Transporte de drogas “abrirá portas” para PRFs, diz líder do tráfico
Coluna revelou, com exclusividade, diálogos obtidos pela PF que mostram que PRFs traficavam drogas para o CV
atualizado
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O traficante José Heliomar de Souza afirmou que o transporte de drogas iria “abrir portas” aos policiais rodoviários federais (PRFs) Diego Dias Duarte (vulgo Robocop) e Raphael Angelo Alves da Nóbrega. Os três foram alvos da Operação Puritas, deflagrada no último dia 7/11, que investiga uma organização criminosa voltada para o tráfico de cocaína composta por PRFs e policiais militares.
Heliomar, também conhecido como Léo, atuava como a ponte entre os policiais e o Comando Vermelho (CV).
A Polícia Federal obteve diálogos que mostram os dois PRFs negociando valores para levar a droga para a facção criminosa no Ceará. Uma das conversas ocorreu entre 17 e 19 de dezembro de 2021. Como o “serviço” ocorreria às vésperas do Natal, os policiais queriam adiar para janeiro e afirmam que “toda semana aparece oportunidade”.
Em seguida, Raphael diz para Diego que Léo os “está apertando” para realizar logo o transporte.
“Leo apertando… Tá meio desesperado… Diz q vai abrir as portas pra gente… N sei se é algo q ele deve/prometeu ou q realmente abrirá portas e por isso tanta importância”
Leia os diálogos:
Na mesma conversa, os dois policiais consideram “baixo” o valor de R$ 35 mil para transportar 70 quilos de cocaína: o mínimo teria que ser R$ 1,5 mil por quilo da droga, ou seja, R$ 105 mil.
Diego e Raphael Angelo até alugavam carros para o transporte de drogas. Ambos realizavam consultas em sistemas informatizados da PRF para que outros integrantes da quadrilha evitassem fiscalizações nas rodovias.
A quebra dos sigilos telefônico e telemático dos investigados apontou conversas entre os agentes da PRF negociando o valor do “serviço” e elaborando estratégias para não serem pegos transportando a droga nas rodovias do país.
PRF foi preso por tranportar meia tonelada de drogas
Raphael Angelo chegou a ser preso em flagrante em julho de 2023 transportando 542 kg de cocaína em Canarana (MT), a 823 quilômetros de Cuiabá. Na ocasião, ele capotou a caminhonete que pilotava com as drogas, tentou empreender fuga em um táxi, mas foi rendido.
Naquele tempo, Raphael já era investigado por tráfico de drogas e trabalhava lotado na unidade da PRF em Porto Velho (RO). No curso das investigações, a PF identificou que ele recebeu um Jeep Compass como forma de pagamento pelo transporte de drogas. Ele foi demitido pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, em 24 de julho deste ano, em razão de um Processo Administrativo Disciplinar (PAD).
Já Diego Duarte está atualmente lotado na PRF da Bahia, mas já trabalhou na cidade de Guajará-Mirim, em Rondônia, na fronteira com a Bolívia.
Diego foi preso no último dia 7 no âmbito da Operação Puritas. A Polícia Federal apreendeu na casa dele, em Feira de Santana, um cofre com R$ 580 mil e US$ 8,1 mil de dinheiro em espécie. Veja vídeo a seguir:
Quem são os 15 integrantes que foram alvos da Operação Puritas
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- José Heliomar de Souza, vulgo “Leo”, residente na cidade de Porto Velho (RO): atual líder da organização; atua na articulação da logística de transporte de drogas.
- Roberte Paulo Aguiar Souza, o Cabo Aguiar da PMRO: motorista da organização criminosa. Atualmente encontra-se foragido.
- Gedeon Rocha de Almeida, vulgo “G Rocha”, sargento da PMRO: atuava no transporte de drogas. Foi preso em flagrante por atuar como batedor no transporte de 500kg de cocaína em janeiro de 2023.
- Diego Dias Duarte, vulgo “Robocop” ou “DDD”: agente da PRF atualmente lotado no estado da Bahia, entretanto já foi lotado na cidade de Guajará-Mirim. Diego atuava diretamente nos transporte de droga; alugava veículos; consultava sistemas da PRF.
- Raphael Ângelo Alves da Nóbrega, agente da PRF: Foi preso preso transportando 542 kg de cocaína em Canarana (MT). Assim como Diego, ele também realizava a consulta em sistemas informatizados da PRF para que outros membros do grupo evitassem fiscalizações. Recebeu um Jeep Pass como forma de pagamento pelo transporte de drogas.
- Francisco de Assis Araújo Melo, policial militar da Bahia: encontrou-se com Heliomar no dia anterior de sua prisão em flagrante por portar ilegalmente munições de fuzil. Na ocasião, Francisco transportava grande quantia em dinheiro, a qual atribuiu ao “amigo” PRF Diego Duarte e que teria sido recebida de indivíduo apelidado de “Leo” (Heliomar).
- Suziele Gomes de Oliveira: acompanharia os transportes realizados pelo grupo investigado, realizando, entre outras funções, a navegação nas rotas utilizadas pela organização. Ela acompanhava Raphael no dia em que os dois foram presos em Canarana. Ela também tem ligações com Heliomar, Diego (Robocop) e outros membros da organização criminosa.
- Rafael Dias Andrade da Cunha: primo do PRF Diego Dias Duarte, identificado como o contato “Adv” em celular apreendido com Suziele. Ele seria o batedor da droga apreendida com Suziele e o PRF Raphael Angelo em Canarana (MT).
- Emerson Miranda Santos, vulgo “Cumpadre”: é um dos destinatários dos transportes organizados por José Heliomar. Foi um dos financiadores da compra do veículo Jeep Compas utilizado como pagamento ao PRF Raphael Angelo.
- Lucas Acácio Botelho, o “Don Príncipe”: se autodeclara como membro do Comando Vermelho (CV), desempenhando um papel central na organização criminosa no Ceará. Além de ser um dos destinatários da droga, é também encarregado de coordenar os membros locais responsáveis pela logística e pelos pagamentos relacionados ao tráfico de entorpecentes.
- Thiago Silva Duarte, vulgo “Don Oscar”: principal contato de Lucas Acácio no núcleo da organização criminosa em Fortaleza (CE), sendo responsável pela parte financeira do grupo.
- Thiago Rodrigues Pinheiro, vulgo “Babu”: citado recorrentemente em conversa de Don Príncipe com José Heliomar, tendo realizado deslocamentos suspeitos, segundo as investigações.
- Matheus Lourenço de Oliveira: responsável pela parte financeira da organização criminosa que lida com os pagamentos e depósitos bancários. Ele trabalha sob ordens de Don Príncipe.
- Rafael Assunção Gadelha: membro operacional responsável pela logística no estado do Ceará. Se deslocou a mando de “Don Príncipe” e foi responsável por um encontro em Jijoca de Jericoacoara (CE) possivelmente para receber entorpecentes de Diego Dias Duarte, que estava acompanhado de Suziele.
- Lucas Lourenço de Oliveira, vulgo “Boleta”, executa papel similar ao de Matheus Lourenço, que é seu irmão, atuando sob as ordens de Don Príncipe.
*Inicialmente, essa reportagem dizia, com base em um documento da PF, que o PRF Raphael Ângelo era lotado em Rio Grande do Norte. A PRF, no entanto, enviou um documento mostrando que ele jamais esteve lotado em Natal, corrigindo a informação presente em relatório da PF.