Arde a orelha de Alexandre de Moraes: ministros do Judiciário criticam “excessos” da posse no TSE
Para esses magistrados, a cerimônia deveria ter sido mais sóbria em razão da crise institucional por que passa o país
atualizado
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Celebrada amplamente como um marco da queda de braço contra o discurso golpista de Jair Bolsonaro, a festa da posse do ministro Alexandre de Moraes na presidência do Tribunal Superior Eleitoral, na noite desta terça-feira, foi vista com ressalvas por setores importantes do Poder Judiciário.
Em conversas reservadas, ministros de tribunais superiores apontaram excessos na cerimônia, que segundo eles teria sido hiperdimensionada para afagar o ego de Moraes, visto por colegas como “excessivamente vaidoso”.
A cerimônia, que contou com a presença do próprio Bolsonaro, de seu principal adversário, o ex-presidente Lula, e reuniu dezenas de outros protagonistas da política nacional, foi tratada pelo cerimonial do tribunal como um grande acontecimento, à diferença dos eventos de posse de ministros que antecederam Moraes no comando do TSE.
Para além do roteiro da solenidade em si, em que foi destacada a trajetória de vida de Moraes, ministros torpedeiam a festa que ocorreu logo depois, no salão contíguo ao plenário do tribunal — foi servido um coquetel para 2 mil pessoas, em que dezenas de garçons circulavam com bandejas de canapés sofisticados, vinho e whisky.
“Faltou sobriedade”, disse, em uma dessas conversas, um conhecido magistrado — que, diga-se, não tem nenhum pendor para o bolsonarismo. Para ele, o momento delicado de crise institucional por que passa o país, com os sucessivos ataques de Bolsonaro ao Judiciário e ao processo eleitoral, pedia uma cerimônia menos festiva, ainda que com todos os recados necessários para o presidente da República.
Nas conversas entre magistrados na manhã desta quarta, dia seguinte à cerimônia, a orelha de Moraes ardeu. A coluna ouviu os relatos dos próprios participantes. Em tom de chiste, um deles comparou a festa ao Baile da Ilha Fiscal, a última festa da monarquia antes da Proclamação da República no Brasil, em 1889 — o magistrado se referia, obviamente, à possibilidade de, menos de dois meses após a festa, Bolsonaro não respeitar o resultado das eleições. “Espero que não seja”, disse um ministro de Corte superior.