Campanha de Bolsonaro se insurge contra o “ciúme de macho” no Planalto
Caciques do Centrão e marqueteiros tentam convencer o presidente a não ouvir só os radicais que o cercam
atualizado
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A equipe responsável pelas estratégias de marketing da campanha de Jair Bolsonaro trava uma queda de braço com os auxiliares mais próximos do presidente que estariam atrapalhando as tentativas de torná-lo um candidato mais “light” na busca de votos fora da bolha bolsonarista.
Em uma reunião com o próprio Bolsonaro na semana passada, o núcleo político da campanha levou as queixas dos marqueteiros ao próprio Bolsonaro e fez um alerta: se ele quiser ganhar votos para além dos que já tem, terá que submeter seus compromissos e sua rotina ao time de comunicação e parar de ouvir apenas os “radicais” que o cercam.
Os marqueteiros reclamam, especificamente, do comportamento do pequeno grupo que tem acesso direto ao presidente e vem impedindo que ele considere, no dia a dia, as estratégias desenhadas pelos profissionais contratados para a campanha.
Entre os chamados “radicais do gabinete” são apontadas figuras que integram o gabinete de Bolsonaro desde o início do governo — algumas delas são ex-militares que o conhecem há tempos.
A lista inclui Célio Faria Júnior, ex-chefe do gabinete pessoal do presidente que foi alçado a ministro da Secretaria de Governo, o ex-policial militar Pedro Cesar Sousa, subchefe de assuntos jurídicos do Planalto, e o ex-sargento Max Guilherme Moura, que era assessor especial de Bolsonaro até recentemente e deixou o palácio para se candidatar a deputado federal.
O famigerado encontro de Bolsonaro com diplomatas estrangeiros nesta segunda-feira para, sem provas, desacreditar o sistema eleitoral brasileiro é apontado como exemplo de iniciativa impulsionada pelos radicais que o marketing da campanha teria pedido para evitar se tivesse sido consultado.
“Eles se apoderam do Bolsonaro e não deixam a equipe de marketing opinar sobre a agenda e propor iniciativas que podem realmente render votos”, diz um representante do núcleo político. “É ciúme de macho. Esse grupo ideológico se acha dono do presidente”, emenda.
Na disputa por espaço com os “radicais do gabinete”, os marqueteiros contam com o apoio dos caciques políticos da campanha, como Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, partido do presidente, e Ciro Nogueira, chefão do Progressistas e ministro da Casa Civil.
Já prevendo o desgaste institucional e as críticas que viriam da opinião pública, com natural dano de imagem, Valdemar e Ciro chegaram a aconselhar Bolsonaro a desistir do encontro com os diplomatas. Foram solenemente ignorados.
A ofensiva para ao menos diminuir a influência desses auxiliares mais ideológicos sobre o comportamento do presidente prossegue. Nas últimas semanas, representantes dos núcleos político e de comunicação planejaram uma estratégia no mínimo curiosa.