A caça aos bolsonaristas escondidos em cargos de confiança no governo mesmo após a posse de Lula tem gerado histórias curiosas.

Uma das mais recentes envolve, veja só, o cuidador dos cachorros da família Bolsonaro, o ex-soldado do Exército Lucas Gabriel Rodrigues da Silva.

Mantido pela atual administração no time de funcionários das residências oficiais, ele continuou trabalhando normalmente até a descoberta de que, após o expediente no Palácio da Alvorada, já sob os auspícios de Lula e Janja, vinha prestando serviços para ninguém menos que Michelle Bolsonaro.

Acabou demitido sumariamente.

Até dezembro de 2022, Lucas Gabriel era o responsável por dar assistência à meia dúzia de cães de Michelle no canil do Alvorada.

Para isso, tinha um cargo comissionado. Como assistente técnico da Coordenação-Geral de Administração das Residências Oficiais, repartição subordinada à Casa Civil da Presidência, ganhava por mês pouco mais de R$ 2.700 brutos.

Lucas trabalhava na segurança do palácio quando recebeu a incumbência, ainda no início do governo passado, de cuidar dos cachorros do então clã presidencial. Um curso de adestramento de cães que fizera na Polícia do Exército o credenciou para a função.

Primeiro, ele desempenhou a tarefa de cuidar dos cachorros de Michelle como militar. No ano passado, seu tempo de soldado temporário do Exército expirou e, por estar ambientado à rotina do palácio e por ter conquistado a confiança da primeira-dama, ganhou a nomeação para o cargo civil.

A mudança de status funcional o ajudou a permanecer no posto a partir do início do novo governo. Como já não era mais do Exército, ele acabou ficando de fora da “faxina” na qual Lula cortou dezenas de militares escalados na gestão Bolsonaro para trabalhar nos palácios presidenciais.

Sem chamar atenção, apesar de ser um bolsonarista de carteirinha, daqueles que repetem os bordões típicos da turma que até recentemente estava acampada às portas de quartéis, Lucas continuou cumprindo expediente no Alvorada.

Já no início deste mês, veio a descoberta: ele trabalhava até meio-dia no palácio e, à tarde, se dedicava aos cachorros de Michelle.

A exoneração do ex-soldado, que nas redes sociais se apresenta como atirador, é seguido por Michelle Bolsonaro e se define como “patriota”, foi publicada no último dia 13 no Diário Oficial.

À coluna, Lucas admitiu que seguia prestando serviços para a ex-primeira-dama. “Eu estava ajudando ela (Michelle) a montar um canil para os cachorros, mas era como voluntário.”

Lucas conta que foi avisado da exoneração por um colega, antes até da publicação do ato oficial. Depois, diz, procurou a Presidência em busca de explicações, mas não obteve resposta.

Ele afirma que Michelle, avisada da demissão, prometeu ajudá-lo a conseguir um novo emprego fixo — promessa que até a tarde desta sexta-feira não havia sido cumprida.