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Abin usou software para espionar diplomatas estrangeiros

Nas mãos da PF e do STF, lista com alvos da Abin tem oficiais estrangeiros e suspeitos de terrorismo. Setor de inteligência teme vazamento

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Hugo Barreto/Metrópoles
A sede da Abin, em Brasília
1 de 1 A sede da Abin, em Brasília - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

A ampla quebra do sigilo, pela Polícia Federal, das consultas feitas pela Abin por meio do software israelense FirstMile embute o risco de expor o Brasil a crises diplomáticas.

Fontes graduadas do serviço secreto brasileiro revelaram à coluna que, para além dos políticos e jornalistas xeretados pela “Abin paralela”, há uma série de outros alvos cujos passos foram monitorados por meio da ferramenta que, se expostos publicamente, podem submeter o Brasil a constrangimentos e embaraços políticos com governos estrangeiros.

Esses outros alvos estão relacionados ao trabalho regular da Abin, que tem por atribuição monitorar ações de espionagem dentro do território brasileiro e, ainda, suspeitos de ligação com o terrorismo internacional.

Há, nessa lista, diplomatas estrangeiros credenciados oficialmente para atuar no Brasil que, por diferentes motivos, viraram alvo nos últimos anos.

Russos vigiados

É o caso, por exemplo, de funcionários da Embaixada da Rússia que passaram a ser monitorados pela suspeita de que estavam dando suporte a Sergey Cherkasov, espião a serviço do Kremlin que, depois de ser pilhado por serviços secretos estrangeiros usando identidade brasileira falsa, foi preso e condenado por aqui.

Há outras situações igualmente sensíveis envolvendo diplomatas de países com os quais o Brasil mantém boas relações.

O problema, apontam as fontes da Abin, é que se os governos aos quais esses diplomatas servem souberem que seus funcionários viraram alvo da inteligência brasileira, é grande a chance de haver turbulências diplomáticas.

Alvo ligado ao Hezbollah

Em outra frente, segundo essas mesmas fontes, há ainda um “risco de confiança” relacionado a informações delicadas repassadas à Abin por serviços secretos estrangeiros como parte de trabalhos de cooperação para monitorar suspeitos de ligação com terrorismo.

Um dos alvos vigiados com a ajuda do FirstMile, e que foi objeto de centenas de consultas feitas no período, é um investigado supostamente ligado ao grupo radical libanês Hezbollah que circulou por um longo período pelo Brasil.

Risco de crise

“Se os serviços estrangeiros descobrirem que as informações compartilhadas por eles com a Abin não são devidamente protegidas, haverá o risco de eles perderem a confiança em nós”, disse, sob reserva, um oficial de alto escalão da agência.

A Abin já manifestou a preocupação dentro do governo e cogita procurar o ministro Alexandre de Moraes nas próximas semanas para pedir que sejam redobrados os cuidados com os dados obtidos pela PF a partir da quebra de sigilo.

A mecânica do FirstMile

O software israelense permite identificar os passos dos alvos a partir de seus números de telefone celular.

Ao todo, a Abin fez mais de 33 mil consultas em um período de três anos. Uma parte significativa dessas consultas está relacionada à arapongagem feita pelos suspeitos de integrar a “Abin paralela”. Outra, porém, está ligada às atividades oficiais da agência.

Reservadamente, investigadores da PF com acesso ao caso afirmam que milhares de registros de consultas foram apagados antes de a corporação ter acesso aos dados.

Quebra foi autorizada por Moraes

O sigilo dos monitoramentos feitos por meio do FirstMile foi quebrado pela Polícia Federal com autorização do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

A decisão é parte da investigação deflagrada ainda no ano passado que, agora, mira a existência de uma rede de espionagem ilegal montada durante o governo de Jair Bolsonaro.

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