“Fui laranja”, diz ex-candidata a deputada
Kyara Zaruty, de Brasília, afirma que pediu ao PMB para retirar sua candidatura, mas foi ignorada porque partido precisava alcançar cota
atualizado
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Em todo o país, 34 candidatos a deputado federal não tiveram mais do que dez votos nas eleições deste ano.
Há, ainda, políticos ou aspirantes a políticos que se inscreveram para concorrer a uma vaga de deputado estadual ou deputado distrital que passaram perto de um zero bem redondo no resultado final das urnas.
Um desses casos é o de Kyara Zaruty da Silva, de 34 anos. Candidata a distrital em Brasília pelo Partido da Mulher Brasileira, o PMB, ela teve apenas seis votos.
Nem Kyara votou nela mesma. À coluna, ela disse que antes do início oficial da campanha desistiu de sair candidata e fez vários pedidos ao partido para retirá-la da lista, mas ainda assim foi mantida na disputa.
Kyara, que se assumiu trans há mais de 20 anos e já havia tentado se eleger deputada distrital anteriormente, em 2018, é um caso raro de candidata que diz ter sido “laranja” na disputa eleitoral.
“Eu fui laranja. Eles me mantiveram só para garantir a cota”, diz.
A cota a que ela se refere é o número mínimo de candidaturas femininas que os partidos são obrigados a ter nas eleições, sob pena de serem punidos pela Justiça Eleitoral.
A campanha de Kyara não recebeu recurso algum. Ela conta que desistiu justamente quando percebeu que não teria dinheiro para divulgar sua candidatura.
“Se eles me tirassem, ia gerar um desfalque na nominata (a lista de candidatos que os partidos registram). Eu havia pedido (para ter o nome retirado) antes do lançamento da campanha, estava no meu prazo. Fiquei triste porque fui realmente usada pelo partido”, lamenta a ex-funcionária pública, que não faz ideia de quem foram as seis pessoas que apertaram seu número na urna.
Laranjas em série
Desde 2009, uma regra eleitoral determina que cada partido ou federação partidária tenha ao menos 30% de candidatas mulheres nas eleições para deputados.
Além disso, as siglas precisam destinar, no mínimo, 30% dos recursos públicos usados na campanha para tentar eleger candidatas.
Com a exigência legal, passaram a ser recorrentes nas eleições brasileiras os casos de candidaturas laranjas, que são lançadas apenas para garantir a cota mínima.
O advogado do PMB, Darly Pontes, disse desconhecer a situação: “Desconheço totalmente essa questão de ela ser candidata laranja”.