Os bastidores da investigação sobre o assédio na Caixa
Foi, antes de tudo, uma investigação jornalística. Uma apuração de longo prazo, com todas as dificuldades que casos sensíveis trazem
atualizado
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A quem interessar possa, conto aqui um pouco dos bastidores da apuração que levou à queda do presidente da Caixa.
Foi, antes de tudo, uma investigação jornalística.
Uma apuração de longo prazo, com todas as dificuldades que casos sensíveis como esse trazem.
Tudo começou com uma informação pontual, sobre uma situação específica, ocorrida no banco já há algum tempo.
Fomos puxando o fio aos poucos, com cuidado, com jeito, até chegarmos a um primeiro caso de assédio. A partir desse, fomos chegando a outros.
Um caso levava a outro, e assim fomos nos dando conta de que se tratava de algo sistemático, quase institucionalizado, que ocorria havia três anos sem que nada tivesse sido feito até então. O silêncio e o medo imperavam.
Houve um longo processo, conversas e mais conversas, até que as mulheres se sentissem seguras o suficiente e concordassem em falar.
Em paralelo, fizemos levantamentos sobre as viagens oficiais da Caixa, cruzamos informações e reunimos elementos que corroboravam as denúncias — como escrevemos na reportagem, eles só não foram exibidos porque isso poderia expor as vítimas.
No curso da apuração, para além dos casos de assédio sexual, chegamos aos vários relatos de assédio moral. Ouvimos mais gente. E, depois, pudemos obter registros dos episódios, como as gravações que publicamos ontem. O trabalho foi ganhando fôlego, mais e mais.
A investigação sigilosa em curso no Ministério Público Federal começou quando a nossa apuração já estava bem encaminhada.
Eu diria até que essa investigação oficial é consequência da investigação jornalística, porque foi durante o processo de apuração da reportagem que as mulheres se sentiram suficientemente encorajadas para contar também às autoridades o que viveram.
Os depoimentos que publicamos foram colhidos por nós em semanas, mas a jornada foi longa e acidentada.
Lançar luz sobre o que está escondido, oculto, é uma das tarefas do jornalismo. E isso se torna ainda mais primordial quando o que está oculto faz pessoas sofrerem. Fizemos o que nos cabia.