Eu conheci Zezé pelas novelas. Eu era um menino sonhador, que via poucos dos meus na televisão. Logo descobri dona Chica Xavier, Grande Otelo, Neusa Borges e Zezé Motta. Ficava fascinado com tanta magia em cena. Comecei a fazer teatro em 1992, com 14 anos. Não imaginava, nem nos meus melhores sonhos, que, 30 anos depois, contracenaria com Zezé Motta na série Arcanjo Renegado. Mas voltemos ao início da carreira.

Zezé Motta, inquieta com poucos artistas negros na televisão e no cinema, cria o Cidan, um banco de dados com atores e atrizes negros em atividade no Brasil. Eu fui à casa dela me cadastrar. Você chegava, preenchia uma ficha, passava por maquiagem e uma sessão fotográfica com os melhores profissionais da época. Tudo gratuito. Eu meio tímido, pois estava na casa da deusa que tanto admirava. Foi tudo incrível, mas o meu forte registro sou eu sentado no sofá branco e imenso, em um apartamento na Lagoa, tomando café com a dona. Ela me pergunta a minha idade e me diz: “Não será fácil, mas também não será impossível”.

Zezé Motta – O Brasil tem motivos para celebrar

Celebrar os 80 anos de Zezé Motta é um convite à reflexão sobre a passagem do tempo e o impacto duradouro da arte na vida humana. Zezé, em sua essência, representa a beleza da transformação, a resiliência da alma e a profundidade da experiência humana. Sua trajetória nos lembra de que a arte não é apenas um reflexo da vida, mas um meio poderoso de transcendência, capaz de capturar e eternizar momentos, emoções e ideias. Atingir oito décadas de vida é testemunhar inúmeras mudanças: sociais, culturais, políticas e pessoais. Zezé Motta, com sua presença marcante, nos mostra que a verdadeira riqueza reside na capacidade de se reinventar, de se adaptar e de continuar a criar, mesmo diante das adversidades.

Em um mundo que muitas vezes valoriza a juventude e a novidade, Zezé Motta nos oferece uma perspectiva diferente: a da sabedoria acumulada, da experiência profunda e da beleza que só o tempo pode proporcionar. Seus 80 anos são um farol que ilumina o caminho para aqueles que ainda estão no início de suas jornadas, mostrando que a verdadeira grandeza vem da alma, da autenticidade e do compromisso inabalável com aquilo que se ama.

Nossa Zezé é um verdadeiro farol para atores e atrizes negros, um símbolo de resistência e excelência que ilumina o caminho para as gerações seguintes. Sua carreira brilhante, marcada por interpretações poderosas e uma presença magnética, não apenas desbravou novos espaços na indústria cultural, mas também quebrou barreiras históricas de representatividade. Ela se tornou um ícone, uma mentora e uma inspiração, demonstrando que é possível alcançar o estrelato sem perder a identidade e a essência. Sua trajetória é uma regência, guiando novos artistas a acreditar em seu potencial e a lutar por seus espaços com dignidade e orgulho.

Trinta anos depois, eu posso afirmar que melhorou o cenário artístico para atores e atrizes negros — sem fazer falsa simetria, ainda aquém, considerando os 56% da população que se autodeclara negra, mas sigamos. E grande parte desta caminhada vitoriosa é por conta da existência da Zezé Motta.

Realmente não foi impossível, madrinha. Você nem sabe que sou seu afilhado em arte. Mas aquele menino se transformou em diretor de teatro e cinema e busca seguir o seu olhar para o coletivo. Vida longa, Zezé Motta!