Vinhos de R$ 5 mil e mimo de bilionário: o luxo no lixo de Lula
O ex-presidente foi afagado por Rubens Ometto, que votou em Jair Bolsonaro em 2018
atualizado
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Foram bem animados (e faustosos) os dias que antecederam a cerimônia de casamento do ex-presidente Lula com Rosângela da Silva, a Janja, na confortável casa de dois andares que o casal escolheu para morar em Alto de Pinheiros, bairro nobre da zona oeste de São Paulo.
As garrafas descartadas na porta da casa às vésperas do casamento deixam evidente que, na prática, o líder petista leva uma vida bastante diferente daquela que prega para os demais brasileiros de classe média.
No início de abril, ao discursar em um evento em São Paulo, o ex-presidente espinafrou o padrão de vida da classe média ao dizer que, enquanto a maioria da população tem dificuldades para se sustentar, uma parcela pequena ostenta luxos desnecessários.
Disse Lula na ocasião: “O país está pronto para 10% da população. Nós temos uma classe média que ostenta um padrão de vida em que nenhum lugar no mundo a classe média ostenta. Nós temos uma classe média que ostenta um padrão de vida que não tem na Europa, que não tem em muito lugar. Aqui, na América Latina, a chamada classe média ostenta um padrão de vida acima do necessário”.
Da porta de casa para dentro, o padrão de vida de Lula é exatamente assim: acima do que ele mesmo considera necessário para os outros. Entre as garrafas vazias deixadas para serem recolhidas pelo serviço de limpeza, havia, por exemplo, uma do exclusivo vinho português Pêra-Manca, da safra de 2014, superfestejada pelos especialistas.
Com notas de carvalho e tabaco, o Pêra-Manca é produzido no Alentejo, na região centro-sul de Portugal, e harmoniza bem com carnes. Uma garrafa similar é vendida em lojas do ramo por R$ 5 mil, em média.
Entre os vinhos estrelados consumidos na casa de Lula, tinha também um exemplar do Casanova di Neri, um legítimo Brunello di Montalcino, produzido na região italiana da Toscana. O preço na loja em que foi comprado (um adesivo na parte de trás da garrafa dá a pista): R$ 5,8 mil.
Havia, ainda, garrafas de vinhos um pouco mais modestos, como Angélica Zapata (argentino, R$ 500), Colomé (argentino, R$ 140) e Quinta Vale D. Maria (português, R$ 115).
Um cartão dispensado junto com as garrafas chama a atenção. E revela que, mesmo após a Operação Lava Jato, cujas investigações anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) apontaram para relações heterodoxas de Lula com alguns dos empresários mais importantes do país, o petista mantém laços estreitos com medalhões do PIB nacional, que fazem questão de afagá-lo, de olho nas pesquisas eleitorais que apontam seu favoritismo na corrida presidencial deste ano.
O remetente foi Rubens Ometto, um dos homens mais ricos do país, dono de uma fortuna estimada em mais de R$ 45 bilhões. “Caro Presidente, conforme prometido, espero que goste!!! Abraços”, escreveu o empresário à mão. O cartão, que acompanhou um mimo enviado por Ometto, traz impresso o nome completo do megaempresário, sócio-fundador do grupo Cosan, com negócios nos ramos de álcool, açúcar, energia, lubrificantes e logística.
Rubens Ometto é o típico empresário que reza para todos os santos – ou nem tão santos assim. Na mesma semana em que enviou o presente “prometido” a Lula, ele apareceu sentado ao lado de Jair Bolsonaro no almoço do presidente da República com Elon Musk, o homem mais rico do mundo, que veio ao Brasil para anunciar um projeto para levar internet a escolas situadas em áreas rurais e um plano para monitoramento da Amazônia.
Em 2018, Ometto declarou voto em Bolsonaro no segundo turno contra o petista Fernando Haddad. Ele foi o maior doador daquelas eleições, com R$ 7,5 milhões distribuídos a diversos candidatos e partidos, dentre os quais o ex-governador João Doria, do PSDB, de quem é amigo. A coluna perguntou ao empresário qual foi o mimo enviado a Lula na semana passada, mas ele não havia respondido até a publicação desta reportagem.
A nova casa de Lula em São Paulo tem 600 metros quadrados, com quatro suítes e uma generosa área de lazer com piscina e churrasqueira. Amigos do ex-presidente dizem que o imóvel foi alugado. O valor do aluguel é mantido em sigilo, mas há cerca de cinco anos a casa estava disponível pelo preço de R$ 22,5 mil por mês. Quem quisesse comprá-la tinha que desembolsar pelo menos R$ 4 milhões.
Até ser preso pela Lava Jato, Lula vivia em seu apartamento de 120 metros quadrados em São Bernardo do Campo, comprado no fim dos anos 1990.