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O lixão da campanha: onde o vale-tudo iguala petistas e bolsonaristas

Especialistas veem prejuízo à credibilidade do sistema político, mas dizem que movimento é natural diante do acirramento da disputa

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Arte/Metrópoles
Lula e Bolsonaro em preto e branco e fundo amarelo
1 de 1 Lula e Bolsonaro em preto e branco e fundo amarelo - Foto: Arte/Metrópoles

A tática bolsonarista de distribuir informações falsas por aplicativos de mensagem e redes sociais para garantir votos não é propriamente uma novidade. Os métodos empregados em 2018 fizeram a Justiça Eleitoral redobrar a atenção para as eleições deste ano.

O que não estava no radar, porém, era que as mesmas táticas de guerra suja também seriam adotadas por apoiadores da campanha de Lula, que sempre criticaram a máquina de fake news usada para catapultar Jair Bolsonaro.

Com o acirramento dos ataques entre os dois candidatos na campanha oficial, da reta final do primeiro turno para cá perfis pró-Lula têm difundido “fake news” em um padrão bem semelhante aos de seus adversários.

Como se sabe, o ponta de lança da ofensiva é o deputado federal André Janones, ex-aspirante a presidenciável que aderiu a Lula antes do início oficial da campanha.

A estratégia, porém, ganhou adeptos e há, nas redes, um grande contingente de apoiadores do ex-presidente replicando conteúdo falso — a ponto de uma ala da campanha e de petistas influentes estarem se sentindo incomodados.

Mentiras e religião

A lista de Janones já é extensa. No início de setembro, ele disse que o PL, partido de Bolsonaro, estava por trás da derrubada do piso salarial da enfermagem. E escreveu: “Mamadeira de piroca (em referência a uma conhecida fake news bolsonarista de 2018) se combate com mamadeira de piroca”.

Nos últimos dias, Janones espalhou que, caso Bolsonaro seja reeleito, o senador Fernando Collor de Mello, que está sem mandato eletivo a partir de 2023, vai assumir o cargo de ministro da Previdência. “Quando Lula foi presidente nenhuma igreja foi fechada, mas quando Collor foi, muitas poupanças foram confiscadas! Façam essa reflexão lá no grupo da família!”, escreveu o deputado no Twitter.

De um lado e de outro, no lixão da campanha há ainda a exploração de temas ligados à religião. Depois que bolsonaristas espalharem fake news ligando Lula ao satanismo, petistas passaram a explorar as conexões de Bolsonaro com a maçonaria — os dois lados, na tentativa de minar a confiança do eleitorado cristão nos candidatos adversários.

Janones chegou a gravar um vídeo dizendo que Bolsonaro fez um “pacto com seita maçônica pra vencer eleição”. “A gente não sabe o que o Bolsonaro negociou lá na maçonaria para eles apoiarem ele”, afirmou. Outro exemplo de desinformação da semana é de que Bolsonaro vai acabar com o feriado de Nossa Senhora Aparecida, em 12 de outubro.

O secretário de Comunicação do PT, Jilmar Tatto, afirmou à coluna que a campanha de Lula não produz nem autoriza a propagação de “fake news”. “Existe uma determinação expressa. Não fazemos nada ilegal e não produzimos fake news. Nos recusamos a fazer isso”, disse ele.

“Linguagem do momento”

Professora de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a UFRJ, Mayra Goulart observa que, com o tempo, a profusão de fake news gera no eleitor comum dificuldades para saber o que, afinal, é correto ou não.

Diferenciar um dado confiável de uma informação absurda é algo que, no dia a dia, acaba virando uma tarefa difícil para uma parcela relevante do eleitorado.

Sobre a tática de parte dos apoiadores de Lula de usar dos mesmos artifícios bolsonaristas, ela afirma que essa é “a linguagem do momento”, o que torna a estratégia um tanto inevitável. “O campo progressista dificilmente vai disputar os eleitores se não usar a linguagem do momento”, defende.

Para o cientista político e professor do Insper Carlos Melo, um ambiente tomado por informações falsas acaba por minar a credibilidade no sistema como um todo. “Um regime político feito com base na mentira é péssimo, porque mina a credibilidade dos atores políticos”, diz ele.

Melo afirma que, se em 2018 o cenário já era ruim, em 2022 piorou, com a campanha de Lula reagindo com estratégia similar. Ele observa, porém, que é uma reação esperada, embora não seja positiva. “Acaba sendo natural que numa guerra tão acirrada, tão sem limites, que todos acabem aderindo a ela.”

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