Delegados escalados para fiscalizar urnas são da inteligência da PF
O chefe da diretoria de inteligência é próximo do ministro da Justiça, Anderson Torres, homem de confiança de Jair Bolsonaro
atualizado
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Os três delegados que compõem o grupo de trabalho criado pela Polícia Federal para fiscalizar e auditar o sistema eleitoral são lotados na poderosa Diretoria de Inteligência Policial (DIP), setor que cuida dos casos mais sensíveis em andamento na corporação e que tem conexão direta com o diretor-geral, Márcio Nunes, e com o ministro da Justiça, Anderson Torres.
A DIP é chefiada pelo delegado Alessandro Moretti. Ele assumiu o posto recentemente, junto com Nunes, e antes de ser nomeado chegou a trabalhar diretamente com Torres no governo do Distrito Federal.
Uma portaria publicada no boletim interno da PF nomeou os delegados Ricardo Ruiz Silva, Elias Milhomens de Araújo e Victor Barbabela Negraes para o grupo de trabalho. Os três são subordinados a Moretti na DIP.
De acordo com o texto, o grupo terá por atribuição verificar “todas as fases dos sistemas eleitorais”, desde o desenvolvimento e a lacração das urnas até os procedimentos de totalização dos votos.
A iniciativa da PF chamou atenção por vir na esteira dos seguidos questionamentos feitos pelo presidente Jair Bolsonaro para desacreditar as urnas eletrônicas e das polêmicas envolvendo a atuação do Exército em uma comissão criada pelo Tribunal Superior Eleitoral para garantir a transparência das eleições.
Sem apresentar provas, Bolsonaro põe em dúvida a integridade das urnas e do processo de apuração de votos do TSE.
Além dos delegados, sete peritos foram escolhidos para integrar ao grupo de trabalho da PF. Dois deles também são da DIP.
Há um detalhe que desperta curiosidade na decisão de deixar a tarefa a cargo da área de inteligência: dentro da própria PF, há dois setores que lidam mais diretamente com eleições e com apurações relacionadas a tecnologia e sistemas eletrônicos. Debaixo da Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado (Dicor), há a Divisão de Crimes Eleitorais e a Divisão de Crimes Cibernéticos. Mesmo assim, entre os escolhidos para o grupo de trabalho há apenas um perito que trabalha nesses setores.
Indagada sobre os motivos pelos quais a equipe é formada por policiais da inteligência, a Polícia Federal não se manifestou.
Já há algum tempo, dentro e fora da PF tem ganhado força a leitura de que a corporação vem perdendo independência cada vez mais e agindo em linha com os interesses do governo, em geral, e do presidente Jair Bolsonaro, em particular.