência social. A banca registrou 53.748 inscritos: 27.297 de ensino médio e 26.451 com ensino superior.
Para o cargo de educador social, a pasta disponibilizou 18 vagas para contratação imediata e 90 para formação de cadastro de reserva. A remuneração para a carreira é de R$ 3,5 mil, com jornada de 30 horas de trabalho semanais.
Entenda o caso
Em março deste ano, a banca decidiu anular as provas do concurso após o atraso na distribuição dos testes aos candidatos que estavam na Universidade Paulista (Unip), na 913 Sul, no período matutino.
Revoltados, os concurseiros ficaram nos corredores e pediram a suspensão do certame. Em imagens enviadas ao Metrópoles, foi possível ver pessoas com as provas em mãos, discutindo as questões e tirando foto das páginas. Nos corredores, a suspeita era a de que um malote tinha sido extraviado do Bloco I da instituição de ensino.
Muitas pessoas desistiram e foram embora revoltadas, com as provas. Outros problemas apontados pelos concurseiros foram falta de detector de metais, de policiamento e falha na fiscalização. “Não tinha fiscal nos corredores, nem mesmo no banheiro. O que é de praxe em todos os concursos. Foi uma bagunça generalizada”, disse o candidato Paulo Mesquita.
Os exames para educador, cuidador e agente social, previstas para o período vespertino, foram suspensos.
Vandalismo
Em nota, o Ibrae disse que cometeu um “engano” ao mandar malote de provas para a faculdade errada, mas afirma que o cancelamento do certame se deu por conta de “atos de vandalismo de alguns candidatos”.
No texto, a banca organizadora explica ter constatado que um único malote destinado para a Unip foi enviado à Upis. Esse “engano”, segundo o Ibrae, atrasaria em 27 minutos o início da prova em cinco salas da Unip.
O instituto detalhou, na ocasião, que a distância entre as universidades é de menos de 1 km e frisou, ainda, que o “engano” foi solucionado. “O único malote trocado chegou corretamente à Unip, inviolado, às 8h27”, destaca o texto. A banca ressalta que o tempo extra seria acrescido ao total do prazo para a realização da prova, a fim de que nenhum candidato das cinco salas fosse prejudicado.
O que seria uma simples troca de malote transformou-se em um verdadeiro ato de vandalismo praticado por alguns candidatos que estavam na Unip
Trecho da nota do Ibrae
“Contudo, um único fato impediu o reinício da prova. Quatro homens deixaram juntos uma das salas, contrariamente à instrução da coordenação do concurso. Eles foram reiteradamente informados que
deveriam retornar para o local de provas, mas se negaram a fazê-lo. Em seguida, os vândalos prenderam seis coordenadores do concurso na Sala de Coordenação da Unip, durante mais de duas horas, inviabilizando que as provas corretas fossem, enfim, levadas às salas”, comunicou o Ibrae.
Confira a nota na íntegra:
Comunicado Ibrae by Metropoles on Scribd
Investigação
A Polícia Civil abriu investigação para avaliar possíveis irregularidades no concurso. A apuração foi conduzida pela Coordenação Especial de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e aos Crimes contra a Administração Pública (Cecor). A unidade concluiu o inquérito em 3 de março. Os policiais entenderam que não houve fraude no certame. Por isso, ninguém foi indiciado.
Veja vídeos da confusão
Provas remarcadas
Em 7 de abril, o Ibrae divulgou um novo cronograma. O calendário mostra as datas de aplicação de todas as provas para as carreiras de especialista em assistência social e técnico em assistência social. O documento está disponível no site do Ibrae.