Fazenda libera bets de filho do braço-direito de Carlinhos Cachoeira
Sócios da Rio Jogos, LottoMaster e Betagora são filhos de condenados na Justiça por envolvimento em esquema ilegal de jogos de azar
atualizado
Compartilhar notícia
O Ministério da Fazenda autorizou a operar no país três bets ligadas a filhos de condenados na Justiça por envolvimento em esquemas ilegais de jogos de azar e formação de quadrilha.
As bets Rio Jogos, LottoMaster e Betagora pertencem ao grupo Lema Administração e Participações SA e estão entre os 196 sites de apostas esportivas autorizados a atuar no Brasil até dezembro deste ano, conforme lista divulgada pelo Ministério da Fazenda na terça-feira (1º/10).
A Lema tem como sócios João Victor de Araújo Souza, 28, e João Erick Lourenço da Silva, 25.
João Victor é filho de Lenine Araújo de Souza, primo e ex-braço direito do bicheiro Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Lenine e Carlinhos Cachoeira foram presos em decorrência da Operação Monte Carlo, deflagrada em 2012 pela Polícia Federal. A ação desmantelou o cartel de jogos de azar e esquema de máquinas caça-níquel lideradas por Cachoeira em Goiás e no Distrito Federal.
Já João Erick é filho de Mauri Lourenço da Silva, que foi preso no Paraná por envolvimento num esquema de máquinas caça-níqueis. Ele chegou a ser condenado por formação de quadrilha e contrabando em primeira instância. O Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), no entanto, julgou sua pena prescrita ao considerar o tempo de prisão já cumprido.
A entrada do grupo Lema no mercado de apostas esportivas foi revelada pelo jornal Folha de S. Paulo e confirmada pela coluna. Antes mesmo de receber o aval da Fazenda, a holding já havia conseguido licenças para operar legalmente no Rio de Janeiro e na Paraíba.
Outra pessoa ligada ao grupo é Ana Paula Batista Vitorino, 37, filha de Willian Vitorino. Segundo as investigações da PF, ele era auxiliar de Lenine e de Carlinhos Cachoeira no pagamento de propina a agentes públicos, e foi preso por corrupção e formação de quadrilha.
Ana Paula é dona da Apoio Consultoria Financeira, que chegou a fazer parte do quadro societário da Lema. A empresa foi fundada em 2014.
Procurada pela coluna, a Lema Administração e Participações SA respondeu por meio de nota e reafirmou “seu compromisso com a legalidade, transparência e conformidade com as normativas vigentes”. A empresa disse que todas as atividades desempenhadas estão devidamente autorizadas pelos órgãos competentes. “Vale ressaltar que os profissionais mencionados que fazem parte da gestão da empresa, como João Victor de Araújo Souza, João Eric Lourenço da Silva e Ana Paula Vitorino, possuem ampla expertise no setor e atuam com ética e responsabilidade, atendendo rigorosamente às exigências regulatórias”.
O Ministério da Fazenda também foi procurado para comentar, mas não retornou até a publicação desta reportagem.
Entenda o processo de autorização das bets no Brasil
Até o fim deste ano, a Secretaria de Apostas Esportivas do Ministério da Fazenda divulgará a listagem definitiva das empresas e dos sites que serão autorizados a operar a partir de 1º de janeiro de 2025, quando começará o mercado regulado de apostas no Brasil.
Só poderão atuar as empresas que se enquadrarem nas leis 13.756/2018 e 14.790/2023, bem como nas mais de 10 portarias de regulamentação criadas pela pasta sobre o assunto.
Ainda este ano, as primeiras empresas definitivamente aprovadas terão que pagar a outorga de R$ 30 milhões para começar a funcionar e, a partir de janeiro, precisarão cumprir todas as regras para combate à fraude, à lavagem de dinheiro e à publicidade abusiva, entre outras.
No próximo ano, as empresas definitivamente autorizadas passarão a utilizar obrigatoriamente sites com a extensão bet.br. Em seguida, serão analisados os pedidos recebidos após 20 de agosto.