O jogo psicológico das campanhas de Lula e Bolsonaro na reta final
Moro no estúdio, broche na lapela, reunião de Lula com “inimigo íntimo” de Bolsonaro: vale tudo para tentar desestabilizar o adversário
atualizado
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As campanhas de Lula e Jair Bolsonaro têm recorrido a estratégicas psicológicas — algumas curiosas — na disputa do segundo turno das eleições.
A tentativa, por óbvio, é desestabilizar o adversário e, claro, tentar auferir votos com os reflexos naturais das iniciativas na opinião pública.
O debate da noite deste domingo, na Band, expôs algumas das estratégias das duas campanhas.
A mais visível foi o convite de Jair Bolsonaro para que o ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro Sergio Moro integrasse sua comitiva – uma medida, diga-se, extremamente duvidosa e passível de reprovação por parte do eleitorado em razão do rumoroso rompimento entre os dois, que agora aparecem lado a lado como se nada tivesse acontecido.
A ideia da equipe de Bolsonaro era tirar Lula do prumo com a presença do ex-juiz que o condenou. O ex-presidente e Moro, que chegou minutos antes do início do debate, chegaram a se cruzar no estúdio.
Integrantes da campanha petista dizem que o efeito passou longe de ser o planejado pelos bolsonaristas. Nos bastidores, eles garantiam que souberam de véspera que Moro iria. O ex-juiz chegou a orientar Bolsonaro fora do ar. Na entrevista ao final do debate, foi plantado ao lado do presidente na tentativa de reforçar a ofensiva de Bolsonaro contra Lula no tema corrupção.
O candidato petista, por sua vez, se moveu para explorar a declaração do adversário sobre o encontro que teve com meninas venezuelanas em uma cidade da periferia de Brasília.
Embora tenha evitado tocar diretamente no tema para não ser acusado de baixar o nível do debate – ele mencionou apenas a live que Bolsonaro fez na madrugada para se defender –, o ex-presidente foi para a frente das câmeras ostentando na lapela do paletó o broche de uma campanha contra o abuso sexual de crianças e adolescentes.
Algo sutil, quase subliminar, que poderia até passar despercebido, mas que a campanha petista explicou e fez circular enquanto o debate ainda estava no ar – era uma forma de manter o assunto vivo no noticiário, ampliando o potencial de desgaste para Bolsonaro.
O jogo psicológico em torno do debate já estava em curso dias antes do confronto direto entre os dois, o primeiro deste segundo turno.
Ao longo da semana, a campanha de Lula fez saber, também pelo noticiário, que o ex-presidente se preparou para o debate com a ajuda do empresário Paulo Marinho, suplente do senador Flávio Bolsonaro e peça-chave da campanha de Jair Bolsonaro em 2018 – a casa de Marinho no Rio serviu como o principal QG do comitê bolsonarista àquela altura.
Como é de se esperar que o empresário, hoje rompido com os Bolsonaro, ainda guarde segredos dos tempos em que foi íntimo da família, a informação de que Marinho estava municiando Lula tinha o condão de gerar no presidente o temor de que poderia ser surpreendido, durante o debate, com alguma pergunta incômoda sobre seu passado recente. Não foi desta vez. Mas a guerra psicológica seguirá. Daqui até o dia 30, certamente virão novas batalhas.