Quando o astronauta Marcos Pontes ainda estava no governo, uma de suas principais auxiliares, Christiane Gonçalves Corrêa, era vista como uma espécie de eminência parda no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, o MCTI.

Muitos funcionários que lidavam diretamente com o gabinete do então ministro diziam que, na prática, ela mandava mais do que ele.

O astronauta deixou o posto no fim de março, para se candidatar nas próximas eleições, mas Christiane ficou. E seguiu poderosa.

Secretária de Articulação e Promoção da Ciência, um dos cargos mais graúdos do ministério, ela continua prestando serviços ao ex-chefe — agora, com fins eleitorais.

A coluna obteve registros de que Christiane tem usado a lista de contatos de funcionários da pasta para difundir textos e imagens que propagandeiam a candidatura de Marcos Pontes e para  divulgar eventos de campanha do ex-ministro, pré-candidato ao Senado por São Paulo.

Qualquer cidadão pode pedir votos para quem quer que seja, evidentemente. O caso em questão, porém, chama atenção pelo fato de a secretária enviar a propaganda para os servidores que são seus subordinados dentro do ministério.

Marcos Pontes é filiado ao PL, o mesmo partido de Jair Bolsonaro.

O material é encaminhado aos funcionários a partir do mesmo número que Christiane costuma usar para tratar de assuntos oficiais da pasta.

Na maioria dos casos, as mensagens são assinadas pelo próprio Marcos Pontes e misturam assuntos do MCTI, como projetos da gestão dele, com a campanha.

A secretária também envia regularmente para os funcionários posts publicados nas redes sociais do ex-ministro (veja galeria). Alguns fazem menção, também, às candidaturas de Jair Bolsonaro à Presidência e de Tarcísio de Freitas ao governo paulista.

Na semana passada, , por exemplo, Christiane Corrêa distribuiu para os funcionários do ministério um texto de Pontes convidando apoiadores para uma palestra na cidade de Olímpia, interior de São Paulo.

Em 24 de julho, logo após ser anunciado como o candidato da chapa de Tarcísio ao Senado, uma mensagem do ex-ministro distribuída pela secretária a seus contatos anunciava a novidade e pedia apoio. “Agora está oficializada a minha pré-candidatura ao Senado-SP. Conto com o seu apoio e com sua divulgação. TamoJunto (sic)”, dizia o texto, acompanhado de uma foto do ex-ministro ao lado do presidente.

Em mais uma mensagem, de 22 de junto, o astronauta surfa no link de uma notícia sobre um projeto do MCTI para faturar eleitoralmente.

“Com muita satisfação eu compartilho com vcs mais algumas realizações. Abraços espaciais e conto com vocês nesta próxima missão por São Paulo”, escreveu ele. “A oficialização do presidente Jair Bolsonaro como candidato à reeleição mexeu com o coração patriota. Todos unidos por um só ideal”, diz parte de outra mensagem distribuída por Christiane Corrêa.

Christiane Corrêa figura até hoje como sócia de pelo menos uma das empresas do astronauta.

Não é a primeira vez que ela aparece fazendo campanha e misturando sua função oficial no segundo escalão do governo Bolsonaro com o trabalho de cabo eleitoral.

Em abril, durante a passagem do presidente da República por uma feira de agronegócio em São Paulo, o jornalista Sam Pancher, do Metrópoles, flagrou integrantes da comitiva distribuindo material de campanha de Marcos Pontes a participantes do evento (assista abaixo).

Na sequência, o colunista Robson Bonin, da revista Veja, mostrou que entre os entregadores de panfletos estava Christiane Corrêa, a secretária que é paga com dinheiro público para promover a ciência brasileira, mas tem se mostrado bem mais empenhada na tarefa de fazer a candidatura do astronauta decolar.