Após perderem eleição, deputados multiplicam gastos de verba da Câmara por cinco
Aumento das despesas ocorreu depois que eles perderam as eleições. A suspeita é a de sempre: uso da verba para fazer campanha
atualizado
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Após a eleição, deputados federais não eleitos aumentaram os gastos com recursos da cota parlamentar, valor que cada gabinete tem para despesas como alimentação, combustível e passagem aérea. Os três deputados que mais gastaram no mês de novembro tiveram uma despesa pelo menos cinco vezes maior que a média dos outros meses do ano.
São eles: Expedito Netto, do PSD de Rondônia, Delegado Waldir, do União Brasil, e João Campos, do Republicanos, ambos de Goiás. Os maiores gastos dos três foram com divulgação de atividade parlamentar.
Delegado Waldir foi o que registrou o maior aumento: em novembro, gastou R$ 143,6 mil, valor nove vezes maior que a média mensal de 2022. O montante representa 48,9% de toda a despesa do seu gabinete com a cota neste ano. Do total gasto em novembro, R$ 142 mil foram relacionados a um contrato para divulgação de atividade parlamentar. A nota fiscal da empresa informa que o serviço prestado envolveu a criação de um site para “valorizar sua atuação parlamentar”.
Indagado, o deputado disse inicialmente que o dinheiro foi usado para criar um site: “Nós fizemos uma página, colocamos todas as emendas, todo o trabalho realizado durante esses oito anos de mandato. (…) Foi criado um site nesses últimos seis meses, vinculado ao gabinete, Não é a minha página particular. (…) Tem todas as minhas emendas, todos os meus oito anos de mandato resumidos neste site que foi criado”.
O único site localizado pela coluna, porém, foi usado pelo deputado na campanha a senador, da qual saiu derrotado. A página tem a biografia de Waldir e as emendas propostas por ele. Há, ainda, seu número de candidato a senador, notícias da campanha e a frase “É Goiás inteiro, com Waldir no Senado!”.
Confrontado, Waldir negou que tenha sido esse o site que criou usando verba de gabinete. E se complicou ao se corrigir em relação à resposta anterior e dizer que, na verdade, o site pago com os recursos da Câmara ainda será criado. “Esse é o que será substituído. O novo trabalho tem conclusão para o final de janeiro, quando termina meu mandato, mas deve estar ativo no começo de janeiro para testes e feedback”, disse.
O deputado goiano negou que a empresa contratada com verba da cota parlamentar para o serviço tenha trabalhado em favor de sua campanha ao Senado. “Na campanha eu não posso usar recursos do meu mandato.
Expedito Netto, por sua vez, gastou R$ 187,9 mil, dos quais R$ 169 mil foram para a divulgação de sua atividade parlamentar. A despesa do deputado em novembro foi quase sete vezes maior do que a média dos outros meses do ano.
O deputado tentou a reeleição, mas não teve sucesso. À coluna, ele disse que usou os recursos da cota que sobraram para fazer material gráfico divulgando tudo o que foi feito ao longo de seu mandato. “O que tinha de limite (de recursos) a gente usou para rodar de material”, afirmou. A regra da Câmara prevê que o saldo mensal não utilizado pode acumular e ser usado nos períodos seguintes.
O deputado João Campos gastou em novembro R$ 139 mil, quantia cinco vezes maior que sua média mensal de gastos em 2022. A maior despesa dele em novembro também foi com divulgação de atividade parlamentar. Foram quatro contratos, o maior deles com uma gráfica que produziu, segundo a nota fiscal, informativos de oito páginas sobre sua atuação como deputado. Nas últimas eleições, João Campos se candidatou a senador e não conseguiu se eleger.
Em nota, a assessoria de Campos afirmou que essa despesa de maior valor, R$ 82,4 mil, foi feita com a impressão de 70 mil informativos que “estão sendo distribuídos nas bases em razão da proximidade do encerramento desta legislatura”.