Os enroscos do clã do ministro que está por um triz
De ligação com pistolagem a desvio de verba, família de Juscelino Filho coleciona suspeitas. Mulher dele ganhou contratos sem licitação
atualizado
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Juscelino Filho, o ministro com quem o presidente Lula pretende se reunir nesta segunda-feira e de quem espera provas de “inocência” ao cabo de uma sucessão de denúncias, é cercado por gente igualmente enrolada.
Típico político forjado à moda dos coronéis dos grotões – daqueles que, uma vez expostos ao crivo da opinião pública, dificilmente saem ilesos –, ele tem em seu entorno personagens metidos em histórias bastante complicadas.
Para além de tudo o que já se revelou, inclusive aqui na coluna, que nesta semana mostrou que ele usou o cargo de ministro para liberar verbas federais para uma empreiteira suspeita de envolvimento em desvios, Juscelino vem de uma família que, no interior do Maranhão, é associada às piores práticas políticas do Brasil profundo, incluindo suspeitas de pistolagem, fraude eleitoral, desvio de verbas destinadas à educação e obtenção de contratos públicos na base do jeitinho.
Assassinato e ameaça
Como noticiou a coluna de Guilherme Amado, o pai do ministro, o também político Juscelino Rezende, é réu por mandar matar um agiota e até já foi preso sob a acusação de envolvimento com roubo de carga e outros crimes. Ele chegou a ser investigado pela CPI do Narcotráfico da Câmara dos Deputados, no ano 2000.
As evidências de conexão com a seção pesada do Código Penal, porém, não param aí. Juscelino pai foi acusado, ainda, de ameaçar de morte um adversário político na cidade maranhense de Vitorino Freire, berço político da família. Foi em 1997. O rival, à época deputado federal, recebeu a ameaça depois que seu grupo denunciou – e aí vai mais uma anotação desabonadora para a folha corrida do clã – na eleição em que o pai do ministro se sagrou prefeito do município.
Desvio de dinheiro da educação
Juscelino Rezende, o pai do ministro, também já foi condenado por desvio de recursos públicos do FNDE, o fundo que banca a educação pública no país, na época em que administrou a cidade.
Sogro de Juscelino Filho, Fernando Fialho é outro que não escapa. Ele já foi diretor da Antaq, a Agência Nacional de Transportes Aquaviários, e na época foi acusado de favorecer um empresário ligado ao ex-presidente do Senado José Sarney, a quem é ligado. Na ocasião, negou ter incorrido em conflito de interesses.
Os contratos milionários da mulher
Chefe da pasta das Comunicações de Lula por indicação do União Brasil, partido que vem prometendo desde a transição apoiar o governo no Congresso, Juscelino Filho viu as empresas de sua mulher, médica, faturarem alto, na casa dos milhões, na época em que ele era deputado federal e mantinha ligações estreitas com o governo do Maranhão.
As firmas de Lia Fialho, a mulher do ministro, passaram a prestar serviços para a rede pública de saúde do estado graças a contratos firmados sem licitação com uma organização social que recebe verbas do governo local.
Firmados a partir de 2017 em vigor até hoje, esses contratos preveem pagamentos que, somados, podem ter passado de R$ 8 milhões — indagada, a organização social contratada pelo governo do Maranhão não quis informar os valores efetivamente pagos.
Há outros contratos, inclusive de locação de aparelhos, que garantem repasses mensais de mais R$ 60 mil às empresas da mulher do ministro.
Os advogados de Juscelino Filho, Ticiano Figueiredo e Pedro Ivo Velloso, afirmaram em nota que o ministro “não é sócio das referidas empresas e, portanto, não pode responder por elas ou pelas contratações”.
A organização social responsável pelos pagamentos, chamada Instituto Acqua, disse desconhecer a ligação das firmas com “agentes políticos externos”. Lia Fialho, a mulher de Juscelino, não se manifestou.