PF vê pressão para desenterrar caso da facada antes das eleições
Desdobramento da apuração gera desconforto interno, pelo temor de uso político por Jair Bolsonaro na reta final da campanha
atualizado
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A Polícia Federal está sendo cobrada pela ala política do governo a tirar da cartola nas próximas semanas alguma ação que traga de volta ao noticiário a facada sofrida pelo presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2018.
A pressão vem causando incômodo em setores estratégicos da corporação, que veem no caso mais um exemplo de interferência indevida do governo e uma tentativa explícita de gerar dividendos eleitorais para Bolsonaro em plena campanha.
Fontes a par das investigações disseram à coluna que há um movimento para deflagrar imediatamente uma operação relacionada ao atentado. Há quem resista, internamente, e aponte riscos para a imagem da corporação, em razão da óbvia leitura de uso político que virá junto.
Nesta segunda-feira, ao participar de um podcast religioso, o presidente Jair Bolsonaro disse que Adélio Bispo, o autor da facada, já o seguia dias antes do atentado e também teria planejado matar seu filho 02, o vereador Carlos Bolsonaro.
As declarações do presidente, faltando 20 dias para o primeiro turno das eleições, foram vistas dentro da PF não apenas como um sinal de que ele vem sendo municiado com informações sobre a investigação, que corre sob sigilo, mas também como uma demonstração da expectativa em relação aos desdobramentos do caso.
A mesma PF já concluiu duas vezes que Adélio agiu sozinho e que a tentativa de assassinato não teve mandantes. Mas Bolsonaro nunca se deu por satisfeito com o resultado da apuração, que foi reaberta para averiguar, mais uma vez, se houve alguma participação de terceiros, apoiando, instigando ou mesmo financiando o atentado.
Essa nova etapa do trabalho está a cargo da Diretoria de Inteligência Policial, a DIP, subordinada diretamente ao comando da instituição, em Brasília. O ministro da Justiça, Anderson Torres, tem sido atualizado permanentemente sobre o andamento da investigação, para a qual foi destacado um experiente delegado do setor.
Como a coluna já mostrou, em uma das principais linhas da investigação a PF voltou a buscar – bem em linha com o que pregam seguidores de Bolsonaro – ligações de Adélio Bispo com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital, o PCC. O sonho do presidente, que não encontra amparo nas apurações realizadas até então, é atrelar o atentado a um plano maior que teria sido arquitetado para eliminá-lo.