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Missão empresarial à China atraiu lobistas graúdos e enrolados

Personagens do submundo de Brasília que já foram alvo de investigações rumorosas foram a Pequim atrás de negócios e contatos privilegiados

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Pequim – A missão empresarial brasileira que foi a Pequim no fim de março para acompanhar a visita oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao líder chinês Xi Jinping contou, discretamente, com a presença de personagens enrolados do submundo de Brasília.

Lula acabou adiando a viagem por recomendação médica, mas a programação organizada para os empresários que o acompanhariam se desenvolveu normalmente, com a presença de pesos-pesados do PIB nacional, como os irmãos Joesley e Wesley Batista, da gigante de carnes JBS.

Sem alarde, e em busca de contatos privilegiados e de oportunidades, também havia no grupo lobistas conhecidos do submundo de Brasília que fizeram fama e se meteram em grandes embaraços nos últimos tempos intermediando negócios e abrindo portas no governo.

Desvios na pandemia

Um desses lobistas é o paranaense Roberto Bertholdo, alvo em 2020 de uma operação da Polícia Federal por suspeita de participação em um esquema de desvio de verbas de uma entidade que recebeu milhões de reais em verba pública para montar hospitais de campanha durante a pandemia.

Nos últimos anos, Bertholdo montou base em Brasília e se especializou em contatos de alto nível na esfera federal.

Em uma mansão no Lago Sul, recebia com frequência políticos de diferentes partidos. Gabava-se, por exemplo, de ter acesso privilegiado ao Ministério da Saúde e a figuras ilustres do Congresso, incluindo aliados próximos ao então presidente Jair Bolsonaro.

No governo de Michel Temer, ele funcionou como ponte entre empresários do setor e o ministro Ricardo Barros, chefão do PP, de quem é amigo do peito.

Roberto Bertholdo na conexão em Dubai, a caminho de Pequim


O caso em que esteve sob suspeita de envolvimento em desvio de verbas milionárias do combate à Covid-19 não foi o único episódio em que o lobista, que também é advogado, teve de encarar a Polícia Federal.

Ele chegou a ser preso também em 2006, sob a acusação de tráfico de influência, lavagem de dinheiro e compra de sentença. No passado, esteve metido ainda em negócios suspeitos em Itaipu Binacional e foi condenado por grampear o ex-juiz, ex-ministro e hoje senador Sergio Moro.

Na viagem à China, Bertholdo procurou estar perto de figuras de proa. Falante, e montado com peças de luxo — bolsa, sapatos e casaco Prada —, ainda na conexão em Dubai, nos Emirados Árabes, andou pelo aeroporto ao lado do megaempresário do agronegócio Marcos Molina, fundador do frigorífico Marfrig.

Mais tarde, Molina disse que conheceu o lobista durante a viagem, que não tem qualquer ligação com ele e que não fazia a menor ideia de seu passado.

Em Pequim, Bertholdo participou de compromissos organizados pelo governo brasileiro. Em um coquetel com a participação de empresários, gastou parte do tempo na companhia do deputado federal Zeca Dirceu, seu conterrâneo paranaense, filho do ex-ministro José Dirceu. O líder do PT na Câmara era uma das estrelas da comitiva oficial.

A coluna apurou que Roberto Bertholdo integrou oficialmente a missão brasileira na lista de convidados da Apex, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos.

De volta à cena

Outro personagem controverso que integrou a missão foi o também lobista Júlio Cesar Oliveira Silva, que durante a primeira era petista no governo federal ganhou estatura como alguém muito próximo do poder.

Representante em Brasília de multinacionais de informática, energia e logística durante anos e sócio de empresas obscuras de consultoria e serviços que faturaram milhões em contratos públicos, ele ajudava a destravar interesses de todo tipo.

Para isso, usava como credencial uma estreita proximidade com José Dirceu, o ex-todo-poderoso ministro da Casa Civil de Lula que até hoje é um dos baluartes do partido do presidente. A mulher do lobista, à época, era funcionária do Palácio do Planalto.

Júlio César Oliveira Silva no hotel que serviu de base para a missão, em Pequim

Tempos depois, a Lava Jato descobriu que a relação de Júlio Cesar com Dirceu era regada a dinheiro. Em 2016, ele chegou a ser preso pela operação por suspeita de intermediar propinas na Petrobras. As quebras de sigilo revelaram repasses das empresas do lobista para contas ligadas a Dirceu.

Depois de passar os últimos anos incógnito, Julio César voltou a se movimentar recentemente. Agora formado em direito e com carteira de advogado, ele lista entre suas novas especialidades a área de portos.

Na capital chinesa, o lobista circulou na companhia de empresários pelo hotel St. Regis, que hospedaria o presidente Lula e seu staff e serviu como base principal da missão brasileira.

Procurado pela coluna, Júlio César Oliveira Silva não respondeu às tentativas de contato.

Já o lobista Roberto Bertholdo disse ter ido à China “mais para passear” e para tratar de negócios de um cliente da área de energia, sobre os quais não poderia dar mais informações.

“Fui mais para passear. Eu fui pra acompanhar algumas coisas, tinha interesses em negócios, fiz uma ou outra reunião, mas as reuniões que eu faço são tratadas por sigilo. (…) Fui como advogado dos interesses de um negócio no setor energético que está sendo tratado, mas eu tenho um contrato de sigilo profissional e não posso falar a respeito disso”, afirmou.

 

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