MP quer que PF investigue irmão de Michelle por falso testemunho
Procurador aponta indícios de que o fotógrafo mentiu ao depor sobre escândalo de assédio na Caixa
atualizado
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Na ação movida na semana passada para obrigar o ex-presidente da Caixa Pedro Guimarães a pagar uma multa milionária pelos casos de assédio sexual e moral no banco, o Ministério Público do Trabalho fez um pedido que acabou não chamando atenção em meio à avalanche de relatos colhidos durante a apuração, aberta a partir de reportagem publicada aqui na coluna.
No meio da peça, o procurador Paulo Neto pede à Justiça que envie uma parte dos autos à Polícia Federal para investigar indícios de que um fotógrafo da presidência da Caixa cometeu falso testemunho no depoimento que prestou sobre o escândalo. O nome do fotógrafo não aparece – ele é identificado apenas por um número, assim como outras testemunhas ouvidas –, mas trata-se de Eduardo Torres, irmão da primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Ao prestar ao Ministério Público Federal um depoimento que foi compartilhado depois com o MPT, Torres disse não ter conhecimento de episódios de assédio envolvendo Guimarães. Ele ainda fez questão de defender o ex-presidente da Caixa, com quem costumava fazer viagens de trabalho frequentemente: disse que o tratamento que Guimarães dava às mulheres era igual ao dispensado aos homens, e que não havia excessos nos contatos físicos. “Na maioria das vezes dava um abraço apertado nos homens, abraço lateral; e nas mulheres era abraço lateral”, afirmou o irmão da primeira-dama, conforme registra a peça do MP.
Ocorre que, em depoimento anterior, uma outra testemunha havia afirmado que Eduardo Torres tinha, sim, conhecimento dos episódios e, mais do que isso, já havia feito comentários a respeito do comportamento de Pedro Guimarães.
No pedido que faz à Justiça para remeter uma parte da ação à Polícia Federal para apurar o possível crime de falso testemunho, o procurador lembra que, antes de depor, Torres foi advertido de que estava obrigado a falar a verdade. Além disso, ele foi acompanhado por um advogado, o que derruba a possível alegação de que não sabia dos riscos que correria se mentisse.
Próximo de Michelle e do próprio Bolsonaro, Eduardo Torres foi candidato a deputado distrital neste ano pelo PL, o mesmo partido do presidente. Ele não conseguiu se eleger.