Comunista e pró-Palestina, jornalista de Brasília foi alvo da Abin
Ativista político, ele coordenou protestos contra Jair Bolsonaro na capital. A Polícia Federal investiga uso ilegal de programa espião
atualizado
Compartilhar notícia
A lista de alvos monitorados pela Abin com o programa espião israelense FirstMile é extensa. Entre as centenas de nomes, há políticos, jornalistas, funcionários públicos e um número considerável de cidadãos desconhecidos.
Uma parte deles nem a Polícia Federal, que investiga o uso clandestino do software, sabe ao certo por qual motivo estava sendo bisbilhotada.
Entre os alvos está Pedro César Batista, um consultor de comunicação de Brasília que ajudou a organizar protestos contra Jair Bolsonaro e, nas redes sociais, se apresenta como comunista convicto e defensor da causa palestina.
Jornalista de formação, Pedro Batista, de 60 anos, tem um programa sobre literatura na TV Comunitária de Brasília e é ligado a movimentos sociais.
No governo Dilma Rousseff, prestou consultoria para o Ministério do Desenvolvimento Agrário. Também em Brasília, trabalhou na Casa Civil do governo local e foi assessor de imprensa na Câmara Legislativa.
Organizador de protestos contra Bolsonaro
Durante o governo de Jair Bolsonaro, Batista esteve à frente da organização de protestos que pediam o afastamento do então presidente. Embora não seja filiado atualmente a partidos de esquerda, ele foi um dos fundadores do Comitê Popular Fora Bolsonaro na capital federal.
Não é o primeiro caso envolvendo o monitoramento, pelo serviço secreto do governo, de organizadores de manifestações contra Jair Bolsonaro. Há duas semanas, a coluna revelou que um dirigente do PDT em São Paulo que coordenou protestos na capital paulista também foi alvo da Abin.
“Combater o arbítrio virou ilegalidade”
Em seu perfil no Instagram, Pedro César Batista se define como “comunista, apaixonado pela vida, confiante na luta revolucionária dos povos” e tem publicado vários posts em defesa da Palestina e contra Israel.
Em uma publicação recente, ele divulgou uma carreata em Brasília em apoio a Gaza. “Toda solidariedade ao povo palestino diante do genocídio em curso em Gaza. Fora sionistas”, escreveu.
Militante no movimento estudantil na ditadura, Batista foi espionado, no passado, pelo temido Serviço Nacional de Informações, o SNI, que viria a dar origem à Abin após a democratização. Ele guarda até hoje as cópias dos relatórios, que obteve anos depois.
Agora, o jornalista soube que foi vigiado pela Abin por meio da coluna. E não demonstrou surpresa. Ele atribuiu o monitoramento à sua militância política.
“Dedicar-se à defesa da democracia, combater o arbítrio e desejar uma sociedade mais justa virou ilegalidade para alguns setores que dirigiram o país e para outros que ainda dirigem. Usam o Estado contra quem defende a vida e a dignidade humana e se insurge contra a corrupção e o arbítrio”, disse. “Eu acredito que a minha ação buscando contribuir contra o arbítrio tenha sido a causa de mais essa perseguição”, emendou.
O programa espião
Batista teve seus passos vigiados entre 2019 e 2022, período em que a Abin usou largamente o FirstMile, inclusive para monitoramentos clandestinos de interesse do grupo político do então presidente Jair Bolsonaro.
O programa permite rastrear a localização dos alvos a partir de seus telefones celulares.
Como a coluna também mostrou, além de José Vitor Imafuku, o dirigente do PDT paulista que ajudou a organizar manifestações pelo impeachment de Bolsonaro e auxiliou na campanha presidencial de Ciro Gomes, outro alvo da Abin foi o jornalista Afonso Mônaco, veterano repórter policial da TV Record.