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“É um orgulho ter um sistema desse”, diz coronel que comanda “auditoria” nas urnas

Militar do Exército é o responsável por chefiar a equipe designada pelo Ministério da Defesa para avaliar sistema de votação do TSE

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Coronel do Exército Marcelo Nogueira em seção de votação no segundo turno das eleições de 2022
1 de 1 Coronel do Exército Marcelo Nogueira em seção de votação no segundo turno das eleições de 2022 - Foto: null

Chefe da equipe nomeada pelas Forças Armadas para “auditar” as urnas eletrônicas, o coronel do Exército Marcelo Nogueira elogiou na manhã deste domingo o sistema de votação usado pelo Tribunal Superior Eleitoral, o TSE.

Logo após votar em uma escola da Asa Norte de Brasília, entre várias respostas na mesma toada do discurso de Jair Bolsonaro e da cúpula militar, deixando para depois do resultado final das eleições o diagnóstico sobre a confiança nas urnas, Nogueira disse à coluna que o sistema é um “orgulho” para o país.

“Acho ruim o sistema eletrônico virar um problema de crença, de acreditar ou não. O sistema funciona, acho que é um orgulho para a gente ter um sistema desse. (…) Todo brasileiro deveria buscar manter a confiança no sistema. (…) Olha como era antes, aqueles papéis, aquelas mesas (refere-se aos tempos em que a votação era por meio de cédulas de papel). Eu acho que há uma desconfiança de grande parte da população, (por isso) acho importante esclarecer, e mais transparência. E agora vai ser uma máxima, né, porque você tem uma população dividida”, disse o militar.

Nogueira foi, nos últimos meses, um personagem conhecido da ofensiva deflagrada por Bolsonaro, com ajuda de parte das Forças Armadas, para questionar a integridade das urnas eletrônicas. Em julho deste ano, ao participar de uma audiência no Senado, ele levantou dúvidas sobre o sistema eletrônico de votação.

O coronel comandou a equipe indicada pelo Ministério da Defesa para participar de uma comissão formada pelo TSE para atestar a transparência do sistema eletrônico usado pelo Brasil – a participação dos militares no grupo ficou marcada pela expulsão do coronel Ricardo Sant’Anna, após a coluna revelar que, em suas redes sociais, ele fazia proselitismo em favor de Jair Bolsonaro e postava ataques ao sistema eleitoral.

Também é Nogueira quem coordena a polêmica auditoria paralela que o Ministério da Defesa anunciou que faria durante as eleições, inclusive comparando números de boletins de urna com os resultados computados pelo TSE. Após realizar o trabalho no primeiro turno, a despeito da expectativa criada pelo próprio Jair Bolsonaro, que chegou a dizer que só diria se confia no resultado após receber as informações da Defesa, a cúpula militar silenciou e não divulgou as conclusões do trabalho – o que indica que o diagnóstico poderá variar de acordo com o resultado final das eleições, com chance de, em caso de derrota de Jair Bolsonaro, dar sustentação a uma possível narrativa do atual presidente no sentido de questionar os números do pleito.

Eis o que o coronel Nogueira respondeu à coluna:

O senhor vota com confiança de que seu voto foi registrado?
Essa pergunta é um pouco capciosa. Mas eu voto tranquilo. Quando você fala em confiança, aí eu tenho que emitir um parecer sobre a confiabilidade do sistema. Mas a nossa intenção é atestar a conformidade, de que o sistema funcionou de acordo com o que era previsto. Se eu falar alguma coisa agora e algo for descoberto depois… A gente analisou no primeiro turno e está analisando no segundo, dentro do que o TSE estabelece. Eu espero, como cidadão que veio para votar, que o voto seja computado.

O senhor acha que a participação dos militares foi um avanço?
Sim, e ninguém acompanhou tanto o sistema eletrônico de votação como agora. Minha opinião pessoal: o maior ativo do sistema todo é a confiança. Então, a gente tem que fazer de tudo para que o sistema tenha confiança e nunca perca a confiança. E a gente nota que existe uma curiosidade, uma inquietação de grande parte da população em relação a esse sistema.

O fato de não ter sido identificada uma fraude até hoje não quer dizer que o sistema é seguro?
Não quer dizer que é seguro. Uma avaliação constante faz parte da melhoria do sistema.

Ao final do processo, se nada for identificado, o senhor vai estar mais confiante para dizer que o sistema é seguro?
Um especialista nunca vai dizer que é seguro ou não. Vai dizer que, dadas as condições do sistema e os testes feitos, é muito improvável algo acontecer. A segurança é sempre uma busca, não tem um fim. Ninguém fala que o sistema é impenetrável.

E no caso do relatório, ele vai dizer isso, que é improvável que algo aconteça, ou o contrário?
Não é objetivo atestar a segurança do sistema. O objetivo é atestar: isso foi feito? O que isso cobriu? O que pode ser melhorado nisso? E assim, o maior exemplo da minha tranquilidade é que eu vim aqui votar e as pessoas vão votar, e o resultado será aceito por quem tem que ser aceito, e por aí vai.

Ao final da conversa, o coronel emendou a declaração na qual diz que o sistema de votação brasileiro é um “orgulho”. Indagado sobre o motivo pelo qual o relatório com o resultado do trabalho feito pelos militares no primeiro turno não foi divulgado, Nogueira afirmou que houve uma “análise parcial” e que não existe um relatório, mas “observações” – o mesmo, segundo ele, será feito neste segundo turno.

O militar diz que a resolução do TSE relativa aos procedimentos de fiscalização e auditoria do sistema de votação não prevê a elaboração de relatórios. “A resolução diz que as observações devem constar em ata do TSE”, disse. Questionado se não foram encontradas evidências de irregularidades, já que os militares não registraram nenhuma observação na ata, ele respondeu: “A princípio, ali, no momento, não”.

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