Sob Lula, Arthur Lira mantém seu latifúndio no governo
Presidente da Câmara, que apoiava Bolsonaro e agora pisca para o governo do PT, segue dono de cargos que movimentam verbas generosas
atualizado
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Ex-aliado de primeira hora de Jair Bolsonaro e agora em fase de, digamos assim, negociação com Lula, Arthur Lira mantém cargos importantes no atual governo.
Na semana passada, o presidente da Câmara e um dos mais poderosos chefões do notório PP, partido que é um dos pilares do Centrão, conversou longamente com o diretor-presidente da estatal Companhia Brasileira de Trens Urbanos, a CBTU, José Marques de Lima.
Não era um despacho trivial: Arthur Lira é, desde o governo de Michel Temer, o “dono” do cargo e Lima, que antes de assumir a cadeira em Brasília ocupava a chefia da companhia em Alagoas, estado do deputado, é seu apadrinhado.
Há anos a CBTU, que administra redes de trens em zonas urbanas e é dona de um polpudo orçamento, se transformou em um feudo do PP. E, como é comum em situações do tipo, já rendeu alguns embaraços para figuras graúdas do partido, incluindo o próprio Lira, que em 2019 virou réu na Justiça sob a acusação de receber propina para interferir em decisões da estatal.
Outros domínios
A companhia de trens não é o único naco da máquina federal sobre o qual o presidente da Câmara mantém influência mesmo após a posse de Lula.
Ele segue poderoso em outras frentes, como a estatal Codevasf, a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba, conhecido escoadouro de verbas bilionárias provenientes especialmente das emendas parlamentares, e do DNOCS, o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas.
Isso ocorre tanto em Brasília quanto em escritórios regionais dos dois órgãos. O apoio de Lira foi fundamental, por exemplo, para que comando nacional da Codevasf permanecesse nas mãos de um indicado do também deputado Elmar Nascimento, líder do União Brasil e seu aliado preferencial na Câmara. A Codevasf, como se sabe, é alvo de uma série de suspeitas de corrupção envolvendo recursos do chamado orçamento secreto, mas no atual governo tudo continua como antes.
Também segue sob a batuta de Arthur Lira a superintendência da Codevasf em Alagoas, não por acaso comandada desde 2021 por um primo dele. A superintendência da Incra no estado é outra que está em família: é igualmente chefiada por um primo de Lira. No mês passado, o governo alterou as chefias do órgão em 19 estados. Sete permaneceram sem mudanças, incluindo o escritório alagoano. A representação local da CBTU também é do deputado e está entregue ao irmão de um assessor do PP na Câmara muito próximo a Lira.
O Brasil, como se vê, muda para mudar pouco.