Treta no Itamaraty após promoção de ex-assessora de Michelle
No WhatsApp, diplomata que servia à primeira-dama exaltou Celso Amorim, ex-chanceler de Lula. As mensagens detonaram uma cadeia de intrigas
atualizado
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A promoção da diplomata Marcela Magalhães Braga para um dos principais cargos no recém-criado vice-consulado do Brasil em Orlando, a cidade americana conhecida por sediar os parques de diversões mais concorridos do mundo, virou motivo de polêmica no Itamaraty.
O pano de fundo tem a ver com o posto que Marcela Braga ocupava até ser escalada para a nova função: ela era uma das principais assessoras da primeira-dama Michelle Bolsonaro.
A treta se deu em grupos de WhatsApp de diplomatas, logo após a nomeação, assinada pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo chanceler Carlos França, ser publicada no Diário Oficial.
Com alguma dose de ironia, e aproveitando a onda da derrota eleitoral de Bolsonaro para Lula, colegas da ex-assessora de Michelle espalharam prints de mensagens que ela havia acabado de escrever, em um grupo privado, exaltando Celso Amorim, ex-chanceler de Lula e um dos principais auxiliares do presidente eleito.
“Gente, recomendo uma releitura dos discursos de nossa formatura. É de trazer lágrimas aos olhos”, escreveu Marcela Braga, acrescentando o link do site em que os discursos estão publicados. Em seguida, ela reproduz uma frase dita na ocasião pelo ex-chanceler petista: “‘Não permitam que a aspereza da realidade cerceie o idealismo ou a imaginação de vocês. Sejam bons profissionais, mas, sobretudo, sejam muito felizes’ – Celso Amorim”.
A diplomata havia enviado as mensagens para o grupo de que WhatsApp da turma de formação de diplomatas da qual ela fez parte. Acontece que, compartilhados por algum dos integrantes, os prints logo passaram a circular entre outros funcionários do Itamaraty – e, claro, não faltou quem aproveitasse para fazer as intrigas típicas dos corredores do poder de Brasília.
Pouco depois de Lula vencer a eleição, e tendo acabado de ser nomeada por Bolsonaro para um posto no exterior, a ex-assessora de Michelle estaria, na leitura de quem os espalhou, afagando a turma que reassumirá o poder em janeiro. Traição? Tentativa de se aproximar do petismo? Não se sabe, mas não foram muitos os comentários que vieram na sequência, dando conta de que uma das assessoras mais próximas de Michelle havia virado “lulista”.
No grupo original, Marcela Braga reclamou do falatório. “Colegas que estão compartilhando minhas palavras em grupos distintos e fazendo chacota, peço respeito. Tenho amigos em vários destes grupos que me defendem e conhecem a minha essência. Sinto muito ter colegas infelizes, frustrados, tristes, amargurados e que ficam gastando as parcas energias que lhes sobram pra falar mal de mim”, escreveu ela.
“Quem quiser falar diretamente comigo, é só me escrever. Não há necessidade de ser covarde e ficar espalhando minhas palavras fora de contexto”, emendou, para em seguida provocar: “Gostaria muito que a pessoa que fez isso e tirou esse print da tela, me dissesse quem é”.
Marcela Braga começou a trabalhar com Michelle Bolsonaro em 2020. Ela deixou a função de assessora da primeira-dama em 12 de setembro. Foi exonerada “a pedido”. Antes de auxiliar Michelle, serviu por 11 anos em diferentes postos do Itamaraty, como os de Tóquio, Liubliana e Hanói.
Procurada pela coluna, a diplomata disse que preferia não se manifestar sobre a confusão das mensagens. “Não tenho nenhum interesse em explicar o que aconteceu. Eu sinto muitíssimo que isso tenha sido compartilhado dessa forma. Eu sou uma servidora de Estado, mereço ser tratada como tal”, declarou.